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Violência Policial | 5 vezes em que a polícia mostrou que é contra a classe trabalhadora

As ações golpistas de ontem mostraram tamanha conivência dos órgãos da polícia que nem a mídia burguesa foi capaz de esconder tais ações, em contraponto é tão escandalosa a diferença de atitude desses mesmos órgãos com os movimentos de organização da classe trabalhadora que resolvemos elencar aqui as cinco das incontáveis situações escandalosas de ações policiais que mostram exatamente a quem essa instituição serve:

Pedro GrongaEstudante de História da UFMG

segunda-feira 9 de janeiro de 2023 | Edição do dia

Pinheirinho:

O Pinheirinho foi uma ocupação que existiu por 8 anos. Já havia se tornado um bairro a partir da auto-organização do povo pobre, com casas, pequenos comércios, igrejas, templos e praças. Às vésperas da desocupação, depois de tantos anos de luta, havia um processo de negociação para regularização da área, que contava com a participação dos governos federal e estadual. Mas na madrugada do dia 22 de Janeiro de 2012, mulheres, idosos e crianças foram surpreendidas em suas casas, enquanto ainda dormiam, com a presença de dois mil soldados, helicópteros, cavalaria, cães, bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e spray de pimenta. Um verdadeiro aparato de guerra montado pelos governos estadual e municipal de Geraldo Alckmin e Eduardo Cury, ambos do PSDB.

Pela crueldade, truculência e violação dos direitos humanos de 1.800 famílias que moravam no local, o caso ganhou repercussão nacional e internacional e provocou enorme indignação diante de tamanha injustiça social e violência. A ação entrou para a história não só da cidade de São Paulo, mas da luta por moradia no país. O que aconteceu com o terreno de 1 milhão de metros quadrados que abrigava centenas de famílias sem casa? Está desde 2012 em mãos de uma empresa que nunca pagou um centavo de imposto sobre o terreno e deixa ele sem qualquer função social. E conta com o apoio da Justiça e dos governos.

Sobre o assunto: Pablito: "Não esquecemos, nem perdoamos o massacre do PSDB no Pinheirinho há 10 anos!"

Chacina de Jacarezinho:

A brutal operação que deixou 25 mortos no Jacarezinho, no Rio de Janeiro, deixou marcas profundas nos moradores que vivenciaram esse horror da violência do estado contra a população trabalhadora, negra e pobre. Se trata da 2º chacina com mais mortos no Rio e a operação com maior número de mortos da história, fruto direto da política racista levada por Cláudio Castro bolsonarista e atual governador do RJ. Onde, a prioridade dos governos em meio a um dos piores momentos da pandemia, foi de assassinar a juventude e a classe trabalhadora negra e periférica, enquanto milhares morriam de Covid nos hospitais lotados e sem UTIs, passam fome e estão no desemprego.

As cenas no Jacarezinho são assustadoras, corpos de pessoas mortas no chão, sangue pelas vielas, casas invadidas, sons de guerra, um verdadeiro espetáculo de horrores do capitalismo e seus agentes. Diferente do que os analistas burgueses falam “uma operação desastrosa da polícia”, não foi um desastre ou apenas um erro, e sim um massacre.

Pode interessar: Chacina do Jacarezinho é mais uma ferida aberta do golpe institucional

Junho de 2013:

Junho de 2013 aparece para os dirigentes petistas como um pesadelo, uma mobilização popular que foge ao seu controle. E ao indicar em junho o início da preparação do golpe institucional de 2016, o que querem dizer é que qualquer mobilização que tente ir além da política de pressão sobre as instituições, além do controle de Lula e do PT vai irremediavelmente favorecer a direita. Mas o que tivemos verdadeiramente em junho de 2013 foi a expressão do acúmulo de insatisfação de vários setores com a política petista, a violência polícial e as consequências da crise capitalista. Todas as pautas vieram à tona, mas o transporte muito para além dos vinte centavos permanecia como ponto central. Se juntava a revolta contra a ostentação dos estádios da copa, enquanto transporte, saúde e educação caiam aos pedaços. Depois dessa virada com a repressão em São Paulo, as manifestações se massificaram e milhões foram às ruas na semana seguinte.

Hoje, quase 10 anos após essa onda de mobilizações, famílias ainda sofrem com perdas irreparáveis de pessoas mortas em atos no período por conta da repressão policial. Das 10 pessoas mortas no período, apenas 1 caso foi julgado e o condenado cumpre pena. Isso demonstra com clareza que a justiça burguesa atua para manter a impunidade das forças armadas, tanto nos casos dos assassinatos nos morros como nos decorrentes dos atos. A repressão policial no período foi responsável pela morte da gari Cleonice Vieira de Morais, em Belém, onde frente ao ataque da polícia para tentar dispersar manifestantes, se refugiou em um prédio que foi alvo de bombas de gás da PM, onde morreu após ter 5 paradas cardíacas provocadas pelo contato com o gás, sem ter como sair do ambiente. Vale mencionar o caso do catador de material reciclável Rafael Braga, que durante junho de 2013 foi detido, denunciado e condenado a 11 anos de prisão por portar uma garrafa de pinho sol.

Sobre o assunto: O fantasma das jornadas de junho de 2013 ainda atormenta o PT

Ocupações de 2016:

Ainda em 2015 os secundaristas de São Paulo ocuparam centenas de escolas, impondo naquele momento uma derrota ao governo Alckimin. Esse movimento inspirou estudantes de todo o país, que ocuparam mais de mil instituições de ensino em 2016 e estiveram na linha de frente na luta contra os ataques do governo golpista e dos governos estaduais. Enfrentando a repressão do Estado, a burocratização de entidades como a UNE e UBES, a criminalização da mídia burguesa, e ainda frequentes ataques da direita, os estudantes ocuparam as instituições de ensino para dar uma grande aula de luta e resistência.

Na violenta desocupação da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (SEDUCE) 31 manifestantes foram presos. Em São Paulo, as imagens da repressão no Centro Paula Souza chocaram ativistas de todo o pais. No Rio de Janeiro o governo cortou a água e luz das escolas. No Rio Grande do Sul, além da perseguição da direita, 43 estudantes e apoiadores que ocuparam a Secretaria da Fazenda foram presos. Em São Paulo enfrentando a dura repressão da polícia de Alckmin, com invasões aos locais ocupados e prisões, em DF a justiça chegou a autorizar métodos de tortura contra os estudantes. No dia da votação da PEC 55 no Senado, milhares de pessoas foram à Brasília manifestar seu repúdio ao congelamento de investimentos em saúde, educação e serviços básicos pelos próximos 20 anos. O governo golpista de Temer respondeu com uma brutal repressão, deixando dezenas de feridos.

Sobre o assunto: Retrospectiva 2016: As ocupações estudantis que sacudiram o Brasil

Genivaldo:

O caso do assassinato do trablahdor Genivaldo de Jesus Santos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no estado de Sergipe em 2022, tornou-se tema de repercussão e indignação nacional. As cenas terríveis da tortura rodaram o país, gerando enorme comoção. Circulou também imagens da multidão enfurecida de Umbaúba-SE avançando sobre o carro da polícia, obrigando-a a recuar, em meio a um protesto de justiça. Genivaldo foi torturado e morto em um camburão da PRF, que foi utilizado como uma câmara de gás aos moldes nazistas de tortura, onde foi asfixiado e não resistiu.

Tão terrível quanto a tortura e assassinato de Genivaldo, foi também a declaração da PRF na qual justifica e valida as ações dos polícias, dizendo que “foram empregados técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo para sua contenção e o indivíduo foi conduzido à Delegacia de Polícia Civil”. Fredson Vidal, delegado da Polícia Federal em Sergipe, em entrevista, já declarou que não vê motivos para prisão dos agente envolvidos, ou seja, já apontando que, se depender das instituições do estado, não haverá punições ao assassinos de Genivaldo.

Sobre o assunto: Exigir Justiça por Genivaldo é lutar contra a extrema direita, os militares e as heranças da ditadura

O papel da polícia como braço armado da burguesia:

Esses exemplos, dentre vários outros tão absurdos quanto, nos mostram o caráter dessa instituição. Seja militar, rodoviária ou civil, a polícia cumpre o mesmo papel social. A de garantidor cotidiano da propriedade e da ordem burguesa, da repressão sistemática aos movimentos sociais e políticos da classe trabalhadora. E isso se escancarou com os últimos acontecimentos no país, culminando na invasão do Congresso, Palácio do Planalto e STF por uma ala radicalizada da extrema direita bolsonarista, contando com a conivência e apoio da polícia e do Secretário de Segurança Pública (antigo ministro da Justiça de Bolsonaro), e até mesmo do governo do DF.

Sobre o assunto: Declaração do MRT

O Estado não é uma instituição neutra, ao contrário, serve como ferramenta de opressão que dispõe de destacamentos de homens armados e prisões (podendo ter outras instituições coercitivas também) para garantir o domínio de uma classe, no caso do sistema capitalista a burguesia. Então a burguesia mantém a partir de seu Estado o controle social garantido pelo destacamento de homens armados como mecanismo pelo qual garante sua dominação. Entendendo o papel do Estado e seu braço armado, a única conclusão que podemos chegar é que: qualquer força policial ligada ao Estado burguês NÃO PODE SERVIR aos trabalhadores como resposta à extrema direita e aos atos golpistas. Somente com a mobilização da nossa classe, sem confiança na polícia assassina e no sistema burguês, poderemos arrancar com nossas mãos justiça por essas diversas vidas e derrotar a extrema direita e o bolsonarismo.

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