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Tribuna aberta | A Rússia é um país imperialista?

Este artigo foi publicado originalmente em 2 de janeiro de 2019 na Monthly Review. Publicamos sua tradução como forma de contribuição ao debate aberto para compreender a atual guerra na Ucrânia e suas consequências.

sábado 19 de março de 2022 | Edição do dia

Fonte da imagem: Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)

Este artigo foi publicado originalmente na Monthly Review, em janeiro de 2019, e é parte das publicações da imprensa internacional que podem ser de interesse para nossos leitores para o seguimento do conflito na Ucrânia. Não reflete a opinião editorial do Esquerda Diário.

Alguns dizem que a Rússia é uma potência mundial imperialista em conflito com a superpotência imperialista, os Estados Unidos. A Rússia foi caracterizada dessa maneira tanto durante o período da União Soviética quanto após o colapso da mesma e a formação de Estados separados. Fala-se da Rússia como um país imperialista tanto quando era um Estado socialista quanto agora como um Estado capitalista.

Outros dizem que a Rússia é um Estado capitalista não imperialista, que ainda luta para se recuperar da crise do colapso soviético e da catástrofe política e econômica dos anos de Yelstin, quando se degenerou para se tornar quase um cliente neo-colonial saqueado pelos EUA. [1]

Lenin reconheceu que o capitalismo moderno “está por toda parte se tornando capitalismo monopolista”. [2] O capitalismo se transformou em um sistema mundial de opressão colonial e de "estrangulamento financeiro da esmagadora maioria da população do mundo por um punhado de países ‘avançados’” [3]. Esta dominação do mundo por algumas potências imperialistas não é apenas a maior barreira para o progresso econômico e social dos países menos desenvolvidos, mas para resolver os problemas prementes que afligem a humanidade como um todo e agora o próprio planeta.

Lênin definiu o imperialismo capitalista moderno:

"sem esquecer o valor condicional e relativo de todas as definições em geral, que nunca podem abranger todas as concatenações de um fenômeno em seu pleno desenvolvimento, devemos dar uma definição de imperialismo que incluirá as cinco seguintes características básicas:

(1) a concentração da produção e do capital se desenvolveu até um estágio tão elevado que criou monopólios que desempenham um papel decisivo na vida econômica; (2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, com base neste "capital financeiro", de uma oligarquia financeira; (3) a exportação de capital, distinta da exportação de commodities, adquire uma importância excepcional; (4) a formação de associações capitalistas monopolistas internacionais que compartilham o mundo entre si e (5) a divisão territorial do mundo inteiro entre as maiores potências capitalistas é completada. O imperialismo é o capitalismo naquele estágio de desenvolvimento no qual se estabelece o domínio dos monopólios e do capital financeiro; no qual a exportação de capital adquiriu importância pronunciada; no qual se inicia a divisão do mundo entre os trusts internacionais, no qual se completa a divisão de todos os territórios do globo entre as maiores potências capitalistas. [4]"

A seguir, veremos como a Rússia capitalista hoje pensando essas características, considerando o papel que os monopólios capitalistas russos desempenham no sistema imperialista mundial, a natureza do comércio de exportação da Rússia, a exportação do capital russo, o papel mundial desempenhado pelo capital financeiro russo e, finalmente, o poder militar russo. [5]

1. A força da Rússia entre os monopólios capitalistas internacionais

O papel da Rússia na "(4) formação de associações capitalistas monopolistas internacionais que compartilham o mundo entre si" pode ser medido pela posição das corporações do país entre as 2000 mais importantes corporações internacionais.

A Forbes listou as 2000 maiores corporações do mundo com base no total de vendas, lucros, ativos e valor de mercado. Das 10 maiores empresas, 5 são chinesas e 5 são americanas. A China abriga 291 empresas na lista (contra apenas 43 em 2003). Os Estados Unidos estão no topo com 560. O Canadá tem 50, a Austrália 39, a Índia 58.

A Rússia tem apenas 4 entre as 100 primeiras, classificadas em 43, 47, 73 e 98. Tem apenas 6 no top 500, e 25 no top 2000. Sua participação corporativa total mostra um ligeiro declínio, e não uma tendência ascendente: no período 2008-2013, 29-30 corporações russas estavam n alista Global 2000.

As 2000 empresas desta lista representam US$ 39,1 trilhões em vendas, US$ 3,2 trilhões em lucro, US$ 189 trilhões em ativos e US$ 56,8 trilhões em valor de mercado. As vendas das 25 corporações da Rússia totalizam US$ 568 bilhões, apenas 1,45% do total. Seus ativos coletivos totalizam US$ 1.757,3 bilhões, compreendendo menos de 1% do total. Entre os monopólios internacionais, a Rússia é um jogador muito pequeno.

