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Censo 2022 | Com possibilidade de falta de salários, pesquisadores do IBGE abandonam postos de trabalho

Respondendo ao cenário precário de condições de trabalho às quais são impostos, pesquisadores do IBGE abandonam censo e denunciam situações de assédio sexual, injúria racial, assédio verbal e ameaças durante as pesquisas, questões que se somam aos atrasos de pagamento que os obrigam a exercer o trabalho sem estrutura básica de alimentação e transporte.

terça-feira 4 de outubro de 2022 | 17:04

O instituto alega normalidade para os números, mas suaviza o peso do contexto que combina assédios e ameaças com os atrasos de salário, impossibilitando inclusive a própria realização do trabalho, como declarou Plínio Arraes, que compõe a União dos Recenseadores em Salvador (BA), e relatou que as pessoas não tem dinheiro para trabalhar.

Como apontamos aqui, há grande atraso dos setores censitários concluídos, o que indica a situação precária de trabalho que se aprofunda diante dos cortes de verbas do governo Bolsonaro e do novo regime para temporários dentro do sistema da nova reforma trabalhista aprovada no governo Temer e continuada pelo governo da extrema direita.

Com o número de recenseadores atualmente em 95.448 (52,2% do total de vagas), o IBGE adiou para dezembro o fim da coleta de dados, que até o momento atingiu somente 48% da população prevista. Em entrevista, o diretor do IBGE, Cimar Azeredo, atribuiu a um suposto "mercado de trabalho aquecido" o atraso no Censo e minimizou a influência dos atrasos nos pagamentos dos trabalhadores temporários que vem sendo denunciados.

Os relatos dos trabalhadores são fortes e consolidam a soma do descaso brutal em relação aos seus direitos. Tatiane Oliveira Souza conta sobre a sobrecarga cotidiana, a recusa de moradores em responder o censo e a quantidade de trabalho: "Sou uma mãe de família que viu no Censo uma oportunidade de aumentar a renda, mas a gente enfrenta muitas questões. Só queremos trabalhar com dignidade..

As paralisações dos trabalhadores tem sido um espaço de organização pelas seguintes demandas;

  • Correção dos valores por produção e pesquisa (segundo os recenseadores, os valores são de 2020 e precisam ser corrigidos pela inflação);
  • Aumento de 50% para 80% no pagamento adiantado por setor;
  • Aumento da taxa máxima de 5% para 20% de recusas em responder ao questionário;
  • Mudança na calculadora do IBGE para inserir taxas reais e dar transparência de quanto irão receber;
  • Pagamento antecipado do transporte;
  • Canal de atendimento para o recenseador;
  • Comunicação extrajudicial para quem se recusar a responder ao Censo;
  • Pagamentos de todos os débitos atrasados do IBGE…

A partir do Esquerda Diário, fizemos a cobertura de paralisações dos trabalhadores:

Em Recife: Recenseadores em greve em Recife se manifestam em frente à sede estadual do IBGE

Acompanhe uma denúncia enviada ao Esquerda Diário: “Nos contratam em condições sub humanas, quem desistir colocam outro no lugar”

Em Natal/RN, trabalhadores também paralisaram e relataram as condições precárias de trabalho às quais estão submetidos: "Fizemos concurso público pra receber menos que um salário mínimo" declaram recenseadores de Natal/RN

As mobilizações dos trabalhadores causaram descontentamento no IBGE, que conduziu ameaças às vésperas da paralisação, como apontamos aqui: IBGE ameaça recenseadores às vésperas da paralisação

A caracterização absurda do cenário reflete o corte bilionário de Bolsonaro para a realização do censo de 2022, que é quase 50% menor que o orçamento indicado em 2019. O que demonstra que é urgente a união entre efetivos e temporários para que sejam barrados os ataques, já que, como vimos no último domingo de eleições, a força da extrema direita se consolida no país e precisa ser derrotada na luta de classes, não apenas pela via eleitoral, que cumpre a função de canalizar as revoltas e passivizar as massas, prática recorrente das centrais sindicais como a CUT dirigida pelo PT e a CTB, dirigida pelo PC do B. Por isso fazemos aqui um chamado para que estas centrais se unam aos trabalhadores do IBGE, junto aos estudantes representados pela UNE, colocando em xeque a reforma trabalhista aprovada em 2017 justamente com a trégua dessas organizações, para derrotar Bolsonaro e os ataques pela classe trabalhadora e seus métodos de luta.




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