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Eleições 2022 | Campanha de Lula anuncia “carta ao povo evangélico”

Em carta assinada por Lula será selado compromisso com a cúpula das igrejas evangélicas de não interferência na agenda de costumes e lugar garantido nas políticas públicas de seu possível governo.

domingo 9 de outubro de 2022 | Edição do dia

Com o evidente fortalecimento da reacionária extrema direita bolsonarista revelado no primeiro turno, coordenadores de campanha de Lula confirmam que haverá carta de compromissos direcionado aos líderes das cúpulas evangélicas, afirmando que “a pauta de costumes defendida por evangélicos não sofrerá interferência do governo” caso seja eleito.

O distanciamento entre estado e a igreja vem se encurtando drasticamente durante o governo Bolsonaro, ferindo qualquer princípio de estado laico. Bolsonaro e a extrema direita usaram as posições das cúpulas evangélicas para atacar os direitos mais elementares das mulheres e dos LGBTs. As cúpulas evangélicas também adquiriram destaque na política como uma das principais bases de apoio da extrema direita bolsonarista. Caminhou junto ao bolsonarismo como reação ao forte movimento de mulheres que se levantou nos últimos anos (como vimos na Argentina com a Maré Verde), porque consideram as mulheres um setor social que pode questionar seus planos conservadores e o domínio patriarcal das igrejas.

Além disso, a interferência da igreja no Estado envolve, antes de mais nada, altos interesses econômicos, especialmente da cúpula neopetencostal. Não à toa na lista de milionários brasileiros da Forbes encontramos os nomes de Edir Macedo com a fortuna de 950 milhões de dólares, Valdemiro Santiago com 220 milhões de dólares, Silas Malafaia com 125 milhões de dólares, dentre outros. Estes são os burgueses “cristãos” que acumulam fortunas à custa da espoliação dos mais pobres, enquanto a fome reina soberana no país.

Diante disso, Lula quer assegurar às cúpulas evangélicas as posições conquistadas no bolsonarismo, convocando esses políticos de direita encastelados nos privilégios eclesiásticos a fazer política. A própria proposta de carta de compromisso de Lula foi uma exigência em troca do apoio da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que é filha de pastor.

O tom da campanha direcionado aos apoiadores evangélicos de Bolsonaro já começou a se apresentar logo após o primeiro turno. Ao invés de dialogar com a terrível situação de fome, desemprego e trabalho precário que assola milhões de brasileiros, a campanha de Lula-Alckmin decide por dialogar e se comprometer com a cúpula evangélica, o que resultará necessariamente na negação do direito das mulheres ao próprio corpo e à escolha sobre sua maternidade.

Recentemente Lula voltou a dizer que é contra o aborto em vídeo, em um país onde uma mulher morre a cada dois dias devido a abortos inseguros, apenas segundo dados oficiais.

A equipe de campanha de Lula antecipou, não somente o compromisso de não interferência na agenda de costumes desses grupos evangélicos, que atentam contra a liberdade religiosa, a laicidade do estado e o direito das mulheres e da população LGBTQIA+, como também afirma que esses grupos evangélicos vão “participar de políticas públicas e terão lugar de fala para sugerir e participar de propostas”.

O comitê evangélico de campanha de Lula também adiantou que haverá compromisso de integrar evangélicos na reforma administrativa, com intuito de mostrar que “como o evangélico também faz parte da sociedade, naturalmente ele precisa participar desta construção de país por meio da administração pública”. A carta também deve lembrar as medidas de favorecimento do governo do PT para estes grupos religiosos durante os seus anos de governo.

A realidade é que esses grupos evangélicos já vem fazendo parte da administração pública a muito tempo, inclusive ganhando cargos e ministérios durante o governo Bolsonaro, ou até mesmo regulando repasse de investimento de educação em escândalos de corrupção envolvendo barras de ouro. A assistência social também abriu as portas para o “terceiro setor”, ou seja, grupos evangélicos que assumem funções de serviço público. Ou então através da censura nas salas de aulas que proíbem educação sexual e o combate às opressões sob o jugo de serem taxadas como “ideologia de gênero”.

A estratégia de conciliação da chapa Lula-Alckmin segue a pleno vapor. Agora não apenas com banqueiros, empresários, patrões e a direita, mas também com setores da cúpula evangélica, como Eliziane Gama, que cobra seu preço através do compromisso de ainda mais subordinação aos seus interesses econômicos e ideológicos reacionários. Não será se aliando com a direita e cedendo a base ideológica patrocinadora do bolsonarismo que conseguiremos enfrentar e derrotar a extrema direita.

A política do PT fortalece os nossos inimigos da extrema direita. É preciso de um programa e uma política de independência de classes, tomando as ruas com mobilização, luta e paralisações da classe trabalhadora pela revogação das reformas trabalhista e da previdência, assim como reforma agrária radical, aumento salarial automático segundo a inflação, emprego garantido com a divisão das horas de trabalho e redução da jornada de trabalho sem redução dos salários, começando imediatamente pela mobilização contra a reforma administrativa de Lira e os cortes da educação de Guedes.




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