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Greve CPTM | CCR comprou duas linhas com dinheiro que recebeu de Doria dias antes

A greve dos trabalhadores da CPTM se enfrenta também contra a política de privatização, que piora ainda mais as condições do transporte, em que a população já sofre com a superlotação e as altas tarifas. As linhas 8 e 9 da CPTM foram vendidas recentemente para a CCR. Dias antes do leilão, o governo Doria deu praticamente o mesmo valor para a mesma empresa, como indenização para “equilibrar” os lucros da empresa nas linhas privadas do Metrô que ela também administra.

Sergio AraujoProfessor da rede municipal de São Paulo e integrante do Movimento Nossa Classe Educação

quinta-feira 15 de julho de 2021 | Edição do dia

Foto: divulgação/ Governo do Estado de São Paulo

Os trabalhadores ferroviários de diversas linhas da CPTM estão em greve desde o início da manhã desta quinta-feira, reivindicando reajustes salariais congelados desde 2019. Ou seja, um arrocho salarial que já vem de antes da pandemia mas agora passa a ser sentido com muito mais intensidade em meio a absurda carestia. Em que os trabalhadores sentem cada vez mais dificuldade de pagar suas contas ou custear suas necessidades mais básicas como alimentação. Mas existe um aspecto central em toda essa política de arrocho salarial e precarização das condições de trabalho que tem que ser denunciado que é o avanço da privatização do transporte pelas mãos do governo Doria, entregando as linhas da CPTM para grandes monopólios como a CCR, que paga com o dinheiro que recebe do próprio governo.

Veja mais: Lutando contra arrocho salarial, ferroviários são atacados por secretário de Transportes de SP no twitter

Os trabalhadores também sentem no dia a dia todo o sucateamento e a precarização de suas condições de trabalho, que a privatização aprofunda. A falta de funcionários agravada nos últimos anos tem feito os trabalhadores aumentarem e muito a intensidade de trabalho. Os trabalhadores relatam que faltam até EPIs como máscaras para trabalharem em segurança em meio a pandemia. E olha que são trabalhadores que não pararam em nenhum momento durante a pandemia mas são tratados com total descaso pela empresa.

Todo esse cenário de piores condições para os trabalhadores ferroviários significa também diretamente mais superlotação e mais atrasos para os trabalhadores e estudantes que todos os dias usam os trens da CPTM. Como os metroviários em sua greve recente mostraram para a população: "A unidade com a população era o que mais temia o governo", diz Diretora do Sindicato dos Metroviários.

E o sofrimento da população com o transporte lotado, precário, e as passagens caras só aumenta com a política de privatização levada a frente por Doria, que entrega o transporte para empresas que lucram com as tarifas altas, reduzindo gastos com o transporte, e impondo condições de trabalho ainda piores para os trabalhadores, enquanto ainda recebem subsídio bilionários do governo, pagos com os impostos da população. Doria entregou em abril desse ano as linhas 8 e 9 da CPTM para o grupo CCR (que já administra as linhas 4-Amarela, 5-Lilás e a futura 17-Ouro do Metrô), mas escandalosamente o governo do estado havia dado R$ 1 bilhão para essa mesma CCR um mês antes! E olha o que o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM) afirmou à época justificando esse saque do dinheiro público: “O capital privado precisa de estabilidade institucional e poder regulatório. Eventuais aditivos e reequilíbrios são comuns, e São Paulo não se furta a fazer isso. Temos feito um grande esforço de resolver passivos regulatórios para ter estabilidade regulatória”. [Consórcio da CCR vence leilão das linhas 8 e 9 da CPTM com lance de R$ 980 mi, ágio de 203% | Empresas | Valor Econômico (globo.com)]

E tem mais, a Folha de SP divulgou (ver aqui e aqui que o mesmo Rodrigo Garcia, quando era deputado estadual em São Paulo, teria recebido R$ 1 milhão em espécie para acelerar a liberação de verba para a Linha 4-Amarela, do Metrô, segundo o ex-presidente da empreiteira OAS, Léo Pinheiro, preso pela Lava Jato em Curitiba.

Fatos como esse deixam claro que os interesses com a privatização das empresas públicas e serviços básicos como transporte não tem nada a ver com preocupação com o bem-estar da população ou qualidade dos serviços. É mesmo garantir lucros para os patrões e capitalistas com as nossas custas.

E não é só em São Paulo. Por todo o país estamos assistindo uma enxurrada de privatizações com destaque a privatização de 100% dos Correios, da Eletrobras e a constante entrega de partes da Petrobras como suas distribuidoras, por parte do governo entreguista de Bolsonaro e Mourão. Uma política que significa entregar nas mãos de capitalistas estrangeiros e nacionais nossas riquezas e serviços públicos fundamentais para que lucrem enquanto pagamos mais caro por esses serviços.

Por isso, essa luta dos trabalhadores da CPTM, que se enfrenta também contra a privatização e contra a precarização do transporte que atinge toda a população deve ser cercada de solidariedade por toda a população. Afinal de contas, quando uma categoria como a dos ferroviários sofre ataques aos seus direitos, isso serve para os governos se apoiarem para rebaixar ainda mais os direitos dos demais trabalhadores de conjunto.

Justamente por isso, é absurdo que a greve de hoje, organizada por 2 sindicatos da categoria dirigidos pela UGT, não foi acompanhada pelo sindicato dirigido pela CUT que marcou greve para o dia 20. Assim como é escandaloso que a UGT, ligada ao centrão, não construa essa greve pela base para que os trabalhadores tenham em suas mãos os rumos da luta.

É o oposto do que precisamos nesse momento para derrotar o arrocho salarial e a precarização do trabalho na CPTM, que é a unidade entre todos os ferroviários e organização democrática da sua luta. Mas assim também, toda a enxurrada de privatizações em curso no país, os ataques pelas mãos de Bolsonaro e Mourão, e os demais políticos a mando dos patrões, sempre com o aval do judiciário, só podem ser enfrentadas com uma luta organizada com as mais diversas categorias de trabalhadores do país.

É a classe trabalhadora parando tudo numa verdadeira greve geral, indo às ruas junto com os estudantes e setores oprimidos como os indígenas que estão em luta, que realmente pode de fato iria colocar Bolsonaro e Mourão contra a parede, mas junto com eles todos esses políticos e patrões por trás das privatizações e ataques.

VEJA MAIS:A força dos trabalhadores paralisando o país numa greve geral é o que pode barrar privatizações




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