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Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos | Cúpula da Celac: entre o apoio ao golpe no Peru e as tensões regionais

Na próxima semana, os chefes de estado que compõem a CELAC se reunirão em Buenos Aires. Esses líderes, incluindo Lula, Boric e Fernández, deram seu apoio público ao governo golpista de Boluarte. Enquanto isso, a presença dos líderes da Venezuela e de Cuba é questionada por representantes do Juntos por el Cambio (oposição de direita argentina).

segunda-feira 23 de janeiro de 2023 | Edição do dia

A VII Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) será realizada no dia 24 de janeiro a partir das 10h na cidade de Buenos Aires, sob a Presidência Pro Tempore (PPT) do governo da Argentina, chefiada pelo presidente Alberto Fernández. Será a primeira vez na história da entidade regional que estarão presentes representantes dos 33 estados que a compõem. Um representante do imperialismo norte-americano enviado por Joe Biden também fará parte do encontro.

A Cúpula da Celac em Buenos Aires acontece em um continente conturbado: poucas semanas depois dos desastrosos e reacionários golpes da extrema direita no Brasil e no momento em que o povo peruano está nas ruas enfrentando o governo golpista de Dina Boluarte, que, apesar da greve nacional e das manifestações exigindo sua renúncia, afirmou que continuará no cargo.

Os manifestantes exigem a renúncia imediata da presidente golpista e o fechamento do ilegítimo Congresso Nacional. Além disso, entre as reivindicações estava o pedido de novas eleições para 2023 e a exigência da convocação de uma Assembleia Constituinte, pedido que ganha cada vez mais apoio da população.

As mobilizações populares, que são massivas e enfrentam repressão - custando a vida de dezenas de manifestantes - mostram a disposição de rejeitar o golpe institucional e contrastam com a posição dos líderes "progressistas" da região.

A moderação de Alberto Fernández e do presidente colombiano Gustavo Petro - que acabou reconhecendo o atual governo - vai ao encontro da posição de Luiz Inácio Lula da Silva, que desejou sucesso a Boularte e destacou que sua tarefa é "reconciliar o país". Essa posição de Lula, que formou uma aliança do PT junto com partidos de direita para chegar ao governo, também se refletiu internamente após as ações golpistas de setores de Bolsonaro. Depois disso, ele ordenou o uso de um dispositivo reacionário (Intervenção Federal) em postos de comando da segurança pública em Brasília e confirmou seu ministro da Defesa de Bolsonaro em seu posto, negando que tivesse pensado em pedir sua demissão, apesar de ele, José Mucio, dizer que essas ações bolsonaristas foram "democráticas". Preservar Múcio, que expressa hoje uma das caras mais reacionárias do governo, é parte de uma política destinada a fortalecer os aparatos repressivos do Estado.

A chanceler chilena, Antonia Urrejola, levantou o apoio do governo Boric em uma reunião com seu homólogo peruano. O governo golpista do Peru respondeu por meio de seu ministro das Relações Exteriores: "Agradeço o apoio do Governo do Chile à assunção do comando constitucional da presidente Boluarte expresso pela Chanceler Antonia Urrejola, que expressou sua posição crítica à ruptura do a ordem democrática ocorreu em 7 de dezembro”.

A cúpula será atravessada por tensões regionais e pela crise no Peru. Enquanto a chancelaria brasileira garantiu que "a decisão de Lula é preservar o quadro institucional do Peru, é o que ele deve fazer para liderar", enquanto o presidente do México, López Obrador, apoia abertamente o ex-presidente deposto e detido José Castillo.

A oposição de direita frente à cúpula

Por sua vez, a oposição Juntos por el Cambio aproveitou a ocasião para acusar Alberto Fernández pela presença de representantes da Venezuela, Nicarágua e Cuba. “Não podemos permitir que o presidente abrace ditadores”, disse Horacio Rodríguez Larreta em relação à presença de Nicolás Maduro na cúpula. Seu adversário dentro do PRO foi um passo além e afirmou que Maduro deveria "ser imediatamente preso" se pisar na Argentina. No legislativo de Buenos Aires, tanto o Juntos quanto os liberais se juntaram ao circo de declarações contra os líderes desses países, apresentando propostas para declarar o presidente venezuelano como "persona non grata".

Progressismo? essa eu te devo

Esta cúpula da CELAC revela até onde vão as bandeiras de muitos dos que se dizem progressistas neste momento. Do Governo de Boric, assumido após a enorme revolta que abalou o Chile em 2019 ao peronismo de Alberto e Cristina Fernández e sua submissão ao FMI, passando pelo novíssimo retorno do Brasil a esta cúpula - após uma ausência de três anos sob Bolsonaro - concordam em seu apoio ao governo golpista e assassino de Dina Boluarte. Se no início dos anos 2000 esses setores buscavam uma retórica de unidade latino-americana e um certo enfrentamento discursivo com o imperialismo, hoje é claro que estamos diante de uma degradação dessas bandeiras. Um claro contraste com a vontade que vem demonstrando o povo do Peru, que vem enfrentando a repressão em todo o país, exigindo a renúncia do governo e colocando a necessidade de uma nova Assembleia Constituinte para discutir democraticamente toda a composição desigual, antidemocrática e injusta do Estado, mostrando a energia e a vontade de ampliar suas aspirações, de liquidar a herança neoliberal do fujimorismo que todos os governos vêm arrastando desde os anos 1990 para esta parte. É a esse combativo povo peruano que hoje esses governos decidem virar as costas em respeito à "institucionalidade".

Hoje, mais do que nunca, é essencial acompanhar a luta de todos os trabalhadores e povos latino-americanos, independentemente da direita reacionária e desses "progressismos" que não oferecem outra alternativa senão manter a dependência e o atraso.




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