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USP | 3 refeições no bandejão todos os dias: é preciso lutar por mais contratações de funcionários

O projeto privatista da USP ataca cada vez mais as condições dos estudantes e trabalhadores, sobretudo os mais pobres e negros, com o trabalho precário, terceirização e sucateamento da permanência estudantil, como não deixando que es estudantes possam ter três refeições nos finais de semana e feriado. Neste artigo fazemos um debate com o abaixo-assinado do AMORCRUSP, que não coloca a necessidade de mais contratações, o que sobrecarregaria mais ainda os trabalhadores. A luta por permanência e por três refeições deve ser aliada e junto com as demandas dos trabalhadores!

quarta-feira 8 de fevereiro de 2023 | Edição do dia

A falta de oferta de três refeições durante os finais de semana e feriados na USP é mais um dos problemas de permanência estudantil, gerado pela mesma política privatista que ataca os trabalhadores da universidade, especialmente aqueles que levam nas costas a operação dos bandejões ao longo de toda semana com jornadas extenuantes de trabalho e com o número de funcionários extremamente reduzido. Para nós, é preciso unificar nossas demandas com as desses trabalhadores a fim de conquistar mais contratações e decidir como garantir a plena alimentação aos estudantes. Justamente por isso nos contrapomos ao recente abaixo-assinado que exige a ampliação da carga de trabalho aos funcionários do bandejão central sem exigir contratações, impulsionado pela AvanteCrusp, Liberdade e Luta, Disparada e Nossa Voz.

Diariamente poucas dezenas de trabalhadores são responsáveis por alimentar milhares de estudantes todos os dias nos restaurantes, enquanto são atacados pela reitoria e pelo governo com a falta de contratação desde 2014 e com as reformas econômicas do país. Basta ver o rosto dos funcionários, muitos deles terceirizados, que a maior universidade do país sustenta uma situação de super exploração cada vez mais profunda para seguir operando com o custo cada vez mais baixo. Nesse sentido, a mesma mão que abandona os estudantes sem comida aos fins de semana e sem moradia adequada é a mesma que deixa os terceirizados sem direitos, com baixos salários e os submetendo à pauperização da vida.

Ainda sobre o abaixo-assinado, o documento afirma que haveriam as condições necessárias para que fossem oferecidas as três refeições aos finais de semana por terem sido transferidos funcionários efetivos do recém-terceirizado bandejão da física, no entanto, além dele não problematizar o que significa a terceirização na universidade, ignora completamente que o número de funcionários segue insuficiente para a demanda de trabalho. Exigir à reitoria que os trabalhadores trabalhem mais, sem sequer dialogar com aqueles que produzem a alimentação dos estudantes, divide uma luta que unificada seria muito mais forte e eficiente na conquista de permanência estudantil.

É preciso aliar a demanda por mais alimentação à pauta por mais contratações, demanda essa levantada fortemente ao longo dos últimos anos pelos funcionários sobrecarregados pela política privatista. Sem essa unidade, a própria proposta de ampliação de oferta de refeições seria completamente comprometida, à medida que os restaurantes seguirão não funcionando adequadamente.

As enormes filas, a falta de refeições, assim como as lesões físicas e psicológicas dos trabalhadores que lidam com o assédio da chefia, denunciam a negligência do governo e da reitoria na USP. Ambos sustentaram ao longo dos últimos anos os parâmetros de sustentabilidade, marcados pela política de demissão voluntária, não reposição no quadro de funcionários e a ampliação da terceirização. Inclusive, se materializada a ampliação do funcionamento do bandejão sem contratação, os terceirizados serão os mais afetados, pois precisarão trabalhar ainda mais e seguir sem seus direitos.

