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PANDEMIA E CRISE POLÍTICA NA BOLÍVIA | Áñez rejeita acordo eleitoral e agrava tensão política

Depois de pronunciar que promulgaria a Lei convocando as eleições parar 6 de setembro, a autonomeada presidenta Ánez, retrocedeu. Com esta decisão se aprofunda a crise política em um marco de agravamento da crise sócio sanitária.

segunda-feira 15 de junho de 2020 | Edição do dia

Na sexta, 12 de junho, quando se havia anunciado que Áñez promulgaria a lei convocando eleições para o próximo 6 de setembro, como resultado de uma negociação entre o MAS, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) e o bloco golpista, finalmente o ato não se concretizou, e, pelo contrário, Áñez enviou uma carta à presidente do Senado, Eva Copa, solicitando previamente que o Congresso lhe remeta um informe epidemiológico para conhecer em que estudo se baseia essa nova data eleitoral, argumentando que a saúde "está em primeiro lugar".

Na referida carta se pode ler: "Peço que me envie o estudo médico e científico no qual se baseia sua decisão e a do MAS, para impulsionar eleições em 6 de setembro" afirmando além disso que o pico de contágio pelo COVID-19 será nos meses de julho e agosto, motivo pelo qual uma campanha eleitoral e os comícios nesta data podem constituir uma perigo para a saúde de toda a população.

Áñez afirma que assim que receba esse informe promulgará a lei já que é sua obrigação constitucional e que a decisão de esperar esse informe não vem de uma vontade de prorrogar seu governo, como denunciaram desde o MAS, e também desde a frente eleitoral Comunidad Ciudadana (CC) dirigido por um dos candidatos do bloco golpista, Carlos Mesa.

Mesa declarou que a decisão de não promulgar a lei para as eleições não só é inconstitucional mas também lesiva à imagem do país em âmbito internacional. Mesmo assim desde a CC agregaram que deixar as eleições novamente sem definição provoca um grave conflito entre os órgãos de poder do Estado, além de ser um atentado à saúde de todos os bolivianos depois do desastroso manejo da crise sanitária e os escandalosos atos de corrupção e falta de transparência com a qual o governo vem gestionando a crise da pandemia.

O "facho Camacho" tampouco ficou pra trás nas críticas à presidenta, denunciando-a de mentirosa já que JUNTOS, a frente eleitoral de Áñez, foi parte das negociações que estabeleceu a data eleitoral para o próximo 6 de setembro. Recordemos que Camacho e sua frente eleitoral, o CREEMOS, exigem a postergação indefinida das eleições.

Divisões e debilidades do bloco golpista

Após as críticas crescentes de diversos setores golpistas como os de Carlos Mesa, Camacho e outros, ao governo de Áñez, em 10 de junho passado,o jornalEl Deber anunciou que Manuel Suárez, atual vice chanceler, assumiria a chefia do gabinete, reforçando tarefas que cumpria o assessor pessoal de Áñez, o ex-chefe de imprensa da embaixada norteamericana na Bolívia, Erick Foronda, que é conhecido como um agente direto do governo dos EUA, e que segundo fontes de imprensa vinculadas ao MAS, havia tomado distância do atual governo.

Confirmando-se estas versões, sobre a saída de Fonda do governo, se evidenciaria a crise do bloco golpista e de toda a direita regional com um aumento de instabilidade política no continente como resultado das enormes mobilizações que recorrem Estados Unidos a nível internacional, pelo assassinato racista de George Floyd, gerando uma forte corrente anti-Trump e debilitando as bases do Estado imperialista norteamericano. Esta instabilidade é a que vem aumentando os rumores de um possível autogolpe de Estado no Brasil, como acaba de denunciar o New York Times, ou os latentes rumores no mesmo sentido que se desenvolveram semanas atrás na Bolívia.

No entanto, a decisão de Áñez de deixar em suspenso a promulgação da lei, além de aumentar as divisões no seio do bloco golpista, ameaça desatar um amplo e generalizado repúdio de importantes setores operários, camponeses e populares, que vêm exigindo a convocação de eleições no lapso de tempo mais breve possível.

As aspirações democráticas e o papel conciliador do MAS

A grave situação econômica e social que está se desenvolvendo a nível internacional e também na Bolívia, está provocando em vários setores populares o ressurgir das aspirações democráticas que vêem no atual Governo aos responsáveis de uma desastrosa gestão da crise sócio sanitária e da grave situação que amplos setores de trabalhadores e do povo estão vivendo, exigindo de forma crescente a convocatória de novas eleições. Porém o MAS busca reconduzir estas legítimas aspirações impulsionando ilusões de que pactuando com os golpistas se possa canalizar através de eleições fraudulentas e sem data certa, todo o descontentamento existente.

Com essa malfeita lei eleitoral que buscava fixar a data dos comícios para o próximo 6 de setembro, já seriam três tentativas realizadas pelo MAS de convencer o golpismo duro de Áñez de realizar as eleições, chegando ao extremo inclusive de que seu candidato presidencial, Luis Arce Catacora, reconhecesse em um programa de televisão (rede PAT) o caráter "constitucional" e "legítimo" do governo golpista de Áñez. Esta política conciliadora busca manter aos trabalhadores e ao povo em uma situação de passividade enquanto o ataque empresarial às condições de vida de milhões segue firme.

Desde a LOR-CI (organização irmã do MRT na Bolívia) defendemos o direito democrático que centenas de milhares expressam na exigência de eleições, no entanto afirmamos que isso não poderá ser satisfeito enquanto se deposite confiança em que os conciliadores dirigentes do MAS sigam apostando na negociação e no pacto com o golpismo, que como uma vez mais fica demonstrado, não tem intenções de chegar a nenhum processo eleitoral transparente.

Somente impulsionando a autoorganização, a mobilização e a luta independente dos conciliadores, e que parta da defesa imediata do emprego, o salário, e as condições de vida e trabalho das grandes maiorias operárias, camponesas e indígenas e populares poderá impor ao golpismo reacionário sua expulsão do Governo, abrindo um processo democrático para que sejamos as e os trabalhadores, do campo e da cidade e o povo pobre os que definamos como enfrentar a crise capitalista em curso e decidir democraticamente em definitiva que país queremos as grandes maiorias populares para que desta vez a crise não caia em nossos ombros e que a paguem os agroindustriais, os banqueiros e os grandes empresários.




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