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CORRIDA PELA VACINA | A disputa pela vacina já é pré-campanha de Bolsonaro e Doria para 2022

Doria não decidiu tornar público as datas para a vacinação por preocupação com a vida da população do Estado que comanda. Tão pouco o ministro da Saúde, General Pazuello, e seu chefe Bolsonaro, com sua “MP da vacina” mudaram de ideia visando garantir a imunização no país. A linha editorial de grandes meios de comunicação, como a Globo, foi de criticar a “politização” da vacina, mas os mesmos desde o início da pandemia defenderam políticas de “enfrentamento” à pandemia que favoreciam os patrões e banqueiros. Mas afinal, quais são os objetivos em torno da disputa pela vacina?

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

sábado 12 de dezembro de 2020 | Edição do dia

Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil - Divulgação/Governo de São Paulo

Nesta semana (9), General Pazuello, em reunião com os governadores, insinuou que Doria estaria desrespeitando a divisão de poderes e responsabilidades do Estado. A vacina do Instituto Butantã “não é do estado de São Paulo”, afirmou o ministro. Por sua vez, o governador que se elegeu com a bandeira de BolsoDoria não deixou barato e criticou demagogicamente a gerência que o Governo Bolsonaro estava fazendo da vacinação e o porquê da Coronavac ser excluída do plano federal.

Doria se destacou como a figura proeminente entre uma série de governadores, que pelo menos publicamente, se dizem preocupados com a ausência de um plano concreto de vacinação, para isso o empresário tucano havia agendado para dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, o início da vacinação no Estado. O Ministério da Saúde tinha colocado como prazo máximo o final de fevereiro para o início da vacinação, que não levava em conta a Coronavac do Butantã. O pronunciamento de Doria foi visto como uma afronta por Bolsonaro, que vê no empresário o principal adversário de direita para as eleições presidenciais de 2022.

Os últimos dias foram marcados por uma escalada de conflitos nas relações entre os poderes executivos federais e estaduais do país. O Governo Bolsonaro nessa situação planeja editar uma medida provisória para a compra e centralização da distribuição das vacinas, o que foi criticado como uma possível violação do Pacto Federativo até pelos ministros golpistas do STF, que mais cedo ou mais tarde, caso a disputa pela vacina se acirre, deverão intervir enquanto o autoritário poder moderador, assim como fizeram em várias outras situações.

O General que gerencia as centenas de milhares de mortes pela Covid-19 buscou apoio entre governadores mais próximos de Bolsonaro, como Caiado de Goiás, com quem foi inaugurar um hospital (11). “Nosso plano nacional de imunização é nacional. Nenhum estado da federação será tratado de forma diferente, nenhum brasileiro terá vantagem sobre outros brasileiros” afirmou sobre a proposta do governo federal, durante o evento.

Doria, respondeu. “Os brasileiros esperam pelas doses da vacina, mas a União demonstra dose de insanidade ao propor uma MP que prevê o confisco de vacinas”. E sobre a “MP da vacina” disse que “Esta proposta é um ataque ao federalismo. Vamos cuidar de salvar vidas e não interesses políticos”.

João Doria e o Governo Bolsonaro, apesar dos atritos, novamente, se identificam no essencial, como fizeram ao defender a aplicação de reformas trabalhistas em meio à pandemia. Protagonizam uma corrida pela vacina com o mesmo objetivo, que não é proteger a população da Covid-19, e sim conquistar as melhores posições para as eleições de 2022.

A disputa pela vacina é mais um capítulo de descaso com a vida do povo trabalhador

Em meio ao completo abandono de qualquer plano de combate da pandemia por parte da classe capitalista que governa o país, após o armistício entre o tucano Doria e Bolsonaro nas eleições municipais, a vacina se tornou uma trincheira propícia para a luta de posições dos atores golpistas e bolsonaristas

A vacinação enquanto tal já nasceu contornada de disputas geopolíticas e econômicas internacionais, até porque toda a sua produção e desenvolvimento foi comandada pelas leis irracionais e nada científicas da supremacia da propriedade privada. Toda crítica que se limite a taxar de “politização” a disputa em torno da vacina não é só superficial, como, vindo daqueles que defenderam o golpe institucional em 2016 que nos trouxe até Bolsonaro é, no mínimo, hipócrita.