Produtividade Trabalhista da Rússia em comparação com a União Européia e os Estados Unidos.

A perspectiva de mudanças significativas nestes números é desmentida pelo problema da baixa produtividade da mão-de-obra russa. A produtividade da mão-de-obra, aqui medida pelo produto interno bruto avaliado em dólares americanos dividido pelo número total de horas trabalhadas pela força de trabalho do país, foi de 25,4 em 2016 para a Rússia. Esta é a taxa mais baixa entre todos os países europeus, tão baixa de fato, que é menos da metade da taxa média da União Européia de 53,4. A produtividade da mão-de-obra russa é 36% do nível dos EUA de 69,9; a da Alemanha é de 68,1. A Rússia continua atolada no nível de produtividade de um país atrasado, longe de ser capaz de competir com o dos centros capitalistas avançados.

O Relatório de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, baseado em uma combinação de doze fatores, classifica a Rússia como 38º em sua lista, acima de vários dos países do leste europeu. O ranking do relatório melhorou a posição da Rússia de 67º em 2012-13, para 38º em 2017-18. [6]

Produção industrial russa

O papel que a Rússia desempenha no sistema econômico mundial pode ser novamente compreendido quando se compara a produção industrial por país em termos de dólares. Em 2015, a China ficou em primeiro lugar com US$ 2.010 bilhões em bens manufaturados, 20% da produção mundial, e os EUA em segundo com US$ 1.867 bilhões, 18%. A Rússia ficou em 15º lugar, atrás da Índia, Taiwan, México e Brasil, produzindo US$ 139 bilhões em bens manufaturados, novamente um jogador marginal, produzindo apenas 1% da produção mundial.

2. Exportações russas de matérias primas versus bens de alta tecnologia

Em seu comércio de exportação, os países imperialistas tipicamente mostram uma tendência marcada pela venda de produtos acabados sofisticados e de alto valor; de serviços técnicos de conhecimento intensivo; e também de serviços financeiros. As nações oprimidas pelo imperialismo tipicamente estão restritas à exportação de matérias-primas a preços determinados pelo mercado imperialista e à produção de produtos acabados por subsidiárias corporativas de propriedade imperialista localizadas em seus países.

Em 2017 dos principais países exportadores do mundo, a Rússia ocupava o 17º lugar, depois do México, Emirados Árabes Unidos e Cingapura. A China ficou em primeiro lugar, com US$ 2.263 bilhões em exportações, os EUA em segundo com US$ 1.547, a Alemanha em terceiro com US$ 1.448, com a Rússia subindo significativamente a partir de 2016, mas ainda exportando apenas US$ 353 bilhões em bens.

O Banco Mundial informou sobre a Rússia em 2017 que o petróleo e o gás respondem por 58% das exportações, os metais por outros 11%, 6% de matérias-primas alimentares, 3% de madeira, celulose e papel, 4% de pedras preciosas e metais, outros minerais. Mais de 82% das exportações da Rússia são matérias-primas, enquanto os bens tecnológicos acabados reais (incluindo os militares) representam apenas 8% das exportações. [7]

Os 10 principais itens exportados e importados da Rússia em 2017 mostram que os bens manufaturados totalizaram US$ 12,8 bilhões em exportações, em comparação comUS$ 106,2 bilhões em importações.

As exportações (e importações) russas não se enquadram no padrão de um Estado imperialista, mas sim de um Estado semi-desenvolvido do Terceiro Mundo, exportando principalmente matérias-primas e confiando na importação estrangeira de bens avançados.

Ranking russo na exportação de bens de alta tecnologia [8].

As potências imperialistas seriam as líderes na exportação de bens de alta tecnologia. Em termos de ranking mundial na exportação desses bens, a China estava novamente em primeiro lugar, com US$ 496 bilhões em exportações de alta tecnologia, com os EUA em terceiro lugar (depois da Alemanha), exportando US$ 153,2 bilhões. O México exportou $46,8 bilhões de dólares. A Rússia ficou em 31º lugar na exportação de bens de alta tecnologia, com um total de apenas US$ 6,64 bilhões em exportações. Estes números também mostram que a Rússia está muito longe de se tornar um jogador imperialista no cenário mundial.

