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Rápida e conservadora | Governo de transição com Alckmin, Ciro Nogueira e Ramos tem tom de conciliação e colaboração

Manutenção do orçamento secreto e das reformas, quadros bolsonaristas parabenizando a chapa vitoriosa, Lula costurando alianças com MDB, União e PSD, clima de colaboração e furo do teto para manter auxílio – esses são alguns dos elementos que compõem esse quadro de transição rápida, segura e conservadora do governo Bolsonaro ao governo Lula. Tudo no marco de quatro dias intensos com atos golpistas e bloqueios bolsonaristas exigindo intervenção militar no país.

quinta-feira 3 de novembro de 2022 | Edição do dia
Foto: Hugo Barreto/Metrópoles - Alckmin, Gleisi e Mercadante em coletiva de imprensa nessa quinta-feira (3/11) após reunir com Ciro Nogueira e general Luiz Ramos.

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, foi o escolhido por Lula para liderar a transição de um governo ao outro. Junto ao ex-tucano, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, e o coordenador do programa de Lula, Aloízio Mercadante, são dois dos principais nomes compõem essa equipe. Segundo Alckmin, os 50 nomes previstos em lei para compor o governo de transição serão publicizados na segunda-feira, 7 de novembro. Do outro lado, quem comanda a transição é o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), que também promove o meio campo com o centrão, e Luiz Eduardo Ramos, chefe da secretaria geral da Presidência da República, um dos nomes que pinta de verde oliva esse processo. Todos eles se reuniram nessa quinta-feira (3) para dar encaminhamento à transição. A quatro paredes, o clima foi de otimismo, conciliação e colaboração. Lá fora, policiais, militares e a base bolsonarista estão ensandecidos exigindo que um golpe militar seja dado. Uma transição rápida, conservadora e repleta de incertezas.

Segundo Alckmin, o general Ramos “deu os parabéns, desejou um ótimo trabalho e se colocou à disposição nesse período de transição”. Alckmin ainda afirmou que a reunião foi “muito proveitosa” e garantiu a manutenção de alguns serviços daqui até a posse de Lula. Horas antes, a equipe de transição se reuniu com o relator do orçamento 2022, senador Marcelo Castro (MDB), e elaboraram a proposta de PEC da transição. Essa proposta consiste basicamente em flexibilizar o teto de gastos para garantir o valor de R$ 600 do auxílio para o ano que vem. Mourão saiu criticando essa decisão no twitter, dizendo que futuro governo Lula está negociando um “rombo de R$ 200 bilhões, ou seja, zero compromisso com o equilíbrio fiscal”. Com resultado de “aumento da dívida, inflação e desvalorização do real”. Ao mesmo tempo, as dezenas de rodovias obstruídas pelos bolsonaristas golpistas começaram a refluir (em especial após as ações de trabalhadores, população e torcidas organizadas).

Ou seja, a transição não vem sendo tão “lenta” assim, mas está sendo conservadora. Paulo Pimenta (PT-RS), deputado federal que vem sendo peça importante da equipe de transição, ressaltou que a PEC da transição “não tratará da RP-9 [sigla para o orçamento secreto]” nesse momento, mais uma vez indicando que a transição promete caráter conservador e sugerindo que o governo Lula não tende a atacar o esquema que sustentou Bolsonaro no Congresso Nacional. A presença de Ciro Nogueira como liderança dessa transição aponta para o mesmo sentido de conciliação e harmonia entre o governo eleito e a base parlamentar que governou junto com Bolsonaro, que aplicou reformas neoliberais e vem devastando o país. Pimenta disse que discutirá o orçamento secreto com Lira, Pacheco e lideranças políticas em “momento oportuno”.

Nos bastidores, Lula busca PSD de Kassab, União Brasil (DEM e PSL) e MDB para ampliar futura base na câmara. Provavelmente veremos nomes do calibre de Pérsio Arida, do neoliberal Armínio Fraga e outros, para compor essa transição e acenar aos bancos e mercado que não terão seus negócios afetados. De quebra, garantir governabilidade com os mesmos que governaram com Bolsonaro.

A força do bolsonarismo expresso nas ruas desse feriado de finados serviu também para aumentar a conta da fatura que os partidos de direita passarão para o governo Lula. Essa entrevista com Kassab, por exemplo, onde o líder do PSD propõe reconduzir Pacheco à presidência do Senado, aponta nesse sentido.

A confiança nesse Congresso reacionário, nos militares, na justiça ou nos partidos de direita e figuras neoliberais nada trará de bom. Foi confiando nesses mesmos setores que o caminho do golpe de 2016 foi pavimentado e pôde ser desferido sem grandes resistências. Do contrário, quando a classe trabalhadora se ergueu como uma força auto-organizada, com em 2017 contra a reforma da previdência, conseguimos barrar um ataque que vinha sendo desferido por todo o regime. Daí a necessidade de se confiar na força da classe trabalhadora para combater o bolsonarismo, a extrema-direita, o golpismo que hoje desfila por rodovias e quartéis do país, ligando essa luta à luta pela revogação das reformas neoliberais e também em defesa das demandas mais sentidas pela população. As torcidas, os trabalhadores e população que vêm enxotando os bolsonaristas das estradas apontam um caminho. A questão agora é organizar a classe trabalhadora para enfrentar esses setores e apontarem um caminho que faça com que os capitalistas paguem pela crise, não nós.




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