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[Dossiê] 30 anos do massacre do Carandiru: as marcas racistas do Estado brasileiro no país de Bolsonaro

Renato Shakur

[Dossiê] 30 anos do massacre do Carandiru: as marcas racistas do Estado brasileiro no país de Bolsonaro

Renato Shakur

“De madrugada eu senti um calafrio, não era do vento, não era do frio”, assim que o “Diário de um Detento” dos Racionais Mc’s narra o começo daquele 1º de outubro de 1992, o prelúdio de um dos maiores massacres da história do país com 111 mortos, a maioria negros. Essa foi a marca que a burguesia brasileira, através do governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho e do comandante Ubiratan Guimarães, deixou e que sentimos até os dias de hoje.

Sem justiça, milhares de famílias e amigos de jovens assassinados a sangue frio sem chance de defesa lembram das vítimas com o coração partido de ter perdido a chance de vê-los ainda com vida no final de suas penas. Mas o capitalismo brasileiro além de racista, é covarde. Como os Racionais lembram, aquela “maioria de moleque primário” foram julgados sumariamente pelo cano do fuzil e lâmina das facas, sem a mínima chance de defesa por serem negros e pobres, vítimas de um sistema podre: “O senhor é meu pastor, perdoe o que seu filho fez, morreu de bruço no salmo 23”. Um dos detentos que conseguiu sobreviver ao massacre do Carandiru disse que os policiais matavam “a punhalada, a estiletada”, muitos dos detentos morreram com tiros no tórax e cabeça, com claras evidências de execução.

A rebelião na penitenciária do Carandiru que havia começado no dia 2 de outubro de 1992 entrou para história como um verdadeiro banho de sangue negro, uma atrocidade histórica até então sem comparação. Regada a covardia e impunidade dos policiais que mataram centenas de jovens com tanto ódio e brutalidade, cada detento assassinado, a polícia e o governo Fleury mostravam a essência racista da burguesia brasileira construída durante longos anos de escravidão e revolta negra que via aqueles detentos não como pessoas, mas de uma forma reacionária e pragmática: “9 pavilhões, 7 mil homens que custam 300 reais por mês cada”.

A imagem que temos do Massacre do Carandiru onde aqueles “cachorros assassinos”, a tropa de choque da polícia militar do estado de São Paulo, entraram para matar também foi a expressão de como na etapa neoliberal cheia de privatizações e ataques aos trabalhadores a burguesia precisa deixar sua “marca” racista na carne de milhões de brasileiros. Naquele momento a burguesia queria dizer que não só passaria os planos de ajustes orquestrados no Consenso de Washington se submetendo aos ditames imperialista norte americano, mas que faria isso, inclusive, banhado a sangue negro. Recorrendo novamente a Mano Brown, a rebelião que antecedeu o massacre, “era a brecha que o sistema queria”. Uma demonstração reacionária, a serviço do imperialismo e do lucro, o massacre, a covardia, a violência policial seriam as armas que a burguesia iria colocar contra nosso pescoço e contra nossa gente.

O Brasil de Bolsonaro, um grande inimigo dos negros, mulheres, indígenas e lgbtqia+ vimos aprofundar não só racismo e a violência contra os setores oprimidos, mas também a fome, a precarização do trabalho e a miséria. A extrema-direita de nosso país, comemora e muito massacres como o do Carandiru, o próprio Bolsonaro chegou a falar que “a PM devia ter matado 1.000 e não 111". Isso porque desde o golpe institucional com a mudança da correlação de forças a favor da burguesia e de um regime político cada vez mais reacionário, sobretudo com a reforma da previdência e a reforma trabalhista que passaram sem um plano sério das centrais sindicais e a emergência de uma extrema direita racista, o racismo e a violência se aprofundar cada vez mais. Basta ver a violência policial no Rio de Janeiro, com a chacina do Jacarezinho, os ataques violentos as populações indígenas que tiveram o caso emblemáticos do assassinato de Dom e Bruno.

Por isso que 30 anos depois do extermínio no Carandiru ainda não há justiça sobre os crimes cometidos e seus culpados. Não podemos confiar que o STF, uma instituição que apoia os ataques e reformas em curso, além de ter sido um peça fundamental no golpe institucional de 2016 e na proscrição de Lula, pode dar uma resposta ao massacre. Só a força da nossa mobilização, dos trabalhadores, movimento negro, movimentos de favela, etc. é que pode arrancar justiça por esse crime bárbaro.

As centrais sindicais como a CUT e a CTB deveriam levantar um plano sério de lutas contra as reformas e os ataques de Michel Temer e Bolsonaro e por justiça aos assassinados no massacre do Carandiru, ao invés de canalizar todo ódio e sofrimento da população à chapa Lula-Alckmin. Vale lembrar que foi no governo do PT que houve a invasão das tropas brasileiras no Haiti, comandada na época pelo general Heleno, que hoje comanda o GSI de Bolsonaro. E o próprio Alckmin, além de ter sido responsável pela chacina de Pinheirinho, nomeou um dos responsáveis pela chacina do Carandiru, o coronel Nivaldo Cesar Restivo, para comandar a polícia militar no estado de São Paulo.

O Massacre do Carandiru já apontava como a burguesia brasileira e seus governos de turno lidariam com a questão negra nos anos seguinte, não à toa com a eleição de Bolsonaro aconteceu um choque à direita nas relações raciais, com ataques violentos através da polícia, milícia, garimpeiros e fazendeiros contra a população negra e indígena. O país de Bolsonaro tem as marcas deixadas pelo Massacre do Carandiru, por isso que 30 anos depois daquele 2º de outubro de 2022, exigimos justiça aos assassinados e denunciamos os assassinos covardes que marcaram a etapa neoliberal brasileira com sangue negro.

Confira alguns de nossos materiais sobre o tema:

Carandiru: Um especial sobre o maior massacre carcerário do Brasil, por Gabriel Brisi e Laura Sandoval

Tribunal de SP anula condenação de policiais do Massacre do Carandiru, por Guilherme Costa

Bolsonaro defendeu o massacre de 111 presos no Carandiru em evento no Ceagesp

[Esquerda Diário 5 Minutos] 04/10 - 29 anos do Massacre do Carandiru

Impunidade pelo massacre do Carandiru avança com votação de anistia a policiais na CCJ


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Renato Shakur

Estudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF
Estudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF
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