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Cúpula da CELAC | Na Argentina, chanceler de Lula aprova e estreita relações com governo golpista do Peru

Governo Lula segue fazendo gestos repudiáveis de amizade com o governo assassino e golpista de Dina Boluarte do Peru, aproveitando o encontro da cúpula da CELAC na Argentina.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

terça-feira 24 de janeiro de 2023 | Edição do dia

Enquanto seguem as manifestações e a luta do povo peruano para destituir o governo golpista e assassino de Dina Boluarte, o governo Lula continua a fazer gestos amistosos ao regime peruano.

Na cúpula da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, encontrou-se com a chanceler peruana Ana Cecilia Gervasi, a fim de estreitar relações entre os países. O chanceler do Itamaraty aproveitou a ocasião para propor, nada mais nada menos, sediar uma reunião de cúpula entre Lula e Boluarte em Belém, para tratar da Amazônia e novos acordos econômicos.

O reconhecimento do governo golpista peruano por parte de Lula não acontece no vazio. Inúmeros protestos seguem incendiando o Peru desde a última marcha nacional a Lima, a capital, na jornada do 19 de janeiro. Protestos em Arequipa levaram manifestantes a bloquear o aeroporto da cidade. Nesta segunda-feira, os bloqueios, piquetes e marchas continuaram em diferentes regiões do país, que vêm ocorrendo há mais de duas semanas. A Superintendência de Transporte Terrestre (Sutran) informou que dezenas de regiões do Peru estão afetadas por pelo menos 74 rodovias e estradas interrompidas, incluindo 18 rodovias federais. As manifestações exigiram a renúncia do presidente golpista, o fechamento do Congresso e a convocação de uma Assembléia Constituinte. Também exigem que os responsáveis políticos e militares pelas mais de sessenta mortes resultantes da repressão estatal sejam julgados e punidos. Uma nova Grande Marcha Nacional no centro de Lima está sendo organizada na terça-feira.

Em dezembro, Lula havia saudado o governo Boluarte, afirmando que "É sempre lamentável que um presidente eleito democraticamente tenha este destino, mas entendo que tudo foi submetido dentro da estrutura constitucional [...] O que o Peru e a América do Sul precisam neste momento é de diálogo, tolerância e convivência democrática. [...] Espero que a Presidenta Dina Boluarte tenha êxito em sua tarefa de reconciliar o país e conduzi-lo no caminho do desenvolvimento e da paz social".

Em janeiro, durante a posse do governo eleito, Lula encontrou-se pessoalmente com a chanceler Ana Cecilia Gervasi e o chefe do Gabinete Ministerial do Peru, Alberto Otárola, para receber a saudação dos golpistas e prometer estreitamento de relações. Otárola, premier de Boluarte, é o responsável por disseminar os insultos do governo assassino contra os manifestantes, desqualificando os protestos de massas e insinuando que são orquestrados desde fora (uma acusação infundada à Bolívia) e por "setores vinculados ao terrorismo" (a velha acusação que as ditaduras de Stroessner e de Fujimori utilizavam contra os trabalhadores e os camponeses mobilizados).

É sumamente reacionária a posição do governo Lula-Alckmin diante do golpe parlamentar no Peru, e não se distingue substancialmente da do próprio Bolsonaro, que também saudou o governo Dina Boluarte. Os assassinos do Estado recebem honrarias pelo governo brasileiro, que faz gala de se opor à nefasta extrema direita bolsonarista (buscando conter a luta de classes e ensaiando medidas bonapartistas), enquanto avaliza o massacre no Peru. Isso não apenas indica a força que os setores da direita neoliberal possuem dentro do governo, mas também a aproximação de Lula com Joe Biden e a fração Democrata do imperialismo norte-americano, que sustentou a chapa Lula-Alckmin durante a campanha presidencial.

Mais uma vez, fica exposto caráter farsesco da retórica de Lula sobre o resgate "da autonomia regional", com uma política que preserva a América Latina sob o poder das articulações arbitrárias de Washington.

É necessário repudiar a política de Lula (não tem sentido "pedir" que Lula exija a renúncia de Boluarte, com quem está em muito bons termos). Lula colabora não apenas com o reconhecimento do governo golpista, mas indiretamente com as mentiras que usam para justificar a repressão. Não são, como dizem Boluarte e Otárola, agitadores externos da Bolívia ou grupos terroristas que estão orquestrando os protestos e manipulando os manifestantes, mas sim um descontentamento relacionado à pobreza, à falta de trabalho e à falta de renda, e a situação precária de emprego em que vive a maioria dos peruanos, especialmente nas zonas rurais em que existe atualmente uma profunda crise agrícola causada pela falta de fertilizantes devido à dependência dos mercados externos e pela seca aguda, além do racismo da classe dominante, alentado pela ultradireita e pelos empresários, reproduzida e ampliada pelos mecanismos do Estado burguês peruano.

Nesse momento em que as condições econômicas e sociais estão provocando mudanças abruptas na consciência da sociedade e de suas diferentes classes, é necessário exigir o imediato cessamento da repressão, a punição de todos os responsáveis e apoiar integralmente a luta dos trabalhadores, camponeses e indígenas peruanos pela derrubada de Boluarte e todo o regime golpista.

Como dizem os companheiros da Corriente Socialista dos Trabalhadores (CST), organização irmã do MRT no Peru, "Nem eleições antecipadas para 2023 nem a renúncia de Boluarte e sua substituição por uma nova mesa diretora do Congresso são uma garantia de uma mudança real que permitiria a realização das grandes aspirações dos milhares de camponeses, trabalhadores e setores populares que se mobilizam hoje e que não hesitam em colocar seus corpos à frente das balas da repressão policial-militar. Somente a força da mobilização e da luta, assim como a auto-organização operária, camponesa e popular, são garantias de vitória. Somente através deles, e usando a greve geral, organizada a partir das bases e promovendo um Comando Unitário de Luta, poderemos derrotar o governo assassino de Dina Boluarte, estabelecendo assim um governo provisório das organizações operárias, camponesas e populares que estão agora em luta. Somente um governo provisório das organizações dos trabalhadores, camponeses e setores populares, sustentado pela auto-organização operária e popular e nascido da luta e da derrubada do regime de 1993, garantirá a possibilidade de convocar e implementar uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana."

No Brasil, a batalha por uma política antiimperialista e socialista exige a mais clara delimitação da política de Lula de apoiar esse governo golpista.




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