3. O papel da Rússia no capital bancário e financeiro internacional

Na lista de Lenin das características dos países imperialistas de seu tempo, os grandes bancos são as organizações mais importantes do capital financeiro. Esperamos que um Estado imperialista esteja bem representado entre os principais bancos. Dos 100 maiores bancos do mundo, classificados por ativos totais, a China tem 5 dos 10 maiores. Os Estados Unidos têm 6 dos 40 maiores. Dos 100 maiores bancos, 20 são chineses, 10 são estadunidenses, 9 são japoneses, 6 franceses, 6 alemães, 6 britânicos, 5 canadenses, 5 sul-coreanos, 5 brasileiros, 4 australianos, 3 suecos, 3 italianos, 3 espanhóis, 3 holandeses, 2 bancos de Cingapura e 2 bancos suíços. A Rússia tem um, classificado em número 66.

Lênin declarou que na época imperialista ocorreu "a divisão do mundo entre os trusts internacionais". A forma como o mundo na época imperialista se divide entre esses trusts muda à medida que os Estados imperialistas emergem e caem. Na atual divisão mundial entre estes trusts encontramos a Rússia como um ator bastante menor: 4 corporações entre as 100 melhores, 25 no top 2000, detendo 1,45% do mercado mundial, nenhuma corporação entre as 100 maiores em termos de ativos estrangeiros, e um banco no top 100 bancos internacionais.

Exportação russa de capital

Lênin declarou que "(3) a exportação de capital, distinta da exportação de commodities, adquire uma importância excepcional". A Rússia tem uma exportação substancial de capital, mas isto vem na forma de fuga de capital para paraísos fiscais como o Chipre e as Ilhas Virgens Britânicas. O Banco Central da Rússia calculou a fuga líquida de capital do país em 2014 em US$154,1 bilhões, e o total desde que Putin entrou em funções em 1999 a 2014 em cerca de US$550 bilhões. O total real até 2014 pode ser superior a US$ 1 trilhão. O Banco Central calculou a fuga de capital russo em 2018 em $66 bilhões de dólares.

Ativos Estrangeiros de Multinacionais Russos

Um estudo enumera as 100 principais empresas multinacionais não-financeiras classificadas por seus ativos no estrangeiro, seus investimentos em outros países. Nesta medida chave de exportação de capital financeiro, 20 das empresas são estadounidenses, 14 são britânicas, 12 francesas, 11 alemãs, 11 japonesas, 5 suíças, 5 chinesas (incluindo Hong Kong). Nenhuma corporação russa figura na lista das 100 maiores empresas com base em seus investimentos no exterior.

Juntas, as 10 maiores multinacionais russas não-financeiras possuem US$188,3 bilhões em ativos totais no exterior, representando um terço do total russo. O total de ativos estrangeiros das empresas russas é inferior ao das duas primeiras na lista das 100 maiores multinacionais mundiais não-financeiras sozinhas. [9]

Participações russas de capital financeiro em comparação com os Estados imperialistas

Outra medida de participação de capital financeiro dos países do mundo é produzida anualmente pelo Credit Suisse. Seu Global Wealth Databook 2018 apresenta a riqueza financeira nacional (ações, títulos, fundos do mercado monetário e contas bancárias), dividindo a riqueza financeira nacional pela população adulta total de cada país. O grupo superior, com mais de US$ 100.000 de riqueza média por adulto, é composto pelos países da Europa Ocidental, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia, Japão, Israel, Singapura e Taiwan. Os Estados Unidos (US$ 336.528) ocupam o segundo lugar depois da Suíça (US$ 372.336). Todos os países deste grupo são países imperialistas, ou satélites-chave do centro imperial, os Estados Unidos. A riqueza financeira média mundial por adulto é de $38.110; a Grécia (muito deteriorada) fica em $33.969. A China está muito atrás, com $19.862. A Rússia está muito abaixo com US$ 8.843, o que corresponde a 2,6% da média da riqueza financeira adulta em comparação com os Estados Unidos.

A Rússia continua sendo um mundo incapaz de possuir a riqueza financeira de um país imperialista. Da riqueza financeira e não financeira do mundo, os EUA têm uma participação de 31%, a China, único país além dos EUA a ultrapassar os 10%, tem 16,4%. A Rússia 0,7%.

Lênin escreveu "O imperialismo é a época do capital financeiro e dos monopólios" (...) "Na qual a exportação de capital adquiriu uma importância pronunciada". [10] Na área da exportação de capital financeiro para fins produtivos por parte das multinacionais russas, a Rússia é um jogador muito minoritário.

4. Peso Militar Mundial Russo

Lênin finalmente se refere à "(5) divisão territorial do mundo inteiro entre os maiores poderes capitalistas". Fundamental para o domínio das estruturas econômicas globais pelos países imperialistas é seu papel no policiamento e na manutenção da ordem mundial que eles nos impõem. As principais potências imperialistas têm importantes indústrias de armamento e participam como vendedoras no comércio global de armas.

Exportações Militares da Rússia

É somente no peso militar que a Rússia mostra seu poder, mas isto por si só não faz dela um país imperialista, segundo Lenin. Tampouco torna a Rússia imperialista mesmo à maneira imperialista pré-capitalista da Roma antiga, que exigia expansão militar e trabalho escravo. Enquanto o poder militar significativo da Rússia, especialmente seu arsenal nuclear, torna difícil para os imperialistas dar a volta por cima, a Rússia não invade e bombardeia países em todo o mundo como fazem os EUA, ou mesmo como fazem potências imperiais de segunda categoria como a Grã-Bretanha e a França.

Além disso, ao contrário dessas outras potências militares imperialistas, a Rússia capitalista não desenvolveu sua própria, mas herdou seu poderio militar e suas indústrias de armamento da URSS. A Rússia também é única em ser o único país do antigo bloco soviético socialista que continua cercado e ameaçado de ataque militar pelo Ocidente imperialista.

No entanto, a Rússia é um dos principais exportadores mundiais de armas. Nenhum ramo da manufatura russa é competitivo no mercado internacional, exceto a indústria de armamento. As exportações mundiais de armas em 2016 totalizaram 32,262 bilhões de dólares e 31,106 bilhões de dólares em 2017. O Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo calculou a exportação de armas da Rússia em US$ 6,148 bilhões em 2017, abaixo dos US$ 6,937 bilhões de 2016. O maior exportador de armas do mundo é os EUA, com US$ 10,304 bilhões em vendas de armas em 2016 e US$ 12,394 bilhões em 2017. Os EUA respondem por 34% das vendas militares globais, e a Rússia por 22%.

As exportações de armas dos EUA são ligeiramente mais que o dobro das da Rússia. Aqui, a Rússia está ficando para trás: enquanto as exportações de armas dos EUA cresceram 25% entre 2013-17 em comparação com o período 2008-12, as exportações da Rússia caíram 7,1% durante o mesmo período.

Empresas russas entre os produtores de armas

Segundo o SIPRI, os 100 maiores produtores mundiais de armas faturaram US$ 398,2 bilhões em vendas e serviços militares em 2017. (Defense News dá números um pouco diferentes). Metade dessa soma foi para os 10 maiores produtores, cinco dos quais são empresas estadounidenses, enquanto um é russo. Dos 100 maiores, 42 são dos EUA, enquanto 10 são russas.

Bases Militares Estrangeiras Russas e Orçamento Militar

A Rússia conta com 15 bases militares em 9 países estrangeiros. Apenas duas delas estão fora da ex-União Soviética, no Vietnã e na Síria. A China tem uma base fora da China, em Djbouti. Os Estados Unidos têm mais de 800 bases estrangeiras.

Em comparação com o orçamento militar dos EUA, que o SIPRI colocou em US$ 610 bilhões, apenas o aumento do orçamento do Pentágono só este ano é maior que todo o orçamento militar russo, que era de US$ 66 bilhões em 2017, quarto depois da China e da Arábia Saudita.

Intervenções russas em outros países

A Rússia interveio em outros países (Iugoslávia, Geórgia, Ucrânia, Síria), mas não na forma dos países imperialistas, que são motivados a aproveitar os recursos naturais e as riquezas. A intervenção russa também não é nem próxima à escala de potências imperiais secundárias, como a França ou a Grã-Bretanha. Tampouco a Rússia tem planejado golpes de Estado em outros países como os países imperialistas fazem constantemente.

A Rússia interveio em uma intervenção muito limitada na antiga Iugoslávia em meados dos anos 90, quando as forças russas agiram como polícias brandas para a OTAN. A Rússia lutou pela Ossétia do Sul pró-russa contra a Geórgia em 2008, que foi apoiada pelos Estados Unidos.

O conflito na Ucrânia é um resultado direto da engenharia americana de um golpe de direita anti-russo em 2014. O povo da região oriental da Ucrânia, que é predominantemente de língua russa, levantou-se exigindo autonomia política e econômica. Ainda que o povo da Ucrânia oriental é apoiado pela Rússia, Moscou não demonstrou interesse em absorver a Ucrânia oriental como fez com a Crimeia após o referendo ali realizado.

O envolvimento militar direto da Rússia em 2015 na guerra da Síria é semelhante ao na Ucrânia: para evitar a contínua mudança do regime feita pelos EUA-NATO e o cerco de seu país. A Rússia foi convidada pelo governo sírio para ajudar a derrotar os grupos rebeldes armados e financiados pelos EUA, pelos países da OTAN e pela Arábia Saudita.

Ao contrário dos EUA, Grã-Bretanha e França, em nenhum desses casos a Rússia interveio militarmente para derrubar um governo, a fim de proteger seus interesses econômicos estrangeiros.

O crescente cerco da Rússia pelos EUA e pela OTAN é uma continuação de sua política anterior de subjugar e recolonizar a União Soviética. Fonte: Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

5. A Rússia e o Imperialismo Hoje

Referindo-se à definição de Lênin sobre o imperialismo, a Rússia não é um jogador no domínio dos monopólios e do capital financeiro, nem a exportação de capital desempenha um papel importante (salvo o efeito negativo da fuga de capital em curso), nem os trusts russos desempenham qualquer papel essencial na divisão dos recursos mundiais.

A Rússia pode ser classificada como um dos Estados mais poderosos do mundo apenas com base em sua força militar. Economicamente, ela compartilha as características não de um Estado capitalista avançado, mas de um Estado da semiperiferia capitalista. Ela desempenha muito pouco papel na atividade imperialista quintessencial: a exportação de capital para a periferia e a extração de lucros da mão-de-obra e dos recursos dos países em desenvolvimento. O capital financeiro da Rússia é pequeno, suas exportações são predominantemente de matérias-primas, sua indústria fraca, suas corporações multinacionais menores, sua economia atormentada pela baixa produtividade da mão-de-obra.

O imperialismo continua a ser o principal perigo para a vida e o bem-estar dos povos do mundo. Nossos problemas, os problemas da humanidade, estão enraizados no domínio imperialista de nossas nações e de nossas vidas. Especificamente, isto significa o domínio do chefe imperialista dos EUA e das potências imperiais secundárias em sua órbita: Europa Ocidental, Japão, Canadá e Austrália. A Rússia, enquanto país capitalista, intimidado pelos Estados Unidos por causa de sua independência (como Venezuela, Irã, Líbia de Qaddafi, Nicarágua) não faz parte de nenhuma camarilha imperialista que nos ameace. Ao contrário, as potências mundiais da Rússia e da China descobrem que devem responder aos esforços do imperialismo para subordiná-las. Felizmente, sua resistência inconsistente proporciona oportunidades para outros povos e países afirmarem sua própria soberania nacional.

Traduzido por Lina Hamdan


[1Stephen Cohen escreveu em The Failed Crusade que, após o colapso da União Soviética, começou o colapso econômico mais cataclísmico de um país industrial em tempos de paz. A restauração capitalista trouxe pauperização e desemprego em massa, desigualdade extrema, crime desenfreado, antissemitismo virulento e violência étnica, combinados com gangsterismo legalizado e saques precipitados de bens públicos. Em 1998, o investimento caiu 80%, os salários reais pela metade e os rebanhos de carne e leite em 75%. Aqueles que vivem abaixo da linha da pobreza nas ex-repúblicas soviéticas aumentaram de 14 milhões em 1989 para 147 milhões. Isso produziu mais órfãos do que os mais de 20 milhões de vítimas russas da guerra. Epidemias de cólera e tifo ressurgiram, milhões de crianças sofreram de desnutrição e a expectativa de vida adulta despencou. Fidel Castro falou sobre a o escandaloso saque da Rússia pós-soviética na última parte de um discurso de 1998.

[2Lenin: The Impending Catastrophe and How to Combat It, Collected Works, Volume 25, p. 339.

[3Lenin: Imperialism: The Highest Stage of Capitalism, CW, 22, p.191

[4Lenin; Imperialism, CW 22, p.266-267.

[5Dois artigos úteis sobre isso são: Renfrey Clarke e Roger Annis, “O mito do ’Imperialismo Russo’” e Sam Williams, “A Rússia é imperialista?”

[6Informações detalhadas sobre a Rússia nas páginas 248 a 249 do relatório

[7World Bank Group, “Modest Growth Ahead,” Russia Economic Report 39, May 2018 p. v.

[8Definição: As exportações de alta tecnologia são produtos com alta intensidade de R&D, como aeroespacial, computadores, produtos farmacêuticos, instrumentos científicos e máquinas elétricas

[9Essas informações sobre a fuga de capitais russos e ativos estrangeiros são inteiramente consistentes com os dados de um estudo anterior sobre o investimento global russo, usado, ironicamente, para afirmar que a Rússia é imperialista.

[10Lenin; Imperialism, CW 22, p.297, 267.





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