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Greve dos educadores de SP contra o Sampaprev 2: Unidade para barrar os ataques

Diante da crise que assola milhões de trabalhadores, os governos não param de atacar, tendo como alvo principal agora os serviços públicos e os seus servidores. Na capital de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), quer mais uma vez golpear contra a aposentadoria dos servidores, e os educadores municipais decretaram greve contra esse golpe, enquanto João Doria (PSDB), no estado, ataca com uma nova e complementar reforma administrativa - ambos com a mesma linha política de Bolsonaro e Mourão, Guedes, o Congresso e o STF, para descarregar a crise nas nossas costas. Mas justamente porque todos eles nos atacam juntos que temos também que nos juntar para derrotá-los.

domingo 17 de outubro de 2021 | Edição do dia

Servidores municipais em ato, 13/10, em frente a Câmara Municipal de São Paulo. (Foto: Rodrigo Rodrigues/G1)

Ricardo Nunes, reacionário que assumiu a prefeitura da cidade de São Paulo depois da morte de Bruno Covas (PSDB), avança contra os direitos dos trabalhadores e a qualidade dos serviços públicos, como a educação e a saúde. Depois que seu antecessor, Covas, passou o Sampaprev 1 em pleno natal de 2018, mandando beijinhos de deboche contra os trabalhadores da saúde, educação e muitos outros, que atendem toda a população da cidade, Nunes agora quer um novo Sampaprev (PLO 07/21), mais profundo, destruindo mais direitos, para se enquadrar a nefasta reforma de previdência de Bolsonaro e Mourão.

O governo já conseguiu aprovação do PLO em plenário em 1ºturno. O Sinpeem decretou greve dos educadores municipais a partir de uma votação com os servidores que estavam no ato do dia 14/10.

Agora, como os servidores podem derrotar de vez mais essa reforma?

Agora é o momento de um grande giro para construirmos essa greve, utilizando os métodos de luta reais da nossa classe, nos organizando em cada comunidade escolar e setores públicos junto à população. Lutar por nossos direitos é também lutar pelos serviços públicos e pelos outros setores de trabalhadores, pois os governos usam desses ataques aos servidores para nivelar ainda mais por baixo o direito de toda nossa classe, que já conta com mais de 14 milhões de desempregados e 19 milhões estão passando fome.

Está sendo chamado ato e vigília na câmara para o próximo dia 19/10 quando estão previstas várias sessões extraordinárias e possível votação em segundo turno do Sampaprev 2. É urgente ativar imediatamente um comando de greve unificado, com a base dos servidores municipais, empreender esforços na construção de comandos regionais de greve para unificar diferentes setores do funcionalismo, com passagens nas escolas e repartições públicas.

Bloco do Movimento Nossa Classe Educação - MRT, no ato do dia 13/10

Mas qual o caminho que está sendo seguido pelas direções burocráticas dos nossos sindicatos?

Atuam por saídas meramente parlamentares ou confiando na justiça que nunca esteve de fato ao lado de nós trabalhadores quando os ricos querem atropelar os nossos direitos. E infelizmente, isso acaba recorrentemente sendo a saída colocada pelas direções burocráticas dos nossos sindicatos. Querem que todos nós sigamos confiando que, para garantir os nossos direitos, precisamos confiar na democracia burguesa, que representa a classe que vêm tirando tudo de nós, dia após dia, para conquistar mais lucros.

“Se votar não volta”, gritam eles de cima do caminhão de som nos atos e manifestações, mas quantos daqueles que votaram no Sampaprev 1 em 2018, segue lá e hoje votam no Sampaprev 2? É o caso de Fernando Holiday que na luta passada riu das professoras e servidoras sendo violentamente reprimidas, assistindo tudo da janela de seu gabinete. Holiday não só voltou como agora se sentiu encorajado de pegar o microfone da tribuna para chamar os servidores municipais de vagabundos, justamente quem durante toda a pandemia arriscou suas vidas para salvar vidas, enterrar nossos mortos e seguir educando nossas crianças mesmo com toda a dificuldade do momento. E mesmo que alguns nomes tenham sido renovados, seus partidos carrascos seguem firmes lá dentro para aprovar tudo que for contra os nossos direitos.

