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Luta Negra | Bolsonaro diz que lugar de quem luta contra o racismo é o lixo

Nas vésperas do dia da consciência negra, em Porto Alegre, um homem negro era brutalmente espancado até a morte por um policial militar e um segurança dentro de uma unidade do hipermercado Carrefour. No dia seguinte, em pleno 20 de novembro, após esse crime bárbaro, Bolsonaro foi as redes sociais publicar um texto dizendo que o lugar de quem prega a discórdia é o lixo, claramente se referindo aos manifestantes, aos milhares de negros e brancos, que saíram em protesto repudiando a morte de João Alberto Freitas.

sábado 21 de novembro de 2020 | Edição do dia

Reiterando todo o seu caráter racista, cada palavra escrita por Bolsonaro no texto publicado ontem (20/11) é mentirosa. Acuado pelos levantes por justiça a João Alberto Silveira Freitas que ocorreram em diversas cidades, como Porto Alegre, São Paulo, Brasília e Contagem, e também pelo medo de que o Brasil repita os levantes do “Black Lives Matters” (Vidas Negras Importam) que incendiaram os Estados Unidos neste ano, o presidente utilizou-se de uma série de falácias para tentar amenizar a fúria social.

Para tal feito, Bolsonaro revisita a falsa tese da democracia racial, buscando esconder as diferenças materiais entre as etnias: “Somos um povo miscigenado. Brancos, negros, pardos e índios compõem o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros” afirmou o presidente. Aqui há a tentativa de apagar as realidades diversas, em um país cujos dados mostram que uma mulher negra chega a ganhar em média 60% a menos que um homem branco, e que negros e pardos ocupam os mesmos lugares nas estatísticas da moradia precária, da baixa escolaridade, ou dos postos de trabalho mais precário, como o emprego doméstico, o de aplicativo e os terceirizados. Não somos um país simplesmente “miscigenado” ou dividimos a mesma “família brasileira”! No nosso país e no mundo, burgueses e trabalhadores, exploradores e explorados, não estão do mesmo lado!

No parágrafo seguinte, Bolsonaro diz “Contudo, há quem queira destruí-la (a essência desse povo), e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre classes, sempre mascarados de "luta por igualdade" ou "justiça social", tudo em busca de poder.” Todavia, quem coloca conflito, ressentimento e ódio são os capitalistas contra nós, trabalhadores! No dia da consciência negra, acordamos mais uma vez com sangue negro inocente e trabalhador no chão. Eles nos espancam e matam todos os dias! Nesse país onde supostamente vive-se na mais perfeita paz e harmonia, uma pessoa negra é morta a cada 23 minutos pelas mãos do Estado. São eles que nos lembram que as classes sociais existem, que não há igualdade dentro do capitalismo, e que estamos muito longe de alcançarmos justiça por todos aqueles que foram arrancados de nós. Mas não nos calaremos!

Ademais, armando-se de uma manobra retórica de uma aparente união “Não adianta dividir o sofrimento do povo brasileiro em grupos. Problemas como o da violência são vivenciados por todos, de todas as formas, seja um pai ou uma mãe que perde o filho, seja um caso de violência doméstica, seja um morador de uma área dominada pelo crime organizado”, Bolsonaro tropeça em sua própria mentira: qual é a cor da imensa maioria dos pais e mães que perderam filhos no Brasil? Ou que sofre de violência doméstica? Ou, então, com o crime organizado? NEGRO! São os negros que sentem na pele mais profundamente todas essas mazelas sociais, e isso não é somente um detalhe, mas, sim, uma denúncia do racismo estrutural que vivemos tão profundamente no Brasil.

Mas quando pensamos que não tem como piorar, Bolsonaro deixa a cereja do seu bolo de mentiras no sexto parágrafo “Como homem e como Presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus. São nossas escolhas e valores que fazem a diferença.” Todo o cinismo presente nessa formulação torna-se ainda mais insuportável quando lembramos que mais de uma vez o presidente perguntou para um homem negro “Quantas *arrobas você pesa?” (*arroba é a unidade de medida utilizada para medir bovinos). Se na falsidade imunda de Bolsonaro não há diferenças entre as pessoas das diferentes cores, as balas da polícia e o judiciário racista sabem percebê-las nos mínimos detalhes. Marielle Franco, Mestre Moa, Agatha Feliz, João Pedro e Miguel, bem como Trayvon Martin e George Floyd não nos deixam ter dúvidas quanto a isso.

Em honra a Nego Beto, forma carinhosa como João Alberto Silveira Freitas era apelidado, coloquemos na lata de lixo da história quem realmente a merece: Bolsonaro, Mourão e todos os Golpistas!




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