×

Davos | Começou hoje: com muita demagogia, governos capitalistas se reúnem no Fórum de Davos e Brasil é destaque

O Fórum Econômico Mundial começou hoje em Davos na Suíça. Em um cenário convulsivo, preocupações do conjunto da população como a crise climática e a desigualdade social serão debatidas de forma demagógica em reuniões de cúpula em que participam os mesmos setores que, ano após ano, intensificam estes mesmos problemas em defesa do interesse dos capitalistas. A delegação brasileira, com o comando dos ministros Haddad e Marina Silva traz um discurso em defesa do capitalismo verde e da responsabilidade fiscal, inclui o CEO da Vale que carrega nas costas o peso da tragédia ambiental de Brumadinho, além do ex-ministro de Bolsonaro e governador Tarcísio de Freitas.

segunda-feira 16 de janeiro de 2023 | Edição do dia

Foto: Arnd Wiegman/Reuters

O Fórum Econômico Mundial começou hoje em Davos na Suíça. Depois de um último encontro de relativamente pouco prestígio, o Fórum de Davos volta a ocorrer presencialmente, com a presença de chefes de Estado e representantes dos principais países e empresas imperialistas que se reúnem para debater os problemas do mundo.

O cenário internacional para o ano que se inicia não é animador. O Fórum de Davos se reúne em um contexto com ausência de crescimento econômico pós-pandemia, forte inflação a nível internacional, um conflito em plena Europa com a Guerra da Ucrânia, o aumento das tensões econômicas entre China e Estados Unidos, a ameaça a hegemonia estadunidense na geopolítica mundial, o protecionismo econômico em importantes economias e um cenário conturbado que vêm resultando em crises de representações em uma série de democracias liberais de todo o mundo, com a presença da extrema direita em distintos regimes.

Com este plano de fundo, a demagogia de Davos parece não ter limites ao escolher como tema a Cooperação num mundo fragmentado numa busca por cooperação que não passa das aparências. A unidade em torno de temas comuns como o meio-ambiente e a crise econômica não impede que representantes das potências imperialistas busquem defender os seus próprios interesses, o que se cristaliza na busca de encontros de representantes de Estados Unidos e China com representantes de diferentes países, e que, evidentemente, não visam e nem podem responder às questões ambientais de fato.

Preocupações do conjunto da população como a crise climática, a desigualdade social, os conflitos político-militares são debatidas de forma demagógica em reuniões de cúpula em que participam os mesmos setores que, ano após ano, intensificam estes problemas em defesa do interesse dos capitalistas.

Isso se dá no marco de uma situação econômica e política em que o capitalismo está se encontra em tamanha degradação que mesmo jornais burgueses estão dando peso para como a questão da desigualdade aparecerá no Fórum de Davos. Uma pesquisa preparada pelo Fórum aponta a possibilidade de “inflação, crises de custo de vida, guerras comerciais, saídas de capital de mercados emergentes, agitação social generalizada, confrontos geopolíticos e o espectro da guerra nuclear, acelerado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia em pleno território europeu, que em fevereiro completará um ano.” Ou seja, a possibilidade de que processos de luta de classes se desenrolem a partir de tamanha degradação do capitalismo à nível internacional que só oferece aumento do custo de vida, migrações forçadas, crise ambiental e exploração econômica faz com que os homens mais ricos do mundo precisem fingir que se preocupam com a desigualdade, ainda que façam de tudo para manter esta ordem político-econômica.

O Brasil em Davos

O peso da discussão acerca da questão climática e o início do novo Governo Lula fazem com que o Brasil tenha um painel dedicado à situação do país amanhã. As ações golpistas do bolsonarismo da semana passada contaram poderosas figuras imperialistas internacionais, como Emmanuel Macron, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o próprio presidente norte-americano Joe Biden, além de diversos outros, se pronunciam em rechaço, inclusive inúmeros países da América Latina. Longe de qualquer apreço democrático, os governos imperialistas da França e dos EUA condenam essas ações porque servem para incentivar seus opositores em seus próprios países, como Trump e Marine Le Pen. Além disso, neste momento, há uma ofensiva do regime, com as instituições que conduziram o golpe de 2016, com apoio do imperialismo, respondendo, de modo a preservar todo o legado econômico do golpe e deixar impune parte da cúpula militar e civil responsável pelo golpismo. A ação do STF e demais instituições do judiciário que busca a proibição de protestos e o fortalecimento destas mesmas instituições que defenderam todos os ataques dos últimos anos está a serviço desta estabilização que fortalecem os interesses dos capitalistas que buscam garantir seus próprios interesses no Brasil.

A estabilização política no Brasil é vista como importante para os interesses dos capitalistas frente a expectativa do papel que o Brasil poderia cumprir na economia mundial. Neste sentido, o peso do agronegócio e da exportação de recursos naturais vincula o demagogicamente a preocupação do meio-ambiente com a preservação das reformas, ataques e privatizações que trariam investimentos.

Nesse marco, depois de 4 anos, a diferença entre um governo abertamente de extrema-direita e um governo burguês de conciliação de classes fica clara desde a composição ministerial até a posição com que o Brasil busca se colocar no cenário internacional. Se ao longo dos quatro anos, Bolsonaro menosprezou os problemas ambientais e buscou atrito com alguns atores do cenário político internacional, o novo Governo de Lula vem buscando diversos interlocutores internacionais para estabelecer diálogos, fortalecendo o discurso de que em seus primeiros governos o Brasil era respeitado internacionalmente, vendendo a ilusão de que o caminho para resolver problemas como a crise climática no país passem por construir uma nova imagem do Brasil em nome da defesa do meio ambiente, que na prática significa vender uma estabilidade econômica para representantes das empresas imperialistas que defendem os ataques e as reformas aprovadas nos últimos anos.

Fernando Haddad e Marina Silva são os representantes da delegação federal enviada por Lula. Depois de uma semana de intensa instabilidade com ações golpistas da extrema-direita na invasão das sedes dos três poderes, Haddad vai à Suíça com o objetivo de vender o Brasil como um país estável para o investimento de potências e empresas imperialistas, defendendo a responsabilidade fiscal e a mesma reforma tributária que foi propagandeada hoje por Alckmin na FIESP, ou seja, uma reforma que está a serviço dos grandes empresários, o que vai na mesma direção do anúncio de Haddad que o salário mínimo não aumentará. A imprensa nacional vem aprovando a revogação das reformas seja deixada de lado em nome da busca de acordos econômicos. Isso se deu em paralelo à reunião de Alckmin com a FIESP, tranquilizando de que Lula não revogará as reformas trabalhista e da previdência, e enfatizando também a reforma tributária.

Após reunião recente com o reacionário governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, Lula declarou não se opor à privatização do Porto de Santos Setores reacionários e conservadores como o agronegócio, além de representantes políticos da extrema-direita, seguem tendo bastante influência nos rumos políticos e econômicos do país como expressa a própria presença de Tarcísio no Fórum de Davos defendendo uma suposta agenda verde enquanto está a serviço dos ataques contra os trabalhadores e o meio ambiente no Brasil.

Frente a reorganização da economia mundial e das cadeias globais de valor, o tema ambiental é visto pelo Governo e pelos empresários brasileiros como um tema de atração para investimentos e acordos econômicos. Neste sentido, a presença dos ministros Fernando Haddad e Marina Silva busca combinar a apresentação de um Brasil que está disposto a combinar um discurso de proteção ambiental ao mesmo tempo em que coloca a Amazônia à disposição dos interesses imperialistas. Não é de hoje que Marina Silva busca mesclar pautas ambientais com a defesa de interesses dos capitalistas que lucram com a própria exploração da natureza e dos trabalhadores, como é o caso da Natura. A prova cabal de que a preocupação ambiental é secundária frente aos acordos econômicos é a presença de presidentes e representantes de empresas que cotidianamente destroem a natureza e seus recursos, como é o caso da presença do CEO da Vale na delegação brasileira, a mesma empresa responsável pelo desastre de Brumadinho.

Frente ao negacionismo da extrema-direita que fecha os olhos para a destruição do planeta, fica clara a necessidade de superar a conciliação de classes que busca conciliar coisas antagônicas como a proteção do meio ambiente e a preservação do lucro das empresas imperialistas, batalhando por uma saída independente dos trabalhadores que realmente possa responder aos problemas econômicos e climáticos do mundo, o que não vai se dar em um Fórum que representa o interesse das potências e empresas imperialistas.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias