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Esther Majerowicz: "A acumulação capitalista no campo é a principal via de proletarização na China"

André Barbieri

Esther Majerowicz: "A acumulação capitalista no campo é a principal via de proletarização na China"

André Barbieri

André Barbieri, doutorando em Ciências Sociais pela UFRN, do Ideias de Esquerda e do Esquerda Diário, entrevista Esther Majerowicz, professora do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ela coordena o Grupo de Pesquisa em Economia Política do Desenvolvimento nessa mesma universidade. Recentemente, organizou, em conjunto com o Prof. Edemilson Paraná, o livro "A China no Capitalismo Contemporâneo", publicado pela editora Expressão Popular.

Discutem-se distintos aspectos da vida política, econômica e social da China atual na era Xi Jinping. A disputa estratégica entre Estados Unidos e China ganhou um novo episódio em agosto com a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan. Abriu-se assim mais uma fissura com espaço para escaladas entre as partes, que alguns analistas consideram uma "nova Guerra Fria", retomando os termos do conflito entre EUA e a URSS. Discute-se a terminologia em si, e se o conceito responde a uma relação bilateral tão diversa àquela entre as superpotências da segunda metade do século XX, especialmente quando o caráter social da China é determinado pelas relações de produção capitalistas.

Veja a entrevista na íntegra:

Em debate está a disputa entre Estados Unidos e China no âmbito das tecnologias da informação e comunicação, em vista dessa disputa geoestratégica que envolve Taiwan, que detém um enorme papel na fabricação de semicondutores de última geração, microchips e circuitos integrados que alimentam todo o sistema da digitalização capitalista, e portanto uma tecnologia cobiçada tanto por Washington como por Pequim. Esther discorre sobre a dificuldade da internalização de toda a base industrial dos semicondutores, que se integra a nível global, que viabiliza todo o ecossistema das tecnologias de informação e comunicação. A imprevisibilidade da resultante geopolítica e da luta de classes informa o difícil desenlace de uma competição que leva os Estados nacionais a tentarem dominar pontos centrais da cadeia produtiva, como o acesso aos equipamentos de manuftaura de semicondutores.

O caráter social da China e o caráter específico da estrutura capitalista chinesa. Seu avanço se ergueu sobre as costas de um segmento importante de trabalhadores rurais que iam para as cidades costeiras, sendo superexplorados nas fábricas de Shenzhen, Cantão, Xangai, na indústria orientada à exportação. Esther deu conta da importante transformação no campo com a formação do mercado de terra rural e a entrada de empresas altamente capitalizadas na agricultura, que fizeram da lei da concorrência um mecanismo da "descampesinação", tornando irreconhecível o camponês que se conhecia na época das reformas, e incrementando o volume de trabalhadores assalariados rurais. A atuação em comum do Estado com o capital nativo e estrangeiro torna o Partido Comunista Chinês o promotor de uma crise agrária de caráter histórico no século XXI.

Em pauta está também a ligação dessa questão social no campo com a luta de classes nas cidades, e a capacidade dos trabalhadores chineses, integrados em grande medida pelos trabalhadores migrantes do campo, de apresentarem uma perspectiva histórica distinta daquela que desenham determinados analistas limitados às discussões de geopolítica entre o imperialismo norte-americano e o regime bonapartista autoritário de Xi Jinping.


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André Barbieri

São Paulo | @AcierAndy
Cientista político, doutorando pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é editor do Esquerda Diário e do Ideias de Esquerda, autor de estudos sobre China e política internacional.
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