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PRÉ-CANDIDATOS MRT | Mês do Orgulho LGBTQIAP+ e como derrotar a extrema-direita sem conciliação de classes

Nesse mês do orgulho LGBT, mês de 53 anos da revolta de Stonewall, e do avanço da direita sobre o direito ao aborto no Brasil e nos Estados Unidos, nós do Esquerda Diário entrevistamos os pré-candidatos a deputado federal e estadual do Movimento Revolucionário de Trabalhadores, por filiação democrática ao PSTU, do Polo Socialista e Revolucionário. Confira a entrevista abaixo.

quinta-feira 30 de junho de 2022 | Edição do dia

No dia 28 desse mês, fez 53 anos da Revolta de Stonewall, que tem esse nome por conta de uma revolta de LGBTs contra a repressão policial. Qual a importância dessa data e quais lições podem ser tomadas dela?

Maíra Machado: A revolta de Stonewall, como você disse, leva esse nome por conta de uma rebelião de LGBTQIAP+ lideradas por Marsha P Johnson e Sylvia RIvera no bar de Stonewall Inc, em Nova Iorque. Essa revolta se deu contra a dura repressão policial, com a qual aquelas pessoas tinham que se enfrentar frequentemente nos momentos de lazer ou de atividades políticas. Esse episódio é extremamente importante, pois mostra o potencial combativo do movimento LGBTQIAP+ contra as forças repressivas do Estado, mesmas forças que garantem que toda a exploração e opressão desse sistema continue. Travestis, gays e lésbicas levantaram suas cabeças e punhos contra um realidade que era até então inquestionável, e essa determinação e força dos que não aceitam a miséria da opressão no capitalismo, que Stonewall mostrou, possui uma potencialidade explosiva quando o movimento se coloca ao lado da classe trabalhadora, como foi o movimento Lésbicas e Gays Apoiam os Mineiros, quando gays e lésbicas se colocaram ao lado dos mineiros em greve em Londres, contra os ataques do governo neoliberal de Margaret Tatcher.

Hoje no Brasil, milhares de lgbtqiap+ estão submetideas a trabalhos precários e subempregos, além de serem um dos maiores alvos de governos reacionários como o de Bolsonaro. Por que isso acontece?

Marcello Pablito: Então, no livro do Pão e Rosas, da editora Iskra, a Andrea D’atri resgata uma definição do marxismo sobre opressão e exploração, que são anteriores ao capitalismo, mas que se combinam fortemente. A opressão é definida pela relação de subordinação entre grupos sociais distintos, que pode ser relacionada à raça, etnia, gênero, religião, padrões culturais, sexualidade. Já a exploração expressa a relação econômica dos antagonismos de classe, que na sociedade capitalista se simplifica na burguesia se apropriando de toda a riqueza produzida pela imensa massa proletária. Essa imensa massa é, justamente, composta por mulheres, gays, trans, travestis, lésbicas, que ocupam os piores e mais precários postos de trabalho. Isso porque o capitalismo se vale da opressão para lucrar ainda mais, explorando dupla ou triplamente esses setores já oprimidos da população. No Brasil, essa situação tomou contornos ainda piores após o golpe de 2016, que aprofundou os ataques que o PT vinha aplicando, abrindo espaço para o projeto ultraneoliberal, passando a reforma da previdência, a reforma trabalhista e o teto de gastos. Sob o governo Bolsonaro, esses ataques ficam ainda mais violentos, com um governo que representa um setor ultraconservador da sociedade, inimigo declarado das mulheres, negros e negras e LGBTQIAP+. Esses fatores tomam contornos dramáticos num Brasil onde os que mais sentem o peso da crise e dos ataques são os setores mais precários da classe trabalhadora, justamente onde estão muitos LGBTQIAP+.

Hoje vemos muitas empresas vendendo produtos com arco-íris, ou exibindo CEOs gays ou lésbicas. Também, vemos governos ditos progressistas que dizem pró-diversidade, pró-direitos. Por que e como isso ocorre e qual o impacto disso no movimento LGBTQIAP+?

Flávia Valle: O famoso pink money né. Isso é um claro exemplo de como esse sistema, tanto empresas como também algumas instituições e governos utilizam pautas do movimento LGBTQIAP+ para pacificar e “amansar” o movimento. Sempre perto de datas comemorativas, como o próprio mês de Junho, vemos as marcas fazendo propaganda de seus produtos “inclusivos” mostrando que são marcas que valorizam a diversidade. Ou mesmo vemos empresas mostrando gays ou lésbicas em cargos de chefia, com um discurso de que todos podem chegar no topo se houver esforço. Isso é uma estratégia consciente do capitalismo de cooptação, lançando mão do Pink Money e da representatividade vazia, como formas de dizer para as imensas massas precárias LGBQIAP+ que o caminho não é se mobilizar, mas sim comprar um produto inclusivo, ou acreditar que um cargo de chefia representa uma vitória para o movimento quando, na verdade, essas empresas continuam explorado e precarizando a imensa maioria das pessoas. Essa precarização, que atinge justamente as camadas mais oprimidas da população, foi extremamente agudizada depois do Golpe de 2016 no Brasil, com os ataques da reforma trabalhista, terceirização irrestrita, reforma da previdência, ataques esses que as centrais sindicais dirigidas pelo PT e PCdoB deixaram passar sobre as costas dos trabalhadores, sem organizar uma forte luta para impedi-las.

Frente a essa estratégia de cooptação das pautas LGBTQIAP+, como devemos, então, nos organizar para conquistar direitos de forma contundente?

Carolina Cacau : A representatividade vazia que as empresas e os governos apresentam, onde pouquíssimos cabem nos “topos” capitalistas, enquanto a maioria permanece no chão, não nos serve. Na nossa perspectiva, a única saída para a emancipação de todes LGBTQIAP+ é pela via da auto-organização, ao lado da classe trabalhadora, sem alianças com a direita e sem confiança nas vias institucionais. Essa estratégia de desvio das lutas é amplamente utilizada pelos governos ditos progressistas. O partido Democrata, por exemplo, para responder à mobilização de massas que foi o Black Lives Matter em 2020 nos EUA, lançou como vice-presidente Kamala Harris, uma mulher negra que bombardeou a Síria nos primeiros meses de sua posse. Como parte dessa mesma estratégia, Joe Biden prometia em sua campanha tornar a resolução Roe vs Wade, que permitia o aborto legal, uma lei federal, o que vimos que nunca foi feito e que, inclusive hoje, esse direito foi retirado pela suprema corte reacionária de lá. Aqui no Brasil, a direita conservadora foi alentada nos governos do PT, com Dilma anunciando a “carta ao povo de deus” para a igreja, garantindo que não iria legalizar o aborto. Todos os direitos que foram conquistados pelo movimento LGBTQIAP+, desde o casamento homoafetivo, até o reconhecimento do nome social da população T, foram fruto da mobilização, sem confiança na conciliação, é nessa via que precisamos apostar.

Atualmente os direitos das mulheres vem sendo fortemente atacados no Brasil, como vimos nas últimas semanas com o caso da menina de 11 anos, quase impedida de fazer um aborto legal, e nos Estados Unidos, com a suprema-corte derrubando o direito ao aborto lá. É possível unificar as demandas do movimento de mulheres com as demandas da luta LGBT?

Valéria Muller: Com certeza é possível. E não só possível, como necessário. Esses últimos acontecimentos no Brasil nos deixaram estarrecidos com o nível de ódio que Bolsonaro e a extrema-direita têm das mulheres, assim como mostraram a face autoritária e machista desse judiciário que se junta com Bolsonaro para atacar os oprimidos e explorados. No centro do imperialismo mundial, essa mesma extrema-direita representada pelo trumpismo, atacou o direito ao aborto, que foi uma conquista histórica do movimento de mulheres da década de 70, impulsionadas pelo feminismo da segunda onda, no contexto dos levantes operários desse período, o mesmo que influenciou Stonewall inclusive. Esse ataque acontece sob o governo dos democratas, demonstrando que a extrema-direita não é derrotada pelas eleições, mas sim pela força da luta das mulheres. Nossa perspectiva no MRT e no movimento internacional de mulheres Pão e Rosas é pela unificação de todas as lutas dos trabalhadores e dos oprimidos, porque, para se libertar das opressões, é necessário destruir o sistema que as perpetua, com LGBTQIAP+ ao lado das e dos trabalhadores que tudo produzem nesse mundo. Hoje, vemos muitos sindicatos como a CUT e a CTB, dirigidos pelo PT e PCdoB, separando as lutas dos setores oprimidos da luta dos trabalhadores, quando, na verdade, deveriam lutar por unificar essas demandas, tornado-as mais fortes, lutando por educação sexual nas escolas, por aborto legal, seguro e gratuito, por igualdade salaria, por um plano de emergência contra a violência às mulheres e LGBTQIAP+. Pra que efetivamente conquistemos nossos direitos de forma independente, é preciso que os sindicatos apostem na via da mobilização, unificando as lutas de mulheres, negros e LGBTs, com as lutas dos trabalhadores, e não separando-as e desviado-as para as vias eleitorais de conciliação com a direita da opus dei, representada pela chapa Lula-Alckmin, caminho seguido pelo PSOL, que se federou com a Rede anti-aborto. É nos apoiando no marxismo revolucionário, que iremos construir uma sociedade livre da exploração das nossas vidas e dos nossos corpos, e, para isso, precisamos travar uma forte batalha, no Brasil, contra a extrema-direita de Bolsonaro e contra esse regime representado pelo Congresso, STF e judiciário que estão alinhados na hora de nos atacar.




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