×

CINISMO BURGUÊS | Em carta, empresários e banqueiros lavam as mãos cinicamente da responsabilidade pela pandemia

Com mais de 500 assinaturas de banqueiros, empresários e diversos economistas, carta expôs o posicionamento de setores peso pesados da burguesia brasileira. Enquanto enquadra Bolsonaro, em relação a lentidão das vacinas e a manutenção de negacionismo contra as medidas de isolamento social, a carta endossa a atuação de governadores e prefeitos também responsáveis pela catástrofe sanitária.

segunda-feira 22 de março de 2021 | Edição do dia

Foto: Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, co-presidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco

O tamanho da catástrofe sanitária e econômica que atravessa o país não permite mais o silêncio de nenhum setor. Membros da mais alta burguesia nacional vieram a público se posicionar contra o caos sanitário, buscando demagogicamente demarcar sua oposição ao negacionismo criminoso de Bolsonaro. Grandes empresários que ao longo da pandemia mantiveram sua pressão pela reabertura da economia, agora se colocam como defensores da vacinação e da distribuição de máscaras, preocupados que estão com o ritmo lento da imunização da população que deve deixar o Brasil para trás na retomada do dinamismo da economia contra as demais nações, uma “recuperação retardatária” em suas palavras.

A mesma elite econômica, de empresários e banqueiros, que ao longo da última década foram patrocinadores das reformas e ajustes que, por exemplo, minaram e comprometeram a capacidade do sistema público de saúde de dar respostas a pandemia. Ajustes justificados por boa parte dos economistas neoliberais que assinam a carta, como Armínio Fraga, Bernard Appy, Pedro Malan, Marcílio Marques Moreira e Rubens Ricupero, e que por mais que tentem se descolar do governo Bolsonaro, seguem como apoiadores dos ataques de Guedes, como a PEC Emergencial aprovada e que deixará os servidores públicos 15 anos com salários congelados. Assim como, Bolsonaro, governadores e STF, essa burguesia é parte do regime do golpe que produziu e administra essa crise sanitária e econômica que deixa os trabalhadores esprimidos entre o risco da morte pela covid ou da fome provocada pelo desemprego.

A carta serve como uma advertência a Bolsonaro, de que sua tentativa parcial de reversão do discurso negacionista, ainda é muito tímida diante da claudicante campanha de vacinação, repleta de atrasos e rebaixamento no número de doses. Além disso, a carta é bastante enfática na defesa das medidas de isolamento social, debandando totalmente para o lado dos governadores nessa contenda, chegando ao ponto de sugerir um consórcio de governadores para a coordenação nacional do combate à pandemia, em relação às medidas de restrição e de aquisição de vacina.

A carta é uma evidência do que alguns analistas já ponderam, que certa fração das elites econômicas questiona a linha negacionista de Bolsonaro pelos riscos de explosão social, como defendido pela analista do jornal Valor na análise dos atos bolsonaristas do dia 14/03. Seria o caso dos 500 signatários da carta, em que salta aos olhos os nomes de tubarões do mercado financeiro, como os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles (co-presidentes do conselho do Itaú Unibanco) e o presidente do Credit Suisse no País, José Olympio Pereira. Além de nomes do setor produtivo como Pedro Parente, presidente do conselho de administração da BRF, que detém as marcas Sadia e Perdigão, e Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e hoje presidente-executivo da Ibá (entidade que representa a cadeia produtiva de árvores, papel e celulose). Enfim, poderosos representantes de uma burguesia urbana que mostra mais preocupação com a posição retardatária brasileira na retomada da economia pós-vacinação.

Do alto de seus lucros bilionários, essa burguesia se ressente do aperto na sua taxa de lucro, que por exemplo fez baixar os monstruosos lucros dos grandes bancos brasileiros (Itaú, Bradesco, Santander) que apesar de totalizarem R$ 61,6 bilhões, representaram a maior queda nos últimos 21 anos, em comparação com os lucros de 2019. Por isso, enquanto citam na carta a preocupação com o alto desemprego no país, não estão de fato preocupados com as perspectivas de miséria e fome que assombram as famílias trabalhadores, mas calculam no longo prazo como se manterão com uma taxa de lucro tão modesta - na casa das dezenas de bilhões - enquanto outras burguesias já poderão ter retomado uma extração mais volumosa de recursos. Cinicamente, falam do desemprego, enquanto seguem demitindo em meio a pandemia.

A carta fala ainda na necessária manutenção de medidas como o auxílio emergencial, sem se revoltar com o indigno valor de R$ 150 a R$ 375 que o governo irá adotar nessa nova rodada de auxílio. A taxação das fortunas desses bilionários poderia custear um auxílio emergencial muito superior, suficiente para que nenhum trabalhador passasse fome.

Para além da defesa das vacinas e de máscaras, ou das insuficientes medidas restritivas, são medidas anticapitalistas como essas que atacassem os obscenos lucros desses bilionários, que proibissem as demissões, que impusessem o pagamento de licença remunerada para todos os trabalhadores não essenciais e de grupo de risco, que garantiriam a sobrevivência econômica de todos os trabalhadores nesse momento de crise. Além disso, as industrias controladas por esses burgueses poderiam também estar a serviço do combate a crise sanitária, reconvertendo sua produção para atender a demanda por insumos hospitalares e todo tipo de equipamentos de proteção. Um programa assim, a serviço da proteção do emprego, da renda e da vida dos trabalhadores só pode ser atingido através da mobilização e atacando o lucro dessa burguesia.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias