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MUNDO OPERÁRIO | MRV gera lucro, mas alega crise para não pagar PLR dos trabalhadores em greve

Os trabalhadores da MRV de Campinas entraram em greve para garantir que sejam respeitados os direitos trabalhistas e o acordo de PLR firmado. A empresa faz o discurso de crise, diz que não teve lucro e, por isso, não irá pagar a PLR. A realidade, entretanto, é diferente. Se está alegando crise e prejuízo, por que a MRV então não abre todas as suas contas para mostrar a crise?

sexta-feira 10 de fevereiro de 2023 | Edição do dia

Os trabalhadores da MRV de Campinas entraram em greve no último dia 06. Novamente os ataques da empresa às condições de trabalho e a sua intransigência nas negociações obrigaram os operários dos canteiros de obra a se mobilizarem para garantir o mínimo: que sejam respeitados os direitos trabalhistas e o acordo de PLR firmado pela empresa. A MRV, do bilionário Rubens Menin, alega que não teve lucro durante o ano de 2022 e, por isso, não poderá pagar a Participação de Lucros e Resultados de cerca de R$ 930 por trabalhador.

A realidade, entretanto, é diferente.

Considerando que as informações disponibilizadas pela própria empresa são verdadeiras, os dados mostram que a margem bruta de lucro foi próxima de 19% e ficou praticamente igual durante todo ano passado. Isso significa que para cada unidade habitacional que foi produzida e vendida, cerca de um quinto é lucro que os trabalhadores geraram.

Em entrevista para o jornal Valor Econômico, o Rafael Menin, filho do dono da empresa e copresidente, afirmou que o lucro bruto por unidade vendida foi de R$ 61,7 mil em dezembro de 2022. Ou seja, com a venda de apenas uma unidade habitacional, a MRV poderia pagar a PLR de 64 trabalhadores. Isso mostra como é mentirosa a afirmação da empresa de que não tem dinheiro.

Além disso, para esse ano a MRV está reservando e garantindo pelo menos 95 milhões de pagamento de dividendo para os acionistas. Somente em 2022, a empresa pagou cerca de R$ 191,1 milhões em dividendos para os seus acionistas pelas operações no ano anterior. Eles receberam o equivalente a 19% de remuneração por cada ação sem fazerem absolutamente nada.

A MRV alega passar por uma crise que os resultados operacionais do Brasil não mostram. Tanto é assim, que as ações da empresa estão entre as indicações de opções de compra para os investidores por grandes bancos internacionais, como o JP Morgan e Santander. Isso acontece justamente porque a tendência é de valorização.

Os prejuízos que ocorreram foram fruto das decisões dos donos, controladores e das estratégias financeiras da MRV. Primeiro pela decisão de diversificação das operações. Essa decisão, em meio a uma crise internacional e um país com economia estagnada, gerou prejuízos para a empresa. Exemplo disso é que, segundo o alto escalão da companhia, o caixa da MRV diminuiu em R$ 1 bilhão no terceiro trimestre de 2022 para cobrir os prejuízos da nos Estados Unidos.

Segundo porque as empresas, a MRV e também as outras, tem como estratégia a especulação no mercado financeiro com o objetivo de obter lucros rápidos, desvinculados das operações e, assim, aumentar o valor das suas ações. Quando essas operações dão certo, o dinheiro vai para os acionistas. Quando dá errado, quem paga são os trabalhadores. Em 2022, do primeiro para o segundo trimestre as despesas financeiras da MRV no Brasil aumentaram absurdos 500%. Essa é a principal razão para o prejuízo das operações no Brasil.

Agora que essas atividades estão dando algum prejuízo e diminuindo a margem líquida, ou seja, o quanto de lucro disponível para os acionistas, a empresa faz com que os trabalhadores paguem os custos do ajustamento de rota - embora, como apontamos, o operacional da empresa, isto é, a construção, a venda e o aluguel de casas e apartamentos, siga dando lucro. O diretor das operações dos Estados Unidos, deu entrevista dizendo que a empresa realizou demissão de 100 trabalhadores, deixando famílias nas ruas. Além disso, o copresidente afirmou que vão encerrar as operações em 40 cidades brasileiras, fato que, muito possivelmente significará demissão para vários trabalhadores. A empresa irá concentrar as operações em 80 cidades, sendo metade no Estado de São Paulo e o restante em 15 regiões metropolitanas.

Ou seja, somente com os dados que a MRV disponibiliza, considerando que esses dados são verdadeiros, podemos ver constatar a mentira da empresa em alegar que está em crise e sem dinheiro. A verdadeira razão para ela se recusar a pagar PLR aos trabalhadores dos canteiros de obras de Campinas é o grande exemplo de mobilização que essa categoria deu, com uma greve de 48 dias que, denunciando as condições precárias de trabalho, conseguiu arrancar, dessa empresa escravista, o pagamento da PLR.

Mas o recente escândalo envolvendo a fraude no balanço patrimonial das Americanas mostra que os trabalhadores não podem confiar nas informações divulgadas pelos patrões. Longe de ser uma exceção, as manobras na contabilidade das empresas são generalizadas. Por isso, se a MRV está alegando crise e prejuízo, por que não abre todas as suas contas para os trabalhadores analisarem?

Somente assim seria possível, de fato, saber para onde está indo o dinheiro gerado com a exploração do trabalho dos operários e operárias dos canteiros de obras. Saberíamos o que significa, por exemplo, essas despesas financeiras que aumentaram 5 vezes de um trimestre para o outro. Ou então, quanto de dinheiro a empresa de fato doou ao Atlético Mineiro para a construção da Arena MRV, estádio que começou cotado em R$ 420 milhões e agora está custando R$ 1 bilhão.




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