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MAPA DA DESIGUALDADE SP | Letícia Parks: “mapa da desigualdade escancara que as doenças têm classe, raça e endereço”

O Mapa da Desigualdade 2020 feito pela Rede Nossa São Paulo escancara desigualdades alarmantes nas questões de saúde, com quase 50% das internações ocorridas por condições não tratadas na atenção primária. Letícia Parks, da bancada revolucionária do MRT, comentou os dados.

quinta-feira 29 de outubro de 2020 | Edição do dia

De acordo com o levantamento do mapa, feitos a partir dos dados de 2019, a média do município indica que 47,1% dos leitos de internação no sistema de saúde são ocupados por Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP), ou seja, condições de saúde que poderiam ter sido tratadas precocemente, mas que se agravaram e levaram a internações por falta de acesso à básico à saúde.

Em locais como Jaçana, esse índice alcançou 77,7% do total de internações. Já no bairro de Moema, um dos mais ricos da capital paulista, o índice é de 4,5%. Dentre as ICSAP, estão: doenças evitáveis por imunização; anemia; infecções de ouvido, nariz e garganta; deficiências nutricionais; asma; bronquite; hipertensão; diabete mellitus; infecção no rim e no trato urinário; e infecção de pele e tecido subcutâneo.

Mapa da Desigualdade: 47% das internações em SP são evitáveis com atenção básica
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Por Priscila Mengue
Um morador do Jaçanã, na zona norte de São Paulo, tem 17,1 vezes mais chance de ser internado por uma doença que poderia ser controlada com atenção básica e prevenção do que alguém de Moema, bairro nobre da zona sul. Na média municipal, 47,1% dos leitos na cidade são ocupados com Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP), segundo dados de 2019 compilados pelo Mapa da Desigualdade 2020, divulgado nesta quinta-feira, 29, pela Rede Nossa São Paulo.

Esse indicador geralmente é utilizado para avaliar os serviços de saúde e a capacidade de resolução da atenção primária, que, quando não é suficiente, pode acabar por gerar uma demanda excessiva de média e alta complexidade. No exemplo Jaçanã, por exemplo, ele representa 77,7% do total de internações do distrito, enquanto é de 4,5% em Moema. Dentre as ICSAP, estão: doenças evitáveis por imunização; anemia; infecções de ouvido, nariz e garganta; deficiências nutricionais; asma; bronquite; hipertensão; diabete mellitus; infecção no rim e no trato urinário; e infecção de pele e tecido subcutâneo.

Dentre os 96 distritos paulistanos, os indicadores positivos se concentram nas áreas de maior renda, como Alto de Pinheiros, Pinheiros, Butantã, Jardim Paulista e Perdizes, na zona oeste, Consolação e República, no centro expandido, e Santo Amaro, Itaim Bibi e Moema, na zona sul; enquanto nos bairros de baixa renda e periféricos, como Marsilac, Jardim Ângela e Capão Redondo, na zona sul; Brasilândia e Vila Medeiros, na zona norte; Cidade Tiradentes e São Miguel, na zona leste; e Brás, Sé e Bom Retiro, no centro expandido, os índices são os piores.

Na cidade de São Paulo, a média de idade ao morrer é de 68 anos, com o melhor índice registrado no Jardim Paulista (81,5 anos) e o pior no Jardim Ângela (58,3). Já a mortalidade infantil é 16 vezes maior em São Miguel (20,3 casos a cada mil crianças nascidas vivas) do que em Marsilac (média inferior a um), enquanto a mortalidade materna é mais de 9,3 vezes maior na Liberdade (182,1 casos a 100 mil nascidos vivos) do que em 18 distritos paulistanos (média inferior a um caso), a maioria localizados na zona oeste e centro expandido.

Outro dado de saúde é o de tempo médio para consultas na Atenção Básica, que é 28 dias na cidade, mas tem variação significativa entre os distritos. Enquanto no Cambuci, no centro expandido, a média de 5 dias, na Água Rasa, zona norte, é de 43 dias. Além disso, a gravidez na adolescência é 24 vezes mais comum em São Rafael (15,3% das mães dos nascidos vivos tinham até 19 anos), na zona leste, do que no Jardim Paulista (0,6%).

Em relação a mortalidade entre residentes de 40 a 59 anos por determinadas doenças, a diferença também é expressiva entre os distritos. Em relação a doenças no aparelho circulatório, por exemplo, um morador de São Miguel (206,4 óbitos a cada 100 mil habitantes da faixa etária), na zona leste, tem 14 vezes mais chance de morrer por essa causa do que um do Jardim Paulista (inferior a um), na zona oeste.

No caso de doenças respiratórias, um residente em Marsilac (149,8 óbitos a cada 100 mil habitantes entre 40 e 59 anos) tem 43 vezes mais chance de não sobreviver do que o da Barra Funda e de Pinheiros (média inferior a um), na zona oeste. No caso de neoplasias do aparelho digestivo, a mortalidade é 12 vezes maior em Marsilac (99,9 óbitos a cada 100 mil habitantes entre 40 e 59 anos) do que na Barra Funda e na Sé (inferior a um).

Letícia Parks, candidata a vereadora pela bancada revolucionária de trabalhadores do MRT em São Paulo, comentou os dados:

“O que vemos nesses dados é um retrato da desigualdade social promovida pelo capitalismo. As vidas dos trabalhadores, dos mais pobres e da população negra vale menos do que os lucros dos empresários, e isto se expressa no maior número de doenças, de internações, nas expectativas de vida mais baixas, em todos os indicadores sociais que traduzem de forma muito concreta o que significa a exploração e a opressão da sociedade capitalista, e que se torna ainda mais brutal em regimes políticos como o do golpe, e em países submetidos ao imperialismo como o Brasil.

O decreto de Guedes e Bolsonaro que tentaram emplacar ontem, e cujo retrocesso pontual só se deu pelo medo das mobilizações que começavam a se articular, é mais uma expressão desta mesma questão: se hoje vemos como a falta de acesso à saúde primária leva ao surgimento e agravamento de doenças evitáveis entre a população mais pobres, com a privatização do SUS por meio das concessões privadas e as ‘parcerias’ isto se agravará ainda muito mais. A transformação da saúde em mercadoria tem sempre como vítimas os trabalhadores, o povo negro, as mulheres e LGBTs, tudo em nome do lucro de alguns poucos. A pandemia foi mais uma demonstração disso, com leitos sobrando em hospitais privados enquanto as pessoas morriam sem atendimento na saúde pública. Por isto defendemos a fila única e a centralização do sistema de saúde sob controle dos trabalhadores.

Por isto defendemos o fim de todas as medidas privatistas do SUS, o investimento na saúde com a taxação das grandes fortunas e o fim do pagamento da dívida pública, a estatização sem indenização dos grande monopólios da saúde sob controle dos trabalhadores e usuários. Desta forma poderemos reduzir rapidamente e de forma drástica estes números criminosos que significam a morte de milhares.”




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