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Contra os caretas, Gal entrou menina e saiu mulher do palco em 68

Pedro Pequini

Contra os caretas, Gal entrou menina e saiu mulher do palco em 68

Pedro Pequini

Gal, grande ícone da MPB e uma de nossas maiores intérpretes, faleceu aos 77 anos na manhã desta quarta-feira.

Em turnê com o show "As várias pontas de uma estrela", ela havia cancelado a participação no festival Primavera Sound, devido a recuperação de uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita.

Um dos ícones de uma geração que marcou profundamente a música e a cultura brasileira com o movimento tropicalista, ao lado de seus companheiros baianos como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé e Maria Bethânia, Gal Costa sempre apresentou uma “força estranha” em sua voz e nos deixou com uma imensa obra de realizações grandiosas como o disco Fa-tal - Gal a todo vapor.

Considerada por Elis Regina em dado momento como a grande cantora do país, Elis chama Gal de sabiá maravilhoso e disse em entrevista que “nunca vi(u) ninguém cantar tão bem e com tanto conhecimento, (de maneira) tão natural” como Gal Costa.

Inconformada e inquieta, Gal, buscando algo novo, diferente, vibrante, se inspirou no vibrante estilo de Janis Joplin para interpretar a canção Divino Maravilhoso no IV Festival da Record, último festival antes da decretação do AI-5. Num rasgo de voz explosivo, Gal espantou a plateia e os telespectadores com esta canção-palavra de ordem que diz ser necessário estar atento e forte e que não podemos temer a morte no país dos generais assassinos da Ditadura Cívico-Militar de 64. Atenção, diz a cantora baiana, há muito perigo por aí. Enfrentando a vaia dos caretas, Gal afirmou certa vez que entrou menina e saiu mulher daquele palco.

Em um momento político de fortalecimento da extrema-direita, com as Forças Armadas buscando intervir cada vez mais na política e com um judiciário que abusa de autoritarismo, precisamos mais do que nunca resgatar as palavras de Gal, pois precisamos estar atentos e fortes, não temos tempo de temer a morte.


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