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Precarização | “Elas são obrigadas a comer escondido no banheiro”, veja entrevista com Adriana Cunha sobre terceirização na UFRGS

O Esquerda Diário conversou com Adriana da Silva Cunha, presidenta da Associação Terceirizados Unidos, em Porto Alegre, que nos contou um pouco sobre a situação dos trabalhadores terceirizados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

domingo 4 de setembro de 2022 | Edição do dia
Da esquerda para a direita: Adriana, Rosa e Ana - as três são lideranças da Associação

Boa parte dos serviços da UFRGS são prestados por empresas terceirizadas que a reitoria contrata, como os da limpeza, segurança, jardinagem, restaurantes universitários, etc. Esses trabalhadores possuem menos direitos, salários baixíssimos, vivem sob rotatividade constante e em um regime de trabalho que Adriana nomeou como “escravidão moderna”. Na área da limpeza, a maior parte é composta por mulheres. A Associação surgiu após uma importante luta em 2016, em que terceirizadas do campus do Vale fizeram greve contra o atraso salarial. Nós do Esquerda Diário e da Faísca Revolucionária fizemos essa entrevista para denunciar o trabalho precário e as barbaridades que a terceirização impõe na universidade “de excelência” da UFRGS.

Esquerda Diário: Adriana, você poderia nos contar como é a vida de um trabalhador terceirizado na UFRGS?

Adriana: A grande maioria dos trabalhadores terceirizados não tem lugar físico para ficar: sala de convivência, lugar para descansar, não tem direito de almoçar nos Restaurantes Universitários (RUs), não tem cozinha para cozinhar. Muitas trabalhadoras têm um segundo emprego ou estudam na faculdade. Nós lutamos por um lugar digno para almoçar.

Lutamos para que ninguém tenha medo de conversar com os estudantes ou professores. A universidade não deixa o terceirizado conversar com o estudante ou professor porque gera vínculo entre eles. A universidade vê os terceirizados como descartáveis e são invisibilizados. O pessoal da jardinagem, o vigilante, da limpeza, todos são discriminados. Muitos deles são negros. Não podem falar com ninguém, se reivindicarem seus direitos ou se reclamar, eles podem ser demitidos. Uma reivindicação deles é poder fazer um curso para se especializar, ter mais oportunidades para poder evoluir. Por que não possibilitar que o trabalhador possa virar doutor?

Esquerda Diário: Sobre essa questão da invisibilidade, você poderia falar mais? Recentemente nós do Esquerda Diário recebemos uma denúncia de uma trabalhadora do RU que disse a mesma coisa (a denúncia pode ser lida aqui: “Nos tratam como invisíveis”).

Adriana:
Eu acho que existe uma falta de empatia grande na UFRGS. É uma universidade de excelência, que forma médicos, advogados, engenheiros, e mantém uma escravidão moderna dentro. Tem muita gente boa dentro da UFRGS, que compra a briga com os trabalhadores, mas quem tem mais força?

As trabalhadoras da limpeza tem 15 minutos de intervalo e não tem onde comer. Elas são obrigadas a comer escondido no banheiro, porque não podem parar o serviço para comer. Tem horários de entrada e saída diferentes, para elas não se organizarem. A terceirização escraviza as pessoas. Tem muitas trabalhadoras que estão em situação de vulnerabilidade, são pessoas sensíveis, com menos escolaridade, algumas vieram das vilas, de quilombos. Tem muitos que não tem tempo para assistir a uma notícia, ler sobre direitos. Por que elas não podem falar? Não querem que elas pensem. Deus me livre teu chefe te pegar sentado! Porque você vai estar pensando… é aquela coisa né, trabalhador unido… dá em revolução né. Por isso falamos de escravidão moderna.

Esquerda Diário: As empresas terceirizadas são todas as mesmas?

Adriana: São muitas empresas. Elas quebram e voltam com outro nome. Tem muitos laranjas no processo. É muito difícil saber quem são os donos. Eles trocam de nome a toda hora. Eles nunca sabem de nada.

Esquerda Diário: Têm havido demissões na UFRGS recentemente?

Adriana: Sim. Eu não sei dizer em números. Mas muita gente foi mandada embora durante a pandemia. Os serviços que paralisaram, teve gente que foi embora, da portaria, da limpeza. Teve trabalhadora que morreu de covid, que tinha que trabalhar porque não tinha outro serviço.

Esquerda Diário: Como surgiu a Associação Terceirizados Unidos?

Adriana: Surgiu de sofrimento. Tivemos apoio da ASSUFRGS (Sindicato dos Técnico-Administrativos da UFRGS, UFCSPA e IFRS). Tivemos a ideia de montar a associação e eles nos ajudaram. Ela propõe igualdade de direitos para as pessoas poderem trabalhar – todos os trabalhadores – igualdade de direitos para todos!




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