Após denúncia feita no final do mês de agosto, imagens comprovam agressão da embaixadora das Filipinas Marichu Mauro, contra empregada doméstica na residência diplomática. O Ministério Público abriu inquérito para investigar o caso, entretanto a embaixadora é protegida pela imunidade diplomática.
segunda-feira 26 de outubro de 2020 | Edição do dia
A vida pública da embaixadora no Brasil foi um pouco agitada: ao chegar ao Brasil, há cerca de dois anos e meio, foi recepcionada pelo ex-presidente Michel Temer, participou de vários eventos e, no início deste mês, recebeu até uma condecoração do presidente Bolsonaro. Além do Brasil, Marichu é embaixadora das Filipinas na Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname. Antes disso, teve passagens por consulados na Bélgica e Itália.
Entretanto, protegida pelos muros da embaixada e longe das câmeras, a diplomata agredia repetidamente uma empregada doméstica. A mulher de 51 anos, trabalhava na residência oficial da embaixadora e também é filipina. As agressões foram registradas pelo circuito interno e vistas por um funcionário que não se identificou. Após analisar a fundo as câmeras da residência oficial, foi descoberto que a vítima era agredida praticamente toda semana.
“Todas as vezes que eu vi, ela simplesmente só se encolhia, tentava proteger o rosto. E mesmo assim era infeliz... Não conseguia se proteger. Ela foi agredida várias vezes e por vários dias”. - disse funcionário ao G1.
Há cerca de 10 milhões de filipinos trabalhando no exterior, muitos fazendo serviços domésticos. O movimento é incentivado pelo governo local, já que o dinheiro que os imigrantes mandam de volta para o país equivale a quase 10% do PIB. Por isso que, organizações que auxiliam os trabalhadores no exterior, acusam o governo de fechar os olhos para casos de agressão e maus tratos. Em 2017, relatamos aqui no diário a condição de trabalho das empregadas domésticas das Filipinas para famílias ricas no Brasil.
O governo das Filipinas é denunciado com frequência por organizações internacionais por desrespeitar os direitos humanos, especialmente por prender e intimidar opositores. O próprio presidente, Rodrigo Duterte, já admitiu ter matado supostos criminosos quando era prefeito. Nesse ano, ainda ordenou a polícia à matar quem descumprisse regras da quarentena.
O Ministério Público do Trabalho abriu um inquérito para investigar o caso, porém, é provável que Marichu fique impune e nada aconteça, devido à imunidade diplomática, onde não pode ser presa e nem processada pelo Estado brasileiro. Mesmo com as investigações, na sexta-feira (23), a embaixada das Filipinas acionou a Polícia Militar, pois a diplomata se sentiu incomodada com a presença de jornalistas no lado de fora de sua residência. Isso mostra que, não importa a gravidade do caso, a polícia militar sempre estará ao lado do governo e de pessoas com um nível maior de autoridade.