Leia mais: A competição capitalista está sabotando a corrida por uma vacina

Não seria uma casta de dirigentes capitalistas e mídias golpistas de um regime político em frangalhos que mudariam este fato com suas aclamações demagógicas em defesa da técnica e da ciência. Como demonstra as altas taxas de mortalidade e contágio, que voltam a crescer graças ao descaso do Estado à nível municipal, estadual e federal, há provas mais que suficientes de que essa defesa não passa de discurso.

A vacina é parte de algo muito maior, a pandemia, que por sua vez teve uma condução política, como não poderia deixar de ser. Uma política desde o início burguesa, capitalista, que visou proteger as riquezas dos grandes proprietários, seja em sua faceta “pró-vida” de Dória ou “pró-economia” de Bolsonaro. Tanto os empregos, direitos e condições de trabalho foram ainda mais destroçados pela flexibilização trabalhista, como por outro lado mais de 180 mil vidas foram descartadas pela ingerência consciente, entre 6 milhões de pessoas que se infectaram, com sua vida em risco, sem qualquer proteção ou amparo estatal.

Bolsonaro neste final de ano entregará de presente taxas recordes de desemprego e uma queda histórica do PIB, ao mesmo tempo que entregou trilhões aos banqueiros e serviu à expansão do agronegócio no Norte do país, com as queimadas, desregulamentações e outras medidas para a boiada passar. Dória comanda o Estado com mais mortes no país, e desde sempre jogou toda a responsabilidade nas costas da população, como se máscaras e álcool em gel bastassem como medida de contenção, sendo que diariamente a população trabalhadora é obrigada a frequentar locais de trabalho sem as mínimas condições de prevenção, além do próprio transporte público sucateado que lota os ônibus e vagões de trem e a insuficiência do SUS em tratar os enfermos.

O fato é que um plano consequente de combate e prevenção da Covid-19 nunca existiu e nunca seria realizado pelas mãos destes políticos burgueses. A testagem massiva, a centralização do sistema de saúde, tornando os hospitais privados que buscam lucro propriedade estatal para o combate da pandemia, o planejamento econômico voltado para a produção de todos os insumos necessários - desde máscaras até os respiradores - nunca faria parte do plano de combate à pandemia de uma classe que busca comandar os Estados e o país para manter suas altas taxas de lucro e manter o pagamento da dívida pública.

Bolsonaro e Doria tratam a vida do povo trabalhador e dos vulneráveis ao vírus como simples jogo de disputa para quem comandará os ataques e este regime político apodrecido por ataques à direitos sociais, trabalhistas e democráticos. Somente a organização política dos trabalhadores, mulheres negros e LGBTs de maneira independente destes políticos e instituições golpistas é possível de garantir a saúde e um combate sério à á pandemia, que graças ao descaso do Estado capitalista, volta a aumentar suas vítimas.

Não podemos cair na armadilha das disputas entre a extrema direita e os golpistas de toda figura. Devemos batalhar para que nossas vidas não estejam a serviço dessas disputas políticas e dos lucros dos monopólios que brigam pelos bilhões oferecidos pela vacina. Ela precisa ter produção estatal, sob controle e fiscalização das organizações de trabalhadores da saúde e científicas, e distribuição rápida e massiva para todos que queiram, assim como as demais medidas, equipamentos e condições de prevenção e tratamento contra a Covid-19, e que todo sistema de saúde seja centralizado sob controle dos trabalhadores, para que possa atender a população e não os lucros dos grandes empresários.




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