Essas direções, como Cláudio Fonseca no Sinpeem, nos fazem ir de ato em ato, mas não abrem espaço para os professores ou convoca grandes assembleias de base onde todos possam ser sujeitos na construção da nossa luta e confluir em uma efetiva organização - isso na verdade é o maior medo de Cláudio Fonseca e de toda a burguesia, que os próprios trabalhadores se organizem e digam basta de ataques e precarização das nossas vidas.

Foto: Rodrigo Rodrigues/G1

Os acontecimentos da última quarta-feira, 13, mostraram no mínimo duas coisas: as categorias dos servidores municipais têm disposição de luta; e construir um ato com o objetivo apenas de pressionar parlamentares de partidos golpistas a mudarem seus votos, não é saída para nós. Basta vermos o que aconteceu nesse dia. Diante de mais de 10 mil trabalhadores em frente à Câmara de vereadores, parlamentares do PT e do PSOL se alternavam no carro de som e cantavam vitória a cada manobra de obstrução nas comissões. A manifestação foi encerrada com o anúncio de que se conseguiria impedir que o congresso de comissões encaminhasse o PLO para ser votado no plenário. Mas, logo depois, quando os servidores já estavam retornando para suas casas, uma manobra foi dada pelo governo, o congresso de comissões foi formado e, na mesma noite, o PLO 07/21 foi encaminhado ao plenário para votação, que só não se efetivou por capricho de alguns parlamentares governistas que não chegaram a tempo para a sessão, pois estavam voltando de Dubai (!). Não foi surpresa, no dia seguinte, o governo conseguir aprová-lo em 1º turno.

Do PT já esperamos isso, mas não pode ser que o PSOL confie tanto nas manobras institucionais e regimentais da Câmara, que já deram tantas derrotas aos trabalhadores. Ficar apostando em apenas atrasar a votação ao invés de aproveitar que seus mandatos e suas vozes são ouvidas pelos servidores para impulsionarem a luta da categoria, fomentando as reuniões nas escolas, bairros, hospitais, e todos os locais de trabalho, e assim exigir organização e democracia de base nos sindicatos, acabam somente por menosprezar a força que tem a luta dos servidores, que de fato pode derrotar esse ataque. Uma força que não cabe dentro de um plenário ou de suas galerias.

Prefeito Ricardo Nunes (MDB) (Foto: Felipe Rau/Estadão Conteúdo)

Durante a votação, ainda tivemos que assistir às falas repugnantes de Fernando Holiday do NOVO, que hoje tenta fingir que é oposição a Bolsonaro, mas se alinha com suas políticas mais reacionárias e de ataques aos trabalhadores, inclusive na forma, sendo um dos grande defensores do Escola sem Partido. Na semana do dia dos professores, como dissemos, Holiday chamou a categoria de "privilegiados e vagabundos". Essa figura repugnante mente ao dizer que a reforma é necessária para garantir serviços públicos para as futuras gerações. Mas enquanto isso, Nunes já garantiu o aumento do seu salário e muitos dos parlamentares, incluindo Holiday, vivem de benefícios que nenhum trabalhador real possui, sendo eles os verdadeiros privilegiados.

Diante de todas as reformas contra nossas vidas, os governos sempre usam a mesma desculpa, como Michel Temer com a reforma trabalhista, que anos depois de sua aplicação não garantiu nenhum emprego a mais e só abriu espaço para contratações sem direitos e mais precárias, com Bolsonaro e os militares aprofundando depois o ataque. O que eles querem agora no município é aumentar o tempo de contribuição para a aposentadoria e taxar até mesmo os aposentados para garantir mais lucros para os patrões, que são a classe a quem Nunes, Holiday e toda a direita representam e servem.

O dia 13 ainda foi marcado por uma patética disputa entre diferentes burocracias sindicais. Sinpeem, dirigido por Claudio Fonseca do golpista Cidadania (!!!) de um lado e Sindsep, dirigido pelo PT, junto com o Fórum das entidades, do outro. Disputando entre eles qual caminhão faria mais barulho para falar em nome do funcionalismo em luta, e infelizmente, nem com dois imensos caminhões de som as vozes dos trabalhadores tiveram espaço para se fazer ouvir, pois todo o ato foi repleto de falas parlamentares e das direções sindicais, ficando a vez dos trabalhadores para o final do ato quando já estava esvaziado. Como se constrói uma luta sem escutar o que os trabalhadores do chão da escola, dos postos de saúde e hospitais e tantos outros servidores que estão todos os dias lado a lado da população e comunidades, têm a dizer?

