Marcelo Hernandez/Getty Images
Em meio à cinzenta manhã que houve na região central do Chile um importante grupo de organizações de esquerda marchava em direção ao principal cemitério de Santiago em razão dos 49 anos do golpe militar de 1973 e o presidente Gabriel Boric realizava uma coletiva de imprensa no Pátio de Los Naranjos para dar sua visão dos eventos que ocorreram durante aquele fatídico 11 de setembro.
Boric não escondeu suas simpatias pelo projeto da Unidade Popular e de Allende, a quem reivindicou e parafraseou em muitos momentos, além de valorizar a convicção de Allende na perspectiva de que as transformações se realizam através das vias institucionais.
Dessa forma, o presidente reiterou mais uma vez o compromisso do governo com uma nova constituição. Boric salientou que os resultados de 4 de setembro “não podem ser apropriados por ninguém em particular. Não cometam o erro de acreditar que o fato de que o texto da Convenção ter sido rejeitado significa uma rejeição das mudanças e transformações no Chile. Não é bem assim. Temos que trabalhar juntos”, desta forma, fazendo vários chamados à oposição para trabalhar em conjunto.
Mas Boric não é ingênuo e sabe perfeitamente quem está convocando para a unidade. Na oposição hoje estão os mesmos partidos que foram cúmplices da ditadura que ele criticava momentos antes, são os mesmos atores que até recentemente defendiam e/ou defendem Pinochet e a impunidade que a Concertación lhes garantia.
Este giro para uma “unidade” do governo já deu um primeiro passo importante ao integrar no governo Carolina Toha e Ana Lya Uriarte, duas figuras icônicas dos governos concertacionistas e que certamente não serão as únicas.
Toha, que foi prefeita de Santiago até 2016, durante sua gestão reprimiu os estudantes mobilizados em escolas secundárias como o Instituto Nacional e o Colégio de Aplicação, fatos que foram criticados pelo próprio Boric quando era parlamentar. E Uriarte, braço direito de Bachelet e que teve que enfrentar e "limpar" os casos de corrupção e o caso Caval enquanto chefiava o segundo andar, junto com o repressor Mahmud Aleuy, formaram a equipe que terminou com o segundo mandato de Bachelet.
Para concluir, Boric assinou um compromisso com organizações de direitos humanos para manter a busca dos presos e desaparecidos e a verdade, justiça, reparação e não repetição de eventos como os vivenciados durante os 17 anos da ditadura militar.
|