×

GRÉCIA | Estudantes gregos tomam as ruas para lutar contra a militarização das universidades

Em uma semana repleta de acontecimentos que atacam principalmente a juventude, os estudantes sairam às ruas com mobilizações para reivindicar contra as reformas antidemocráticas e o avanço do militarismo conservador.

segunda-feira 25 de janeiro de 2021 | Edição do dia

A situação na Grécia é complicada há uma década, isso não é novidade. No entanto, a chegada da pandemia agravou uma realidade que já era dura. O governo conservador da Nova Democracia liderado por Kyriakos Mitsotakis proibiu protestos e reuniões nas ruas, usando a pandemia como desculpa e reprimindo as manifestações com grande violência. Enquanto isso, as empresas abrem suas instalações e a Igreja Ortodoxa desafia as leis de quarentena impunemente e seus padres promovem teorias de conspiração anti-vacinas em centros religiosos.

Com manifestações em Atenas, Salónica e Patras, esta semana milhares foram às ruas com gritos antifascistas e anticapitalistas e um grande repúdio ao governo da Nova Democracia. Como de costume, a Polícia agravou a intensidade do conflito com violência desnecessária, atacando com gás lacrimogêneo e espancando jovens e adultos que se manifestavam pacificamente e marchavam com tranquilidade.

21/1 Athens, Greece. Second and bigger students protest against the proposals of the right-wing government to introduce a police force inside public universities and other new education laws. from r/socialism

Como parte de um panorama econômico que já há uma década parece irrecuperável; Com uma dívida que deverá ultrapassar 200% do PIB, a redução dos direitos laborais e a suspensão do pagamento de horas extras, são os jovens os mais afetados: com uma taxa de desemprego de 33% para todos menores de 24 anos (ELSTAT, Autoridade Estatística de Helena), muitos aguardam um futuro de fome ou exílio. Os problemas não acabam aqui para os jovens, porque o ministro da Defesa Nacional, Nikos Panagiotopoulos, anunciou que vai estender o serviço militar obrigatório de nove para doze meses; uma decisão que visa cobrir os números do desemprego e tentar intimidar o seu vizinho, a Turquia. Mas o problema não acaba aqui porque, desde o início de 2021, o governo helênico começou a tentar criar unidades especiais de polícia para militarizar as universidades.

Esta é uma medida particularmente polêmica porque data de 1973, quando uma grande mobilização popular contra a junta militar que presidia o país foi violentamente reprimida pelas forças de segurança, torturando, prendendo e causando um massacre que deixou 39 mortos e mais de 1.100 feridos. Naquele evento que mais tarde seria conhecido como "A revolta da Politécnica de Atenas", o Exército Helênico tentou interromper a tomada da universidade passando por suas portas com um tanque de guerra. Depois deste acontecimento vergonhoso e desde a queda do conselho em 1974, é a lei que impede as forças de segurança de entrar nos campi universitários. Já em 2021, a tentativa de abolir essa lei e atropelar as conquistas populares tem causado enorme rejeição por parte dos estudantes.

Mas o problema da entrada da polícia nas universidades não termina aqui, porque, como várias organizações antiterroristas apontaram - que estão longe de apoiar causas de esquerda - o mundo está sendo vítima de uma crescente infiltração de ultra-direita nas forças de segurança; na Grécia, bandidos do partido neonazista “Golden Dawn” fazem parte das fileiras da Polícia. Infelizmente, o país helênico não está sozinho: a Alemanha está lutando contra uma escalada de máfias ultranacionalistas em suas forças de segurança, a Ucrânia incorpora batalhões neonazistas em suas formações da Guarda Nacional e nos Estados Unidos pudemos ver vários agentes abrindo as portas aos manifestantes direitistas pró-Trump que assumiram o Capitólio. Os estudantes sabem que permitir a presença da polícia nas salas de aula é também permitir a entrada de violentos uniformizados que já mataram, estupraram e torturaram membros de minorias e dissidentes políticos.

Como se sentir estudando quando um nazista armado observa seus movimentos? Além disso, como culpar o corpo discente grego por quebrar a quarentena e voltar às ruas? Os governos capitalistas são incapazes de implementar suas reformas sem a cumplicidade de suas forças repressivas. Onde está a liberdade que os capitalistas professam quando impõem à população uma vida de trabalho precário e insalubre sob a ameaça da fome e da bota da polícia apertando o pescoço? As contradições tornam-se evidentes quando se constata que os governos que sistematicamente lutaram contra os imigrantes, as minorias e a classe trabalhadora, hoje se encontram expostos e cúmplices de uma infiltração fascista nas estruturas governamentais: apesar de suas mentiras, o inimigo estava sempre dentro e não fora.

Não se trata apenas de uma luta universitária, mas de uma luta ativa pelo futuro de uma geração que se recusa a ser mais uma engrenagem de uma máquina e que busca ser dona de seu próprio destino. São os estudantes, e não as instituições corruptas, que se lançam em defesa de uma causa tão nobre como a democracia estudantil. E quem melhor do que gregos para lutar por essas causas: democracia no governo, democracia nas universidades, democracia no trabalho, democracia nas ruas e solidariedade com os bravos estudantes helênicos, sempre.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias