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LUTA DE CLASSES NA AMÉRICA LATINA | Colômbia: paralisação segue e nova jornada contra Duque está sendo convocada para esta quarta

Apesar da retirada da reforma tributária anunciada pelo presidente Ivan Duque neste domingo, os protestos continuaram em diferentes cidades e ocorreram novas mobilizações nesta segunda. O Comitê Nacional de Paralisação chama a população a seguir com as mobilizações e a uma nova jornada nacional de manifestações no dia 05 de maio. O ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, já renunciou.

terça-feira 4 de maio de 2021 | Edição do dia

No último domingo, o anúncio da retirada da reforma tributária, estopim da convocatória para a paralisação nacional e as mobilizações desde 28 de abril, foi motivo de festejos em várias cidades da Colômbia que foram palco das principais lutas e da resistência à brutal repressão do ESMAD (polícia antidistúrbios) e à intervenção do Exército.

Veja também: Cai a Reforma Tributária de Duque com os protestos na Colômbia: é possível ir por mais e derrotar o governo!

No entanto, os festejos não diminuíram os protestos que seguiram durante toda a noite do domingo, com anúncios de mobilizações e cortes de rodovia para esta segunda.

Em conferência conjunta que se realizou entre as principais entidades sindicais da Colômbia (CUT, CGT, CTC e Fecode), o Comitê Nacional de Paralisação chamou a manter as ações ao longo de toda esta segunda-feira e também a uma grande mobilização nacional para esta quarta, 05 de maio, pressionados pela persistência dos protestos em todo o país.

Na manhã desta segunda veio a público a renúncia do ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, junto à sua equipe, deixando o cargo à disposição do presidente Ivan Duque. A renúncia de Carrasquilla havia sido pedida por várias direções sindicais e dos partidos de oposição, que vem tentando descomprimir a revolta eliminando o ministro que esteve à frente do projeto de reforma tributária.

A renúncia de Carrasquilla, no entanto, parece ter sido anunciada tarde demais e já impacta pouco diante das demandas dos manifestantes.

Desde o início a paralisação convocada por organizações sindicais, sociais, indígenas e estudantis aglutinou um nível de descontentamento que ia além da própria reforma tributária. Incluía a situação social calamitosa, resultado da pandemia que aumentou ainda mais a pobreza, que já supera os 40% da população, e também aumentou a fome entre os setores mais pobres. Também colocaram em xeque os anos de neoliberalismo que precarizaram ao extremo a vida e as condições de trabalho dos mais jovens, a privatização dos serviços e as tentativas de acabar com a saúde pública, com a nova reforma da saúde, ou as perseguições às comunidades originárias, a devastação dos recursos naturais e, sobretudo, também levantaram o repúdio à militarização extrema, que tem promovido uma repressão brutal nos últimos dias.

A repressão promovida pelo ESMAD e o emprego do Exército

O governo Duque não hesitou em enviar o Esquadrão Antidisturbios (ESMAD), conhecido por suas práticas brutais e de abusos ao atacar manifestantes desde o primeiro dia, assim como também ordenou o emprego do próprio Exército. Lembremos que as Forças Armadas na Colômbia foram treinadas pelos EUA sob o que se chamou de “Plano Colômbia” e a chamada “guerra contra as drogas”, que estimulou a proliferação de mercenários e bandos paramilitares que assassinaram dirigentes sindicais, camponeses, estudantis e indígenas durante anos. E foram ambas as forças que estiveram à cabeça da brutal repressão aos manifestantes nos últimos dias.

Até a manhã desta segunda, a ONG Temblores, de defesa dos direitos humanos, denunciou 26 assassinatos, 142 feridos e mais de 940 casos de abuso policial no país.

“Na Colômbia não existem garantias para a manifestação social e podemos dizer que nenhuma pessoa está a salvo de ser agredida pela força policial”, disse Alejandro Lanz, codiretor da ONG, que adverte que os registros realizados pela organização não abrangem a dimensão da gravidade nas violações dos direitos humanos em todo o país.

Protestos e organização local

Nesta segunda ocorreram mobilizações em várias cidades do país. Organizações indígenas anunciaram que vão continuar os protestos assim como diversas organizações estudantis que organizaram ações também nesta segunda.

Em Cali, um dos centros dos protestos dos últimos dias, organizações sociais, indígenas e sindicais, mantiveram a jornada de mobilizações nesta segunda no que estão chamando de paralisação cívica indefinida.

“... reconhecemos que vencemos uma primeira batalha com a decisão do governo em retirar a reforma tributária, mas ainda NÃO vencemos a luta, enquanto não se retire todo o “pacotão” de ajustes de Duque que inclui a Reforma Trabalhista, da Previdência e da Saúde, enquanto não haja justiça para as pessoas assassinadas, feridas ou presas neste árduo processo de mobilização”, declara um comunicado emitido pelos convocantes das jornadas de mobilização.

Em conversa com o La Izquierda Diario, William Soledad, estudante universitário de Villavicencio e defensor dos direitos humanos, declarou que “Desde o domingo foi declarada uma paralisação dos caminhoneiros, desde às 5h da manhã. Hoje, segunda, não há táxis, transporte público nem urbano e existem bloqueios nos acessos à cidade”.

Sobre a organização, Soledad ressaltou a importância dos comitês de paralisação departamentais para a coordenação dos protestos locais: “O comitê de paralisação é uma figura que vem se conformando desde os protestos de 2019 até agora, com sindicatos, trabalhadores informais, estudantes e indígenas. Para além da decisão do Comitê de Paralisação Nacional, hoje os comitês de paralisação departamentais exigem que se organize uma paralisação cívico nacional”.

“A demanda central do Comitê de Paralisação Nacional é que não seja tramitada nenhuma das reformas do chamado “pacotão do Duque” que inclui a reforma tributária, da saúde, trabalhista e da previdência. No entanto, a maioria das pessoas que estão se mobilizando nos últimos dias reivindicam além disso a renúncia de todo o gabinete e do próprio presidente Ivan Duque”, conclui William Soledad.

A continuidade dos protestos e os chamados comitês departamentais, bem como de distintas organizações a continuar a luta tornam urgente a preparação de uma verdadeira greve geral, paralisando toda a produção e serviços como o transporte, até derrotar todo o plano de Duque.

Veja também:
Paralisação nacional na Colômbia contra a Reforma Tributária de Duque




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