Greve dos servidores municipais e unidade entre o funcionalismo para barrar todos os ataques dos governos

Assim que o PLO foi aprovado em primeiro turno, o Sinpeem decretou a greve dos educadores municipais. O Sinpeem precisa ser consequente com essa greve, fazendo tudo aquilo que não vimos durante a greve sanitária que a categoria travou por 120 dias, apesar da direção ilegítima de Claudio Fonseca. Esse sindicato e todos os outros das categorias municipais, como o SINDSEP, são instrumentos de nós trabalhadores e todas suas estruturas têm que estar voltadas para nossa organização, pela construção de unidade entre todas as categorias municipais.

E mais, enquanto Nunes ataca no município, Doria ataca no estado e Bolsonaro a nível federal. E ainda na última semana, Doria e Rossieli também anunciaram o retorno obrigatório de 100% dos alunos para as escolas, sem necessidade de distanciamento, passando por cima da decisão das famílias e mais uma vez sem que a comunidade escolar possa decidir. Todos com a mesma linha de passar por cima dos serviços públicos, das aposentadorias e dos direitos dos servidores. Junto ao Congresso e Judiciário, buscam fazer com que sejamos nós a pagar por toda essa crise, garantindo ao mesmo tempo maiores lucros para os mais ricos que usam do Estado como seu balcão de negócios.

O SINDSEP, SEDIN, APEOESP - todas filiadas à CUT ou CTB e dirigidas pelo PT ou PCdoB - poderiam estar construindo ações conjuntas da luta dessas categorias dos servidores que estão sob a mira de Nunes e Doria, além de toda população que sofre com o desmonte dos serviços públicos. Isso inclusive pressionaria a direção do SINPEEM a fazê-lo. Mas não. Seguem dividindo a nossa luta, chamando dois atos separados no mesmo dia 19/10 - um de municipais e um de estaduais. Nos fragmentam para nossa unidade não romper com a política meramente parlamentar. No final da semana o SINDSEP e o Fórum das entidades soltaram comunicado de que não ratificam a greve aprovada, antecipando para o dia 19 o chamando de paralisação e indicativo de greve. Ou seja, enquanto precisamos de unidade no funcionalismo para desde já construir com força total essa greve, chamando reuniões e assembleias de base, as direções dos sindicatos municipais usam da nossa luta e das estruturas de nossos sindicatos para fazer palanque para disputas entre as burocracias. Disputas que em nada ajudam a elevar o nível da nossa organização.

Imaginem um grande ato unificado em que os servidores estaduais e os metroviários - que também estão sob ataque de Doria que está fechando as bilheterias, piorando o atendimento aos usuários e colaborando com os altíssimos índices de dezembro do país, demitindo centenas ou até milhares de trabalhadores terceirizados - se juntassem a todos os servidores municipais que estão se levantando contra os ataques. Sem dúvidas seria uma demonstração de força e unidade que realmente acenderia um sinal de alerta para esses governos, e sendo em uma grande via pode também romper com o cerco sanitário de toda a mídia sobre essas batalhas dos servidores e trabalhadores.

Ricardo Nunes (MDB) e João Doria (PSDB) (Foto: André Ribeiro/Estadão Conteúdo)

Se nos atacam juntos, devemos nos defender juntos! Nossos inimigos são os mesmos, não são dignos de estarem ao nosso lado nunca, nem mesmo nos atos contra Bolsonaro, porque não são oposição aos ataques contra nós, pelo contrário, fazem parte dos planos dos patrões contra nós.

Pode interessar: Lições do 2 de outubro e a necessária unidade da esquerda socialista.

Por isso mesmo fazemos um chamado aos setores da esquerda - que inclusive são oposição nos sindicatos em todas essas categorias - a batalharmos por essa perspectiva de unidade dos trabalhadores, com a construção desse grande ato unificado, lutando por uma política para romper a paralisia e a separação entre os trabalhadores instaladas pelas burocracias nesses sindicatos.

No dia 13/10 os servidores municipais aprovaram apoio à luta dos estaduais. O SINPEEM e as demais entidades sindicais do município precisam ter toda sua estrutura a serviço da construção dessa unidade. Partindo da construção de grandes assembleias de base, unificada das categorias, onde todos tenham direito a voz e voto, sendo parte direta da construção dessa luta e fortalecendo os sujeitos transformadores que somos nós os trabalhadores.




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