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Imperialismo | 4 crimes coloniais da Coroa Britânica no reinado de Elizabeth II

A Globo diz que Elizabeth II era uma “ícone anticolonial”, enquanto a mídia internacional e a Netflix, com séries como The Crown, romantizam a vida da Coroa. Vejamos alguns dos crimes históricos aos direitos humanos cometidos pelo imperialismo britânico no reinado da antiga rainha.

Rosa Linh Estudante de Relações Internacionais na UnB

sábado 10 de setembro de 2022 | Edição do dia

1 - Tortura e assassinato dos lutadores pela independência do Quênia

Após a Segunda Guerra Mundial, o continente africano insurgiu-se em inúmeras lutas anti-coloniais e de libertação. Uma dessas emblemáticas lutas foi a Revolta de Mau Mau (1952) no Quênia, uma guerrilha deflagrada por uma etnia oprimida, os kikuyus. Elizabeth II havia recém tomado posse da Coroa, no mesmo ano.

O que se viu foi uma repressão sem tamanho, com algumas fontes afirmando que as forças militares do Império britânico deixaram cerca de 100 mil mortos entre os povos quenianos e 320 mil prisioneiros, tendo vários sido executados nos campos de concentração e muitos torturados. Exemplo dessa barbárie colonial foi o caso de Muthoni Mathenge, uma das lutadoras pela independência do Quênia torturada a golpes de machado.

2- O Domingo Sangrento na Irlanda do Norte

No ano e 1972, em Derry na Irlanda do Norte, milhares de manifestantes tomaram as ruas contra as privações aos direitos humanos promovido pela governo do Reino Unido, como o banimento de manifestações de rua e pela independência do Ulster, como é chamado o país. Para além do que ficou marcado como disputas religiosas, as reivindicações dos trabalhadores e da juventude se moviam na onda da luta de classes aberta no ano de 1968, questionando profundamente o imperialismo britânico, a penúria das condições de vida e o direito à auto-determinação.

Mas a resposta do exército britânico foi contundente: um massacre. Os soldados atiraram a queima roupa contra 26 civis desarmados, matando 14 deles, sendo que outras dezenas saíram feridas. A truculência e o nível da repressão inflamou ainda mais os movimentos nacionalistas. Até hoje, a Irlanda do Norte é parte do Reino Unido; junto do País de Gales e Escócia, tem sua independência tolhida pela Inglaterra. A canção “Sunday, Bloody Sunday” do U2 foi feita em homenagem aos mortos do conflito.

3 - Golpe de Estado em Gana

Gana, na costa oeste da África Subsaariana, foi o primeiro país do continente a conquistar sua independência política do jugo colonial em março de 1957. Era parte fundamental da “costa do ouro britânica”, como era chamada a região.

Não contente, o imperialismo britânico financiou um golpe militar contra o governo nacionalista de Kwame Nkrumah. Desde então, o país passou por idas e vindas de regimes militares, sendo que, desde 1993, Gana é uma república burguesa presidencial subordinada à Commonwealth. Ainda que formalmente independente, a subordinação econômica e política ao imperialismo britânico é uma constante, explorando e oprimindo os trabalhadores e as massas populares. Elizabeth nunca disse nada sobre as milhões de toneladas de ouro roubadas de Gana; esse ainda é o grande pilar da economia do país, mantendo uma matriz econômica subordinada e enriquecendo os bolsos de meia-dúzia de parasitas capitalistas, com apoio das distintas alas de sua burguesia “nacional”. A política de conciliação com a Coroa e a disputa da autonomia nos marcos do capitalismo de Kwame Nkrumah se provou impotente frente à sanha colonialista.

Nkrumah reunido com o primer ministro da Índia e aa Rainha Elizabeth II (1960)

4 - A Guerra das Malvinas

As ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul são três arquipélagos situados na costa argentina sob domínio britânico desde 1883. A região é estratégica no cruzamento marítimo da porção austral do Oceano Atlântico, além de importantes reservas de petróleo.

No começo da década de 80, o desgaste do governo militar argentino diante da crise econômica internacional, desemprego e miséria, a classe operária começava a enfrentar a ditadura de forma mais aberta. Nesse contexto, em meados de 1982 os militares empreenderam o reclamo dessas ilhas, se apoiando em uma demanda anticolonial para reestabelecer a legitimidade do regime genocida. Quando iniciada a guerra, o imperialismo promoveu um verdadeiro massacre, com milhares de argentinos mortos.

Se tratava de uma guerra que, apesar de empreendida também pela Junta Militar ultrarreacionária argentina, colocava em jogo a defesa nacional de um país semicolonial frente à agressão de uma potência imperialista. A derrota da Inglaterra poderia dar um impulso renovado ao movimento operário inglês derrotar a reação burguesa, que se consolidava com a ascensão da neoliberal Margaret Thatcher em 1983, da mesma forma que poderia impulsionar a queda revolucionária da ditadura argentina. Era preciso impor uma política independente dos trabalhadores para derrotar verdadeiramente os imperialistas. Elizabeth deu aval explícito, anos depois, à essa empreitada imperialista, elogiando a bravura dos soldados britânicos e a luta pela “liberdade” junto de Ronald Reagan. Nada mais cínico.

Margareth Thatcher tira foto com soldados ingleses

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Esses são apenas alguns exemplos. Elizabeth II, assim como o conjunto da Coroa, representam o que há de mais racista e contrarrevolucionário do imperialismo britânico. São os herdeiros do saque, da pilhagem e escravidão de séculos, da colonização, dos golpes de Estado e do assassinato de milhões de trabalhadoras e trabalhadores na África, Ásia, América Latina e Oceania. No dia 5 de setembro, assumiu a nova primeira-ministra Liz Truss, em um país imerso nas contradições sociais e econômicas da guerra na Ucrânia, com a queda de Boris Johnson, emergindo inúmeras greves operárias que não eram vistas à décadas, fazendo parar 40 mil ferroviários, e os portuários do maior porto do Reino Unido, entre outros.

Como dizia William Shakespeare: "Cavalheiros, a vida é muito curta...Se vivemos, vivemos para andar sobre as cabeças dos reis". A rainha morreu, mas sem pagar por seus crimes diante das massas oprimidas do mundo. Uma instituição medieval e arcaica continua. As greves operárias do Reino Unido, os levantes no Sri Lanka, as greves e revoltas camponesas na Índia, as revoltas na África do Sul e no Caribe mostram o caminho. Para varrer a espoliação colonial e capitalista para a lata do lixo da história é preciso a unidade das e dos trabalhadores britânicos, irlandeses, africanos, asiáticos e de todos os povos oprimidos do mundo na luta de classes contra o imperialismo parasita.

Leia mais: Rainha Elizabeth II morreu: a monarquia, uma instituição medieval, permanece




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