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A seção “Esquerda em Debate” está aberta aos ativistas críticos à chapa de Lula e Alckmin, à política de conciliação de classes do PT e à diluição do PSOL com Alckmin e Marina Silva. Trata-se de uma tribuna aberta a militantes do PSOL e ativistas e intelectuais independentes. Nela, publicamos posições do MRT, mas também de setores da esquerda em um campo mais amplo com o intuito de cultivar o debate franco e aberto na esquerda brasileira. As posições contidas no texto são de responsabilidade dos firmantes e não refletem as posições do MRT. Envie também seu texto para essa seção aberta.

sexta-feira 16 de setembro de 2022 | Edição do dia

Bolsonaro comprovou a máxima de Marx de que a História acontece primeiro como tragédia e, depois, como farsa. Meses após uma intensa preparação, com agitação massiva em suas bases e muita grana despejada pelo governo e por seus amigos empresários, o presidente transformou as festividades do Bicentenário da Independência num palanque eleitoral.

Como farsa, porque Bolsonaro pegou a ideia emprestada da ditadura militar que, em 1972, converteu os festejos de 150 anos da Independência numa série de atividades para angariar apoio à ditadura.

Se a ditadura desfilou pelo país com os ossos de D. Pedro I, desta vez o governo Bolsonaro importou o coração embalsamado do monarca para a sua festa macabra. A convocação deste dia 7 ocorreu junto às ameaças de golpe e às intimidações de um governo que, a menos de um mês das eleições, se vê com poucas chances, mesmo com o bilionário pacote eleitoral.

Feriado transformado em campanha eleitoral

O que se viu neste 7 de Setembro, porém, teve um tom maior de campanha eleitoral do que de ameaça de ditadura, tentando ir além dos 30% de apoio em que está estagnado e, ao mesmo tempo, buscando produzir imagens para embalar seu discurso de que é maioria e só não será reeleito se as eleições forem fraudadas.

Tudo, como não poderia deixar de ser, permeado pelo discurso machista e misógino de Bolsonaro e com toda estrutura do Governo Federal e das Forças Armadas.

O bolsonarismo moveu algumas dezenas de milhares de pessoas para os atos em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mostrou que, embora esteja atrás nas pesquisas, permanece com capacidade de mobilização de seu núcleo mais duro, inclusive na base das forças de segurança. Ou seja, mesmo que perca as eleições, vai se manter como força ativa e mobilizada no futuro.

Foi vergonhoso o papel desempenhado pelas direções do movimento, com o PT à frente, que desmobilizaram os protestos contra as ameaças bolsonaristas, promovendo comícios eleitorais em seu lugar.

Isso desarma a classe, deixa a ultradireita à vontade para seguir ameaçando, e planta, ainda, mais ilusões nas eleições, como se uma vitória eleitoral fosse capaz de acabar com o bolsonarismo, ainda mais quando são justamente a crise do sistema e os fracassos dos governos de conciliação com a burguesia, como os que fez e pretende repetir o PT, os responsáveis pelo crescimento da mesma.

Uma falsa independência

A campanha e o discurso do bolsonarismo pegam carona num nacionalismo fajuto, que esconde o fato de que seu governo, com a cúpula das Forças Armadas a tiracolo, é um dos mais entreguistas da História. Um governo capacho do imperialismo, disposto a entregar o país de bandeja, das estatais à Amazônia, passando por todas as nossas riquezas.

A realidade é que o Brasil nunca foi um país independente. A “independência” sem abolição da escravidão e sem colocar fim à monarquia foi pactuada com a metrópole portuguesa e sucedida pela submissão ao imperialismo inglês e, depois, ao norte-americano e demais países ricos.

No último período, o país passa por um acelerado processo de recolonização, voltando ao seu antigo papel de mero exportador de commodities ao mercado internacional, algo que Bolsonaro defende e luta para se mostrar como o melhor para levar isso até o fim, batendo continência para a bandeira norte-americana.

A alternativa Lula-Alckmin não representa uma alternativa para o Brasil conquistar a sua soberania. Basta dizer que nos governos Lula e Dilma o país deu continuidade à política de FHC, avançou nessa localização de maior desnacionalização da economia e de fornecedor de matérias-primas ao mercado internacional, com o agronegócio e a indústria extrativista, ao custo da desindustrialização, do rebaixamento tecnológico, da destruição do meio ambiente e da vida das populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas.

Mas não é só isso. A economia do Brasil, hoje, é dominada por não muito mais do que 100 grandes empresas. E estas por alguns poucos grandes investidores e banqueiros internacionais. São grandes grupos econômicos que se apropriam do que é produzido pela classe trabalhadora e dividem os lucros entre alguns bilionários nacionais e estrangeiros.

As remessas de lucros e mecanismos como a dívida pública são dutos que canalizam grande parte das riquezas produzidas pela classe trabalhadora no Brasil para megainvestidores estrangeiros e países ricos, com a cumplicidade de uma burguesia brasileira que é sócia na rapina do país e pouco se importa se os trabalhadores e a maioria do povo brasileiro vivam de mal a pior.

É impossível termos uma verdadeira soberania e sairmos do jugo do imperialismo estando junto e governando com grandes empresários, o mercado financeiro, o agronegócio, e setores da direita, como Alckmin.

Nestas eleições, soberania e independência é 16

Para ter independência e soberania plenas é preciso enfrentar o imperialismo, estatizar as 100 maiores empresas e multinacionais que controlam a economia e proibir as remessas de lucros. É preciso reestatizar as empresas privatizadas, incluindo, aí, a Petrobras que, hoje, tem a maior parte de suas ações negociadas em Nova Iorque. Como também, suspender o pagamento da dívida pública, para investir em empregos, saúde, educação, moradia, meio ambiente, saneamento, reforma agrária e agricultura familiar.

Não é possível ter soberania e independência sem atacar os lucros e propriedades das grandes empresas, nacionais e estrangeiros, que, juntas, submetem o país. E isso só classe trabalhadora, juntamente com os setores populares, pode fazer, com organização, mobilização e um projeto independente da burguesia, instituindo um governo socialista dos trabalhadores.

E só dá para garantir essa alternativa fortalecendo um projeto socialista e revolucionário no país, ganhando o maior número de trabalhadores, jovens e setores oprimidos para a construção dessa saída.

A chapa do PSTU e do Polo Socialista Revolucionário, Vera e Raquel Tremembé, tem o objetivo de fortalecer este projeto socialista e revolucionário. Cada voto nestas eleições é útil na construção dessa alternativa e, por isso, é o único voto que pode fortalecer a classe trabalhadora, com consciência, organização e luta.

Entre nessa luta com a gente. Vamos de 16!

Publicado originalmente aqui em 09/09/2022




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