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Eleições | 2º turno Marília vs Raquel: qual é a saída para os trabalhadores e o povo pobre em Pernambuco?

O segundo turno das eleições para governador de Pernambuco entre Marília Arraes (SOLIDARIEDADE) e Raquel Lyra (PSDB) é atravessado pela crise do PSB no estado e pelo cenário político nacional, marcado pela disputa entre o fortalecimento do bolsonarismo e o projeto conciliador da frente ampla da chapa Lula-Alckmin, que se enfrentam também no segundo turno presidencial.

sábado 22 de outubro de 2022 | 14:42

Foto: Alexandre Aroeira/FolhaPE

Marília, que terminou o primeiro turno à frente dos demais candidatos, perdeu a dianteira eleitoral para Raquel no segundo turno. Mesmo com o vínculo criado por Marília com a figura de Lula, que conta com cerca de 68% das intenções de voto, a última pesquisa eleitoral, realizada pela RealTime Big Data indica Raquel à frente com 56% dos votos e Marília com 44%. A primeira conclusão é que muitos que vão votar em Lula para a presidência pretendem votar em Raquel para governadora.

O resultado eleitoral do primeiro turno em Pernambuco expressa a evidente crise do PSB e um rechaço de massas a esse projeto político que após 16 anos governando o estado é responsável direto pelas terríveis condições sociais e índices sócio econômico, liderando os rankings de desemprego, insegurança alimentar, trabalho informal, concentração de terras, desigualdade econômica, déficit de abastecimento de água e coleta de esgoto, sem esquecer da tragédia social ocasionada pelas chuvas e a precariedade de moradia e da estrutura urbana que levou a vida de mais de cem pessoas e deixou milhares de desabrigados. Não há dúvidas que a trágica situação do estado Pernambuco despertou o rechaço dos trabalhadores e da população pobre contra Danilo Cabral (PSB) que seria a sucessão do atual governo de Paulo Câmara (PSB).

A crise do PSB é também expressão da crise do projeto político da oligarquia Campos, sustentado pela burguesia comercial urbana da Região Metropolitana do Recife, pelos latifundiários e usineiros escravocratas tradicionais e o setor industrial herdeiro de um projeto desenvolvimentista em crise. Marílias Arraes aparentemente ganhou a localização eleitoral do PSB em parte importante destas oligarquias e burguesias regionais, especialmente na região agreste intermédia entre Caruaru e Petrolina e no Polo de Suape na região do Cabo de Santo Agostinho.

Por outro lado, a crise do projeto “desenvolvimentista” do PSB abriu os flancos para outros projetos que vem ganhando projeção regional com o avanço do agronegócio e as novas modalidades de precarização do trabalho, intermediado pelas tecnologias, como desenvolvemos aqui. É nesse marco que os polos regionais em ascensão ganharam força eleitoral, através dos nomes de Raquel de Caruaru e Miguel Coelho (UNIÃO BRASIL) de Petrolina.

A eleição estadual também marcada pelo fortalecimento do bolsonarismo, e o deslocamento do espectro político à direita, fez com que os votos da direita se dividissem entre Raquel, representando uma oligarquia tradicional do Agreste, a família Lyra, Miguel de outra oligarquia tradicional do Sertão, a família Coelho, ambos antigos quadros do PSB. Além deles, tem Anderson (PL), representando a extrema direita bolsonarista. Por outro lado, no segundo turno vemos o alinhamento do bolsonarismo apoiando e transferindo seus votos para Raquel Lyra, mesma que essa fale hipocritamente em uma suposta “neutralidade” perante as eleições presidenciais. Enquanto por cima instrumentaliza o ódio contra o PSB e a Paulo Câmara como alvo de sua campanha, abraça por baixo o bolsonarismo mais asqueroso e a extrema direita. Faz isso porque tenta capitalizar os votos da base petista no estado, onde Lula venceu com ampla vantagem de Bolsonaro, mas ao mesmo tempo sem se comprometer diretamente com Bolsonaro que tem um alto índice de rejeição em Pernambuco. Por isso tem o apoio aberto de Miguel Coelho que no 2º turno apoia Bolsonaro e apoio indireto do bolsonarista Anderson Ferreira, antigo aliado de Raquel.

Raquel ganha fama e surpreendeu sendo, ainda que com pouca diferença, a mais votada na região metropolitana do Recife, devido a construção de uma imagem de “boa gestora”. Porém, muito pelo contrário, o projeto político de Raquel, sucessora da oligarquia dos Lyras, é de ataques profundos a classe trabalhadora, se apoiando no bolsonarismo, ex- delegada da polícia civil, é defensora do aumento da violência contra a população pobre e negra, é entusiasta da precarização do trabalho e da destruição dos direitos trabalhistas como no polo de confecções do Agreste que envolve Caruaru. Caruaru também tem a passagem de ônibus mais cara de Pernambuco, além de ter o maior número de contratos precários na educação. A “boa gestão” de Raquel Lyra significa na realidade agradar a agenda dos empresários.