Assim como a reitoria, a PRIP (pró-reitoria de inclusão e pertencimento) tem demonstrado a cada dia que passa que não está aqui para resolver as demandas dos estudantes, pelo contrário, como vemos no CRUSP com o controle de acesso tendo sido imposto sem nenhum diálogo com os moradores, alguns que estão sofrendo perseguição. Esse mesmo órgão nega a considerar a pauta dos trabalhadores que também sofrem cotidianamente com o racismo e a opressão dentro e fora da universidade.

Nesse sentido, nós, da Faísca, acreditamos que a luta por permanência estudantil está diretamente ligada à luta por direitos e condições dignas de trabalho na universidade. É intolerável que alunos tenham negado o direito à plena alimentação e à moradia e que também continue existindo trabalho semi-escravo na USP. Justamente por isso defendemos a unificação das lutas entre estudantes e trabalhadores para ampliar as refeições do bandejão, conquistar novas contratações, reincorporar os bandejões e unidades privatizadas à universidade e a efetivação dos terceirizados sem necessidade de concurso público. Essa união, além de batalhar por todas essas demandas, cumpre o papel de romper com a separação que a reitoria tenta impor entre os setores da universidade, fortalecendo a luta contra Tarcísio e a reitoria e por uma universidade que esteja a serviço da classe trabalhadora e do povo pobre. Uma perspectiva que se choca até o final com o projeto elitista da burocracia acadêmica da universidade que se utiliza do desmonte das unidades, sobretudo pela falta de funcionários, para avançar no desvinculamento das mesmas à universidade e entregando à iniciativa privada, por via de fundações privadas que essa mesma burocracia administra.

Veja Também: A burocracia universitária-empresarial que lucra com as OSS e Convênios nos Hospitais Universitários

A ampliação do número de refeições do bandejão implica diretamente em mais horas de trabalho para os que já garantem a operação dos restaurantes em condições extremamente precárias de trabalho. Se é necessário mais trabalho, é preciso também que sejam garantidas contratações com todos os direitos para que mais nenhum funcionário do bandejão seja sobrecarregado. Basta dos ataques da reitoria! o desmonte do bandejão se expressa em outras unidades como no Hospital Universitário e nas unidades de ensino com a falta de professores e de infraestrutura para aulas.

O abaixo-assinado impulsionado pelo Avante Crusp, pela Liberdade e Luta, pela Disparada e pela Nossa Voz, esses dois últimos ligados ao PT está recolhendo assinaturas para uma demanda que na prática significa mais sobrecarga de trabalho para os trabalhadores e trabalhadoras do bandejão, em sua maioria negros e negras. Para piorar, o mesmo documento se refere aos trabalhadores da USP de "colaboradores", termo atribuído pela própria reitoria para mascarar as terríveis condições de trabalho que sustentam a universidade e que fazem o bandejão operar com cerca de 60% apenas de sua força de trabalho original

Na Unicamp vimos recentemente a brava luta de dezenas de mulheres terceirizadas por condições dignas de trabalho.

Não exigir mais contratações e a efetivação dos terceirizados sem concurso, ao passo que separa os setores da universidade, vai na contramão da conquista pelas três refeições e por permanência, uma vez que os restaurantes seguirão operando inadequadamente por conta da superexploração, numa categoria majoritariamente composta por mulheres de idade avançada e que também relatam a insuficiência de funcionários para cumprir com a demanda já imposta atualmente.

Frente à falta de 3 refeições todos os dias, as condições precárias do CRUSP e os ataques aos trabalhadores na universidade, é papel do DCE (dirigido pela Correnteza, UJC/MUP, Ecoar e Juntos!) organizar e construir a luta dos estudantes, a partir de espaços de auto-organização, assim como, por se posicionar diante deste debate frente a um problema que pode tornar-se cada vez mais grave.

Exigimos contratação imediata de funcionários e professores via USP e a efetivação de todos os trabalhadores terceirizados sem a necessidade de concurso público. Essas são as demandas defendidas diariamente pela Faísca Revolucionária e o Movimento Nossa Classe.




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