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RIO GRANDE DO SUL | Com repressão a servidores, governo Ivo Sartori aprova aumento de imposto

Entrevistamos Jonathan Saldanha, professor de história em Caxias do Sul, que nos conta como foi a mobilização ontem e fala da situação da luta no Rio Grande do Sul.

quarta-feira 23 de setembro de 2015 | 09:02

ED: Como foi a mobilização desta terça-feira?

Na terça-feira passada nós tínhamos conseguido pela primeira vez na história fazer piquete na Assembleia Legislativa e não deixar que nenhum deputado entrasse. Esse seria o dia do primeiro pacote de votações do governo Sartori (José Ivo Sartori, do PMDB, é o atual governador) contra os serviços públicos. Na quarta-feira nos voltamos e já estávamos sitiados na Praça da Matriz, por aproximadamente 250 policiais e o governo assim conseguiu passar oito projetos que atacam os serviços públicos e os servidores do Rio Grande do Sul.

Hoje (ontem), seria mais uma dia de votação, chegamos lá as seus da manhã e já tinha novamente toda a tropa de choque, que estava lá desde a meia noite da segunda-feira, para impedir o acesso dos servidores à Assembleia. Mesmo com uma liminar que dizia que poderia ter a votação máxima para assistir a votação e pressionar, o governo não respeitou. Mais uma vez ficamos sitiados dentro da Praça da Matriz.

A base radicalizada derrubou as grades e correu até as portas da Assembleia, onde já estava a Brigada e a tropa de choque. No momento de tensão, a tropa de choque desceu a cavalaria e foram cenas cruéis de ataque físico aos servidores, aos professores, tivemos três professores presos, gás lacrimogênio, gás de pimenta, cassetete, cenas bem chocantes da policia contra os servidores públicos.
Uma extrema truculência, os cavalos em cima dos servidores, professores espancados. Apos o recuo, colocaram a grade novamente e ficamos ali. O governo Sartori conseguiu aprovar todos os outro projetos que tinha para hoje como o aumento do ICMS.

ED: Qual a situação do Rio Grande do Sul?

A conjuntura que vive o Rio Grande do Sul é dos mesmos ataques que vem a nível federal, é o mesmo projeto neoliberal do governo Dilma que aqui no Rio Grande do Sul com Sartori está sendo colocado sistematicamente sobre a classe trabalhadora.
Esta chegando até o ponto do parcelamento dos salários dos servidores públicos junto com projetos que sucateiam e destroem todo o serviço público do Estado como a previdência, o ataque a previdência, também questões como o aumento do ICMS, o aumento do imposto. O governo vem com um discurso que não tem dinheiro mas a gente sabe que o Rio Grande do Sul é um estado que dá 15 bilhões de isenção fiscal para empresas, sem contar com os sonegadores, juntamente um governo que não faz uma auditoria da dívida com a União, uma dívida que foi paga há muito tempo e fica só a rolagem da dívida, sangrando os cofres públicos e atacando dessa forma o conjunto da classe trabalhadora.

ED: Como está a luta dos professores?

Nós temos uma direção do sindicato, CEPERS (Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul), que hoje é dirigida por uma burocracia sindical com todas as correntes do PT e do PCdoB que sistematicamente vem colocando derrota sobre a classe trabalhadora, prática das burocracias sindicais, aonde não deflagra uma greve, uma greve até a retirada dos projetos e a volta do pagamento dos salários na integralidade.

Estamos num movimento hoje de defesa, não é mais nem de ofensiva por direitos, porque a gente sabe o quê a gente passou pelo governo Tarso (Tarso Genro do PT, ex governador) que também não pagou o piso pros professores, mesmo dizendo em sua campanha que pagaria, até porque foi ele que criou a “lei do piso” e durante seus quatro anos não pagou o piso para os professores, então nós estávamos na ofensiva e hoje nós estamos tendo que lutar para garantir direitos já conquistados historicamente.

E aconteceu o grave incidente que no dia 11 nós tivemos nossa assembleia e por maioria, nós estávamos em 6 mil na assembleia, a maioria votou pela continuidade da greve e a direção do sindicato deu um golpe na assembleia aonde ela decidiu, mesmo com a maioria votando a favor da continuidade, encerrar a greve. A categoria realmente se sentiu traída pela direção, porque o golpe ficou muito feio porque tem todos os vídeos mostrando que a maioria votou pela continuidade e a direção conseguiu através de um golpe, tanto é que foi uma assembleia bem tumultuada, por pouco que a direção central não saiu à pontapés, teve que sair correndo porque a categoria então se radicalizou pela base, começou a jogar cadeiras na direção, foram para o enfrentamento radicalizado mesmo diante do golpe que ficou claro para todo mundo.

Sendo que encerrar a greve numa semana onde nós estávamos recebendo ataques, saímos de uma greve derrotados, sem nenhum avanço e retornamos a sala de aula bem na semana onde ele (Sartori) vai colocar os projetos, tanto é que ele conseguiu botar 8 projetos, aquartelou a Assembleia Legislativa na quarta-feira e conseguiu aprovar os 8 projetos, dentre eles a previdência, o ataque a nossa previdência, sem a classe trabalhadora poder estar dentro da Assembleia para fazer pressão. Na terça-feira nós tínhamos feito piquete na frente da Assembleia, não ocorreu nenhuma votação porque os deputados não conseguiram entrar.

A burocracia sindical, a gente veio num ascenso grande de mobilizações, coisas que o estado do Rio Grande do Sul nunca viu, um movimento unificado com os outros servidores, mas a burocracia sindical conseguiu colocar a derrota e isso acabou desmobilizando toda a categoria. E essa derrota veio no dia 11 passado aonde nós tivemos nossa assembleia, coisa que a direção sindical não queria que tivesse essa assembleia, nós conseguimos a partir de um conselho ampliado esticar a greve por mais uns dias, por que a tese dessa direção era fazer greve somente greve parcelada, somente nos dias em que ele atrasasse o salário ou quando fosse botado os projetos na Assembleia. Isso fica complicado pra categoria porque tu volta para a sala de aula e aí tu tem que parar e voltar, parar e voltar e se nós mantemos a greve mobilizados a gente consegue realmente fazer um combate efetivo ao governo do Estado.

A mobilização vinha num ascenso, tanto é tivemos uma assembleia histórica, a primeira assembleia com o Gigantinho em Porto Alegre com 15 mil trabalhadores da educação, somente da educação, que era um momento em que a categoria tava mostrando que tava disposta a lutar e já naquela assembleia nós tivemos uma derrota porque passou então a greve por 3 dias - ao qual nós defendíamos a greve continua até a vitória - coisa que de fato se mostrou errada, pois durante os 3 dias de greve o governo não recuou e atacou. Foi naqueles 3 dias ao qual nós estávamos em greve que ele falou que teria só 500 reias para pagar para os servidores no dia do pagamento. Então a gente já via que contra esse tipo de governo não teria outra forma a não ser uma greve forte, efetiva, que conseguisse combater o governo Sartori. Porém a direção central do sindicato tentava no outro flanco derrotar a categoria, desmobilizar a categoria.

ED:Qual a perspectiva agora?

Então hoje nós estamos tendo que ter dois movimentos: uma denúncia permanente da direção central que enterrou a mobilização através de um golpe em assembleia e também temos que tentar novamente mobilizar a categoria para se colocar em luta porque os ataques do governo não pararam. Só que hoje nós temos ao lado do governo uma direção que faz frente com esse tipo de governo, ficando a categoria a mercê de uma direção, então temos que fazer um movimento pela base, tentar se levantar pela base, pra cima do governo e da direção central do sindicato.




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