Já Marília Arraes recebe o infortúnio de ter de aceitar o apoio do PSB de quem era uma “grande inimiga” até pouco tempo atrás. Embora esse apoio traga os insuficientes votos de Danilo Cabral para superar Raquel, trás também a pecha de estar alinhada com a oligarquia até então hegemônica em Pernambuco que arruinou a classe trabalhadora durante 16 anos. Por conta disso, Marília faz um jogo duplo, por mais que precise do apoio do PSB que pode auxiliá-la com sua máquina eleitoral e aceite de nariz torcido, segue criticando o governo do Paulo Câmara para tentar se afastar do grande rechaço de massas que o PSB tem no estado.

Marília segue a estratégia do primeiro turno de se associar, agora oficialmente, à imagem de Lula, sem cometer o erro novamente de fugir dos debates, que lhe custou muito caro, talvez até mesmo a liderança no segundo turno. Ao mesmo tempo, ao tentar colar a figura de Raquel à Bolsonaro o TRE determinou a perda de 5 minutos no horário eleitoral de Marília, revelando o papel reacionário da justiça eleitoral a serviço de fortalecer a direita.

Porém, o desavergonhado oportunismo carreirista de Marília Arraes a levou a sair do PT para se candidatar ao Solidariedade, partido que apoiou o golpe institucional de 2016 (que Marília dizia ser contra, utilizando essa justificativa para ter saído do PSB) fundado pelo mafioso sindical Paulinho da Força. A verdade é que o Solidariedade não é tão diferente do PSDB de Raquel Lyra, ambos os partidos possuem fortes princípios conservadores, neoliberais, privatistas e anti operários.

Marília Arraes tenta se cobrir com a figura de Lula e o com alinhamento da frente ampla de conciliação petista, mas não consegue esconder sua trajetória ligada à oligarquia tradicional dos Campos e sua participação na responsabilidade da situação trágica social e econômica do estado, ela já ocupou secretarias em governos do PSB. E de fato, Marília Arraes também não é nenhuma alternativa para a classe trabalhadora, apesar do oportunismo eleitoreiro da esquerda Pernambucana, apoiando e chamando voto, ainda que criticamente, para esta candidata burguesa cheia de alianças com as oligarquias regionais. O chamado de voto crítico do PCB de Jones Manoel e do PSOL de João Arnaldo em Marília Arraes só demonstra a adaptação oportunista eleitoral e a completa falta de independência de classe desses partidos.

Para enfrentar Raquel Lyra e a extrema direita desde Pernambuco, não encontraremos nenhuma força em Marília Arraes. Muito pelo contrário, será inimiga da classe trabalhadora. A estratégia de conciliação com a direita do PT só mostrou que vem abrindo espaço para o crescimento do bolsonarismo. Ter qualquer ilusão na direitista envergonhada Marília Arraes em uma oposição a direitista assumida de Raquel Lyra significa abandonar qualquer independência de classe e enfraquecer a luta dos trabalhadores. Independente de quem assumir o governo de Pernambuco, os problemas estruturais do estado não apenas se manterão, mas tendem a se agravar com a crise econômica que segue e com a guerra na Ucrânia.

A única alternativa para os trabalhadores em Pernambuco é a organização política pela base, para enfrentar a extrema direita e a direita nas ruas, através dos métodos da luta de classes. Para enfrentar as oligarquias, os patrões e os empresários em Pernambuco precisamos lutar pela imediata anulação da reforma trabalhista e da previdência e contra os ataques em curso, mas também é preciso levantar a bandeira da reforma agrária radical, expropriado a terra dos latifundiários, redução da jornada de trabalho sem redução de salário, divisão das horas de trabalho entre empregados e desempregados, aumento salarial conforme a inflação e direitos trabalhistas para todos os trabalhadores informais. Além é claro, de uma reforma urbana radical para acabar com os problemas das enchentes e deslizamentos. Precisamos defender também o fim do Pacto pela Vida que só fez aumentar a violência contra a população pobre e negra, na perspectiva de acabar com essa instituição racista e reacionária que serve para defender os interesses das oligarquias e patrões. É nessa perespectiva que nós do Esquerda Diário e Movimento de Trabalhadores defendemos o voto nulo no 2º turno das elições para o governo de Pernambuco.




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