×

Copa do Mundo 2022 | Exploração trabalhista e mais de 6.500 mortes nas construções para a Copa do Mundo do Catar

Segundo o The Guardian, ao longo das construções de infraestrutura da Copa do Mundo do Catar de 2022, mais de 6500 operários morreram. A extrema exploração do trabalho, seja nas redes hoteleiras, ou na construção civil, em sua maioria de imigrantes africanos, é uma das marcas do mundial e dos lucros da FIFA

Rosa Linh Estudante de Ciências Sociais na UnB

sexta-feira 18 de novembro de 2022 | Edição do dia

Catar, o emirado mais rico do Golfo Pérsico, uma península bilionária que é um monarquia absoluta onde não há partidos políticos nem sindicatos - nessa terra do capital financeiro as condições de trabalho na construção de estádios e infraestruturas para a Copa do Mundo de 2022 está manchada de sangue. Lá morreram centenas de trabalhadores, em meio à situação cotidiana dos imigrantes que são obrigados a viver em condições de semi-servidão ou a contrair dívidas para poderem trabalhar.

No ano passado, o jornal britânico The Guardian já havia denunciado mais de 6.500 mortes de migrantes durante a década que durou a construção da infraestrutura para a Copa do Mundo.

O terrível número de mortos no Catar é revelado em longas planilhas de dados oficiais listando as causas da morte: múltiplas lesões contundentes devido a uma queda de altura; sufocamento por enforcamento; causa indeterminada da morte por decomposição devido a altas temperaturas. Mas entre as causas, de longe as mais comuns são as chamadas "mortes naturais", muitas vezes atribuídas a insuficiência cardíaca ou respiratória aguda.

Segundo dados obtidos pelo The Guardian, 69% das mortes entre trabalhadores indianos, nepaleses e de Bangladesh são classificadas como "naturais", e na verdade escondem as péssimas condições de trabalho, de dias exaustivos sob temperaturas insuportáveis.

Mesmo com as mortes, as famílias das vítimas ficam sem receber indenização nenhuma, como é o caso de cerca de 2 mil nepaleses. O presidente da FIFA, Infantino, no entanto, tem a pachorra de comentar “damos a eles dignidade” quando perguntado sobre as condições de vida dos trabalhadores.

Além da construção civil, a extrema exploração do trabalho se vê nas redes hoteleiras. Segundo a ONG britânica Equidem, imigrantes que trabalham nos hotéis do Catar associados à Fifa para receber as seleções e torcedores durante a Copa do Mundo sofrem situações de abuso e exploração, fomentadas pela legislação trabalhista do país. A investigação foi apresentada em julho deste ano.

A ONG é especializada na defesa dos direitos humanos e trabalhistas, e publicou o relatório com base em entrevistas com 80 trabalhadores de estabelecimentos da região do Golfo Pérsico, a maioria de 13 dos 17 grupos hoteleiros que possuem acordos de associação com a organização do evento. Entre os abusos denunciados por esses funcionários estão discriminação salarial com base na nacionalidade e etnia, falta de pagamento e cortes unilaterais de salários, sobrecarga de trabalho, assédio sexual de mulheres por colegas, rescisão de contrato sem aviso prévio ou falta de medidas sanitárias adequadas.

A Equidem atribui essas situações ao "contexto legal e governamental", uma vez que "os trabalhadores têm negado o direito fundamental de associação, estando sujeitos a intensa vigilância e controle por parte dos patrões, bem como ao medo de represálias - incluindo a deportação a mando do patrão - pela defesa dos seus direitos". As recentes reformas trabalhistas no país permitiram uma degradação absurda dos direitos da classe trabalhadora.

A ONG lembra que, assim como nos demais países do Golfo Pérsico, a maioria dos trabalhadores imigrantes no Catar, que, como seus vizinhos, depende em grande parte da mão de obra estrangeira, vem de países africanos (como Quênia, Gana , Uganda ou Marrocos) ou Sul da Ásia (Índia, Bangladesh, Indonésia, Filipinas).

O Catar tem negado as acusações e a FIFA convenientemente olha para o outro lado enquanto deixa os negócios funcionarem. A Copa do Mundo, junto dos megaeventos esportivos, que envolvem grandes monopólios multibilionários nas propagandas e patrocínio como Coca-Cola, Nike, Puma, Adidas, etc., jogadores com salários milionários e corrupção na cúpula da FIFA, é a expressão da mercantilização do esporte no capitalismo.

A superexploração de mão de obra barata e imigrante é uma de suas facetas mais sujas. Os operários do Catar em 2019 e 2020 protagonizaram importantes greves contra suas condições degradantes de trabalho; em 2014, no Brasil, foram milhares aos protestos contra a Copa do Mundo, com a juventude tomando as ruas junto de importantes greves operárias, exigindo melhores condições de trabalho e vida, não estádios multimilionários “padrão FIFA”. Esses são os exemplos a seguir, a da mobilização das e dos trabalhadores de forma independente, para que o esporte seja livre e possa ser desfrutado de maneira plena por todos, o que só pode ser real com o fim desse sistema de miséria e exploração, o capitalismo.

Veja o vídeo de 2020 de cerca de cem trabalhadores imigrantes bloqueando uma artéria importante na zona industrial de Doha, capital do Catar. Funcionários de Bangladesh, Índia, Sri Lanka e Paquistão reivindicam seus salários não pagos.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias