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A censura à cultura russa na europa a partir da guerra na Ucrânia

Agos Fernweh

Imagem: (Solaris) Mosfilm (editada)

A censura à cultura russa na europa a partir da guerra na Ucrânia

Agos Fernweh

A onda de sanções econômicas arrastou consigo uma onda de censura e cancelamento de obras de arte e artistas russos na Europa e nos Estados Unidos.

Imagem: (Solaris) Mosfilm

Na Europa, um festival de cinema na Andaluzia cancelou a programação do diretor russo Andrei Tarkovsky e substituiu a exibição de Solaris pela versão americana. Uma universidade italiana suspende um curso sobre Dostoiévski, embora depois, diante das críticas, tenha recuado na decisão. A Filarmônica de Munique demite o maestro Valery Gergiev por não condenar, como gostariam, a invasão russa. A Royal House Opera em Londres suspendeu a apresentação de verão do Ballet de Moscou. Nos Estados Unidos, a Ópera de Nova York suspende a soprano russa Anna Netrebko e a substitui por uma ucraniana. Uma censura que beira o ridículo e da qual nem os mortos estão a salvo.

As decisões inusitadas por parte das instituições culturais confirmam que essa decadência não vem apenas dos governos, e que o medo de sair do politicamente correto atinge níveis insuspeitos. Embora a censura não seja algo novo, não deixa de ser trágico, especialmente quando endossa ir mais longe, violência física contra imigrantes russos, arranhões em suas instalações, tratando-os como párias. Parte disso já está acontecendo.

Se a censura clássica perseguia artistas por sua adesão a uma ideologia contrária, como o comunismo, ou por "ir contra a moralidade" em obras que questionavam as relações e o papel da mulher, para citar alguns exemplos, essa censura parece só depender do passaporte. Pouco importa se Tarkovsky, repetimos, já morto e, portanto, incapaz de se posicionar a favor de Putin, foi perseguido pela ex-URSS e forçado ao exílio. Pois não deixa de ter cometido o pecado original... ser russo.

Por outro lado, se se trata de banir expressões culturais cujos governos têm sangue nas mãos, bem, então talvez o festival andaluz também não deva exibir o Solaris americano, certo? Mas o cancelamento é seletivo e a indignação também.

O referido festival concedeu a censura pelo motivo de que "Putin não se beneficia dos lucros da projeção de filmes russos". A Alemanha exige que os russos que queiram trabalhar em seu país se submetam à posição oficial sobre a guerra. Enquanto isso, a Europa continua sendo o principal importador de petróleo e gás russos, cujos lucros vão para financiar, na realidade, a guerra. Parece que é mais fácil apagar as expressões artísticas e continuar com os negócios capitalistas.

Ah Europa, seu negócio é puro teatro, falsidade bem ensaiada, simulação estudada…

A série “Chernobyl”, da HBO, agora em voga, superficialmente parecia uma crítica à antiga União Soviética e seu estado burocrático, à distorção de fatos e mentiras para fortalecer uma narrativa oficial e, claro, à censura daqueles que falavam a verdade. Mas talvez o que Chernobyl estava dizendo para o Ocidente seja “cuidado, você não é tão diferente e também pode cair”. Como diria Mark Fisher, do realismo socialista ao realismo capitalista.

As guerras convulsionam a vida e, por sua vez, a arte. O medo que está por trás das proibições é o de que a sociedade comece a questionar seus próprios governos, e a arte que vale a pena é aquela que vai nessa direção. Por isso, assim como as vanguardas souberam fazer no século 20, talvez o que precise ser varrido sejam as instituições que censuram e proíbem em nome da liberdade. Talvez seja hora de insistir novamente nessa premissa principal: Toda liberdade à arte!

[Traduzido por Pedro Costa]


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