Bruno PortelaSão Paulo
quinta-feira 3 de novembro de 2022 | Edição do dia
Em pleno dia de finados recebemos a triste notícia do falecimento da companheira e amiga Michelle Borges Miranda, ou BiaMichelle, como era conhecida nacionalmente por seus amigos, companheiros de luta de distintos movimentos onde atuou, assim como em sua carreira profissional. Mesmo tão jovem, infelizmente Bia teve uma infecção onde foi internada em hospital de Porto Alegre (RS) onde morava, seu quadro de saúde piorou e ela não resistiu, uma verdadeira tragédia. Seus familiares e amigos fizeram uma campanha nas redes para custear o translado de seu corpo para o Pará, onde haverá seu velório e enterro ao lado de seus entes queridos.
Mulher negra e ribeirinha, filha da dona Eunice, dona de uma voz extraordinária, LGBT e ativista de diversas causas, como a luta antirracista, contra a LGBTfobia, pela democratização da tecnologia e pelo software livre, do questionamento à monogamia e pelas relações livres, em defesa dos direitos das mulheres, indígenas e da juventude, ela rodou o país (e o mundo!) indo atrás de seus sonhos e fazendo amizades por onde passou, participando de diversos projetos com esses temas. Como pessoa, nunca poupou esforços para ajudar seus amigos e familiares quando precisavam, sendo muito sensível às questões de problemas psicológicos assim como profissionais, mesmo ela muitas vezes passando por “perrengues”, não abaixava a cabeça. Foi uma guerreira em todos os sentidos.
De família humilde em Santa Isabel (PA), saiu de casa para estudar na UFRA, onde além de entrar na área de Sistemas de Informação, começou a atuar no movimento estudantil. Bia passou por diversos movimentos e organizações políticas, como a Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre), impulsionada por organizações como o PSTU. Nós do MRT, que impulsionamos o Esquerda Diário, conhecemos Bia nessa época e compartilhamos fileiras na Juventude Às Ruas, onde Bia militou durante um tempo já em São Paulo e também criou amizades que duraram até os dias de hoje. Por onde passou desde então, sempre estava na linha de frente dos enfrentamentos, como na EACH (USP Leste), e nas jornadas de junho de 2013 participou conosco em nossos blocos nas ruas. Fez seu mestrado na USP em Ciências Políticas com atuação na área de Políticas Públicas para pessoas travestis e transexuais, e atualmente estava fazendo doutorado em Porto Alegre na PUC-RS em Ciência da Computação com foco em Gestão da Diversidade. No último período, Bia ajudou a eleger Laura Sito, vereadora de Porto Alegre pelo PT e recém eleita deputada estadual na próxima legislatura.
Em nome do MRT e do Esquerda Diário, deixamos toda nossa solidariedade nesse momento tão difícil aos familiares, amigos, companheiros de luta, ao mesmo tempo que sabemos que sua vida foi um chamado à luta, de onde de uma maneira ou de outra, ela nunca saiu, batalhando por uma sociedade livre da opressão e da exploração. Bia era uma força extraordinária, deixando marcas em todas as pessoas por onde passava, e deixou uma grande quantidade de amigos e admiradores em diversos lugares do país. Sua força e seu sorriso mesmo nos momentos mais duros ficam em nossa lembrança, nos inspiram e servem de combustível para seguirmos, mesmo com essa imensa saudade que ela nos deixou.
