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Em coletiva de imprensa | Fala de Lula tem tom de perdão a bolsonarismo, colaboração com centrão e normalização de uma democracia degradada

Após encontro com Alexandre de Moraes, presidente do TSE, Lula fez uma coletiva de imprensa de 15 minutos nessa quarta-feira, 9/11, onde indicou o caminho em que pretende guiar seu governo. Sua fala deixa patente o perdão ao bolsonarismo que hoje se mobiliza por uma intervenção militar, a intenção de colaborar com Lira, Pacheco e os partidos do Centrão que sustentaram o governo Bolsonaro, poupa militares e indica normalização de uma democracia que vem sofrendo golpes há anos.

quinta-feira 10 de novembro de 2022 | Edição do dia

É possível assistir à coletiva de imprensa ao final da matéria.

Quatro pontos da fala de Lula se destacaram: perdão ao bolsonarismo, intenção de colaboração com os outros poderes e o centrão, o silêncio frente à criminosa tutela dos militares e a busca de uma normalização do regime democrático que há anos vem sofrendo forte degradação.

Sobre o perdão, Lula foi enfático: “Não há tempo para vingança, não há tempo para raiva, não há tempo para ódio, o tempo é de governar.” Depois ele continuou dizendo que os bolsonaristas que estão protestando “não tem por que protestar” e que é preciso detectar quem está financiando os atos, mas em seguida reiterou que “o Brasil vai voltar à normalidade”. No entanto, os atos após o 2º turno em frente aos quartéis exigindo intervenção militar e os bloqueios golpistas mostram que o país está longe de se “normalizar” ou “pacificar”. O bolsonarismo seguirá como uma corrente política importante a nível nacional, onde o caminho para combatê-lo passa pela luta e não pela conciliação.

A intenção de colaboração com o centrão esteve presente na fala de Lula quando ele diz: “Eu vim aqui para dizer, sabe, o nosso respeito com as instituições, da relação que a gente pretende manter com a Câmara dos Deputados e com o Senado. Eu não enxergo dentro da Câmara e dentro do Senado essa coisa de centrão, eu enxergo deputados que foram eleitos e que portanto nós vamos ter que conversar com eles para garantir as coisas que serão necessárias para melhorar a vida do povo brasileiro”. Mais para frente, Lula disse que Lira e Pacheco estão com muita disposição para colaborar com o novo governo. Esses são os mesmos setores que sustentaram Bolsonaro durante esses quatro anos e colideraram as reformas neoliberais nefastas que estão devastando com o povo brasileiro. Seus objetivos são drenar o orçamento público para interesses escusos, garantir os negócios do grande empresariado e seguir com peso decisivo no regime político.

Do MDB de Temer ao PL de Bolsonaro, passando por siglas repugnantes como o PP, União, PSD e outras, o centrão alterna seu apoio de acordo com o governo de plantão. Invertendo a máxima anarquista, o centrão diz: “Se há governo, sou a favor!”. O problema disso é que a aliança com esses setores decrépitos da política brasileira é o que pavimentou o caminho de ascensão e normalização do bolsonarismo, que assentou o golpe de 2016, que permitiu o crescimento da extrema-direita que hoje clama por um golpe militar no Brasil. Esse é o “novo consenso” que Lula e o PT já estão construindo, com o neoliberal Alckmin como uma espécie de “primeiro-ministro” desse governo de transição.

O relatório das Forças Armadas foi concluído ontem e Lula pouco falou sobre ele, silêncio que diz mais do que mil palavras. Apesar de não terem encontrado nenhuma prova de fraude, o relatório termina com uma porta aberta ao discurso golpista, dizendo que não foi “possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento”. Não há provas de fraude, mas também não há 100% de provas de que não houve fraude. É nessa toada que os militares participam dessa transição – permitindo a base extrema-direita seguir com uma política golpista e ao mesmo tempo garantindo seu lugar ao sol no regime político. Tudo com a benevolência do atual commander in chief.

E para terminar, a normalização dessa democracia degradada de conjunto. O léxico foi de “normalização”, “harmonia”, “normalidade”, e assim por diante. O problema é que não há “consenso” por dentro desse regime e em conciliação com esses atores.

Após o golpe de 2016 e o sequestro do sufrágio universal, a lava-jato, a manipulação das eleições de 2018 com a prisão de Lula que garantiu a vitória de Bolsonaro, a ascensão dos militares como árbitros da política nacional, o STF e TSE regulando o que se pode e o que não se pode fazer no país, a obscenidade do fundão eleitoral que garantiu o peso do centrão, da direita e do fisiologismo, a instrumentalização criminosa e golpista da PRF, golpismo e proclamações por novos AI-5s – todos esses elementos dão o tom de um regime político bem mais à direita daquele que perdurou de 1988 até 2016. Isso tudo combinado às reformas neoliberais, privatizações avassaladoras, reprimarização da economia, desindustrialização e destruição de direitos sociais e trabalhistas – tudo isso não tem nada de “normal”. Ou nos enfrentamos com isso tudo (e seus agentes), ou vamos repetir os mesmos passos que nos trouxeram até aqui. A conciliação serve ao outro lado. Daí a necessidade de construir uma força dos trabalhadores independente do novo governo eleito e do regime, como aponta o último editorial do Esquerda Diário.




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