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Contra o machismo | Nem unhas, nem sapatos, nossa preocupação é com a revolução!

Augusto Aras, Procurador Geral da República escolhido a dedo por Bolsonaro, declarou no 8 de março que as mulheres têm "o prazer de escolher a cor das unhas" e também "o sapato" que vão calçar, em uma tentativa de inferiorizar a potência do histórico internacional de luta das mulheres

Juliane SantosEstudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

quinta-feira 10 de março de 2022 | Edição do dia

Mobilização do Dia Internacional da Mulher em São Petersburgo, Rússia, 08/3/1917

No dia 8 de março de 1917 na Rússia (23 de fevereiro, segundo o antigo calendário ortodoxo), as trabalhadoras comemoraram com manifestações, greves e motins pelo pão, pela paz e contra o regime czarista. Uma mobilização que, em meio à difícil situação ocasionada pela 1ª Guerra Mundial, deu início à revolução na qual a classe trabalhadora conquistará o poder oito meses mais tarde, sob a direção do Partido Bolchevique. Leon Trotsky, um dos principais dirigentes do partido Bolchevique, vai começar um dos capítulos da História da Revolução Russa dizendo: "23 de fevereiro era o Dia Internacional da Mulher. Os socialdemocratas pretendiam festejá-lo da maneira tradicional: com assembleias, discursos, manifestos, etc. Não passou pela cabeça de ninguém que o Dia da Mulher poderia transformar-se no primeiro dia da revolução.”

Esse importante exemplo da potência da luta das mulheres, que foi a faísca para o início da revolução russa, em nada tem a ver com o dito pelo Procurador Geral da República, Augusto Aras, que afirmou durante evento em homenagem ao Dia Internacional da Mulher que elas têm "o prazer de escolher a cor das unhas" e também "o sapato" que vão calçar. Aras fez essa declaração durante o seminário Dia Internacional da Mulher, promovido pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

"Esse é um dia à mãe, às filhas. É um dia de homenagem à mulher. À mulher no seu sentido mais profundo, da sua individualidade, da sua intimidade. À mulher que tem o prazer de escolher a cor da unha que vai pintar. À mulher que tem o prazer de escolher o sapato que vai calçar. Pouco me importa que tipo de escolha ela faça, porque essas maravilhosas mulheres que integram as nossas vidas e as nossas instituições são tão dedicadas a todas as causas em que se envolvem". Afirmou Aras.

A repulsa é grande ao ouvir tamanho absurdo. Aras já está em seu segundo mandato como chefe do Ministério Público Federal, escolhido a dedo por ninguém menos que o misógino Jair Bolsonaro, desde aí já entendemos a origem desse tipo de declaração. O governo Bolsonaro, com Mourão, Damares e tantos reacionários, já deram inúmeras provas do quanto desejam atacar as mulheres, seja impedindo seu direito ao próprio corpo, seja aplicando ataques e reformas que atingem principalmente as mulheres e os demais setores oprimidos, isso não sem o apoio das demais instituições do regime atual, que se consolidou após o golpe de 2016. Isso só reafirma que a saída para as demandas das mulheres não virá da confiança nas instituições, mas sim virá pela força da sua própria luta organizada, como vemos em diversos momentos na história.

Não à toa os reacionários brasileiros, como Aras, buscam inferiorizar e diminuir o papel que as mulheres podem ter, pois o receio da potência da nossa força é enorme. A conquista que nós mulheres tivemos na Argentina, em que a nossa força organizada nas ruas com a Maré Verde conquistou o direito ao aborto, impede o sono desses reacionários ao pensar em uma conquista como essa no Brasil. A própria humilhação sofrida por Mari Ferrer pelo Judiciário golpista, que desencadeou fortes manifestações pelo país, demonstra a forma que esses atores reacionários atacam a nós mulheres, mas também se expressa a potência da força da nossa luta.

Vemos que hoje os desafios das mulheres não são poucos, pois vemos atualmente uma guerra reacionária ocorrer no leste europeu, que afeta a classe trabalhadora de conjunto, e principalmente as mulheres e os demais setores oprimidos, e demonstra a atualidade do descrito por Lênin em seu livro "Imperialismo, fase superior do capitalismo", destacando que o período que nos encontramos será permeado por crises, guerras e revoluções.

As mulheres e os setores mais oprimidos são os mais afetados pela guerra, que sofrem com a morte de familiares, escassez alimentar, são uma grande parte do setor de refugiados e sentem na pele todas as mazelas de conflitos como o que se desenvolve na Ucrânia. Por isso é fundamental repudiar a invasão do governo reacionário de Putin, que trava essa guerra em nome dos seus interesses, ao mesmo tempo que também nos colocamos contra a ofensiva da OTAN e dos países imperialistas, que também buscam se localizar da melhor maneira para garantir seus objetivos, com as grandes potências, como a Alemanha, realizando um rearmamento que com certeza nada de bom trará para o conjunto das e dos trabalhadores. A única unidade que aponta uma saída para as mazelas sofridas pelas mulheres e pela população é a aliança com o conjunto da classe trabalhadora, e com os demais setores oprimidos, em busca de uma saída que seja independente.

No Brasil, assim como em vários países, as mulheres ganham menores salários, fazem duplas ou triplas jornadas de trabalho, e encontram inúmeras limitações em relação ao seu direito ao corpo, às relações e a uma vida plena. No país governado pelo governo misógino Bolsonaro não são poucos os desafios, mas como a declaração de Aras demonstra por meio de um pequeno exemplo, a saída para as mulheres não virá da confiança em uma alternativa dada pelas instituições desse regime político degradado, e não ocorrerá, portanto, confiando que as eleições que ocorrerão em 2022 será a verdadeira saída para as nossas demandas, ainda mais para eleger um governo como o PT, de conciliação de classes, que se aliou e busca novamente se aliar com a direita que tanto nos ataca e que em seus 13 anos de governo não travou uma batalha pela legalização do aborto e pelo direito das mulheres aos seus corpos, mas sim seguiu um caminho que ia para o sentido oposto disso.

A luta das mulheres precisa ser internacional, porque a luta da classe trabalhadora, essa que é composta por metade de mulheres, é internacional e não tem fronteiras. A saída para as nossas demandas não virá por dentro desse sistema carcomido que é o capitalismo, mas sim será necessário que o conjunto da classe trabalhadora, com as mulheres e os demais setores oprimidos na linha de frente, lutem pela construção de uma nova sociedade, livre da exploração e das amarras do patriarcado.

Nesse sentido, nesse mês de março, a editora Iskra fará uma importante contribuição para o debate de gênero e classe no país com o lançamento no Brasil do Livro "Nós mulheres, o proletariado", de Josefina Martínez, originalmente publicado em castelhano no Estado Espanhol. O livro da historiadora e jornalista recupera os fios de resistência e das lutas pela emancipação das mulheres junto a todos os oprimidos. É um livro sobre greves femininas, cruzadas por gênero, classe e migrações, que contará com um capítulo inédito sobre a luta das mulheres negras no Brasil, escrito por Letícia Parks, dirigente da agrupação de negros e negras Quilombo Vermelho, e ainda contará com prefácio escrito por Diana Assunção, fundadora no Brasil do grupo de mulheres Pão e Rosas.

Acesse a campanha e reserve já o seu: https://www.catarse.me/nosmulheresoproletariado




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