Logo Ideias de Esquerda

Logo La Izquierda Diario

SEMANÁRIO

"Houve uma vez uma guerra", uma devastadora coleção de John Steinbeck

Eduardo Nabal

"Houve uma vez uma guerra", uma devastadora coleção de John Steinbeck

Eduardo Nabal

Publicados originalmente em New York Herald Tribune ao longo de 1943, os textos reunidos pelo próprio autor neste livro nos oferecem uma imagem impressionante da vida cotidiana no marco da Segunda Guerra Mundial.

"Não estava confortável porque, pelo menos no começo, sabia que eu ia voltar com vida e alguns daqueles soldados não".

Encontramo-nos diante de uma coleção suculenta e ao mesmo tempo devastadora das crônicas jornalísticas de John Steinbeck- um dos melhores narradores de literatura estadunidense de todos os tempos- foi publicado no "New York Herald Tribune" embora, sem dúvida, na sua forma atual exista uma reelaboração posterior já que como confessa o próprio autor na sua introdução, de finais da década de 1950, "a censura era permanente em tudo que era referente às notícias sobre a II Guerra Mundial".

Como bem explica era impensável contar aqueles episódios de como o general Patton esbofeteou a um soldado doente em um hospital ou como a armada estadunidense abandonou em Gela a sessenta de seus homens. Nesta "espada de Dâmocles" sobre os repórteres de guerra podemos ver alguns dos fios que logo cristalizariam na "caça às bruxas" do senador McCarthy, um dos episódios mais vergonhosos na história da "nação".

Steinbeck, em sua produção literária, ecoou os anos ásperos da Grande Depressão, os planos mais ou menos progressistas de Roosevelt ("As uvas da ira") e fez um retrato ao mesmo tempo mordaz e comovente dos deserdados na América do Norte rural ("De ratos e de homens", "Tortilla flat" "Ao leste do Éden"), misturando a aventura, o humanismo e o drama social. Ainda que em sua coleção de reportagens, titulados em ocasiões como lugares geográficos, personagens públicos, nomes de armas, episódios célebres e inclusive ícones que portaram os soldados (como esses "dólares assinados") tenta manter a distância do cronista em cada episódio o autor deixa a pegada de um dos autores mais empenhados da América do Norte na primeira metade do século XX.

O livro, embora não deixe de ser uma sucessão de reportagens de muito distinto calado, lê-se como uma incisiva aventura acerca da necessidade de sobrevivência e também de até onde pode chegar a estupidez militar ou a daqueles governantes que cozinham as guerras com maiúsculas, caindo as bombas sobre diferentes pontos da geografia mundial.

Traduzido de La Izquierda Diario, por Dani Alves no Outono de 2022.


veja todos os artigos desta edição
CATEGORÍAS

[Guerra]   /   [Arte da guerra]   /   [Arte]   /   [II Guerra Mundial]

Eduardo Nabal

Comentários