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Rio Grande do Norte | "Nos obrigam a trabalhar mesmo sem ônibus", diz operador da Teleperformance diante de ataques no RN

Confira depoimento anônimo de um trabalhador da Teleperformance de Parnamirim, no Rio Grande do Norte

sexta-feira 17 de março de 2023 | Edição do dia

"Assim, lá a gente tá tendo que ir trabalhar, não estamos tendo ajuda com nada! Mas eles não estão nem aí, quem não for trabalhar, o salário vai ser descontado. Não tem abono do banco de horas. Também não se posicionaram sobre o ônibus. Tem um, só que a rota que ele faz é do Via Direta pra Teleperformance. Nem todo mundo mora perto do Via Direta, a maioria mora na Zona Norte. O pessoal de Parnamirim, Zona Norte e Macaíba não tem como pegar esse ônibus. Em outras operações, tem gestão tá disponibilizando Uber, mas tem outras que até hora-extr estão pedindo pra fazer. Como que a gente vai trabalhar sem ônibus? E ainda fazer hora-extra com toda essa situação?! Na volta pra casa eles orientam arrumar uma carona ou rachar Uber. Tá bem complicado. E sobre o ônibus, nem letreiro tem. Colocaram um papel na frente escrito "Teleperformance" que não dá pra ver. E ninguém fala nada. Só querem que a gente vá trabalhar de qualquer jeito".

Esse é o depoimento de um trabalhador da Teleperformance de Parnamirim, cidade da região metropolitana da capital do Rio Grande do Norte. Aqui no Esquerda Diário já recebemos dezenas de denúncias de como a empresa de telemarketing multinacional trata seus trabalhadores, escancarando como os obrigaram a trabalhar se fornecer EPI na pandemia, assim como sobre demissões em massa e péssimas condições de trabalho que acarretam lesões físicas e psicológicas. A Teleperformance, no Brasil, na Argentina e em todos os lugares que está no mundo é marcada profundamente por descarregar a crise nas costas dos trabalhadores. Agora, diante dos ataques no RN, que escancaram a relação entre o tráfico, o Estado brasileiro, os empresários, as polícias e os governos, em que a população é colocada contra a parede, a Teleperformance obriga seus funcionários a irem trabalhar mesmo se transporte, visto que as linhas de ônibus estão paradas.

Nesse cenário das ações reacionárias que ocorrem, é preciso entender que quem promove essa situação são as instituições do Estado, avalizando e sendo diretamente parte de todo processo de tráfico de drogas, como já foi escandalizada a participação do Exército brasileiro nas fronteiras dos países da América do Sul, usurpando e ocupando terras indígenas na Amazônia e no centro-oeste, como dos Guarani Kaiowá e dos Yanomami, além de fomentar a atuação do garimpo. Respostas que alavancam essas instituições, como uma reforma superficial do sistema prisional, não irão conseguir acabar com essa situação pela raiz. É concreto a emergência de que a situação nos presídios é absurda, mas é justamente o sistema capitalista, de forma estrutural do desenvolvimento econômico e social do Brasil desde a escravidão, que a impõe.

Os diversos níveis de cumplicidade entre o governo, a polícia, as empresas e as facções criminosas torna inevitável que o sistema prisional capitalista seja um organizador de massacres. O Judiciário facilita esta situação, criando uma população carcerária imensa de negros e pobres que sequer foram julgados, deixando-os à mercê das facções do tráfico organizado.

São essas instituições capitalistas que aprofundam o racismo estrutural do Estado penal brasileiro. Contra essa crescente deterioração, necessitamos lutar para impor justiça, pela revogação das reformas, e avançar para enfrentar questões estruturais do país, como a questão carcerária e a indignante situação dos mais de 200 mil presos provisórios sem nenhum julgamento pelo Judiciário. O capitalismo brasileiro relega a massa da juventude negra de todo o país e do RN ou ao trabalho precário, ou ao encarceramento em massa.

Por isso, apontamos a necessidade de defender urgentemente, contra a suposta "guerra às drogas", o fim dos tribunais militares que garantem impunidade aos policiais assassinos, dos autos de resistência e das operações policiais nas periferias e favelas. Além do fim das policiais especiais com a perspectiva de abolir por completo essa instituição racista e reacionária que é a polícia. Defendemos também a legalização de todas as drogas, como parte de impulsionar o combate à degradação da vida que o Estado impõe, lutando contra a repressão e a necessidade do controle da classe trabalhadora e com a produção, fiscalização, controle de qualidade e distribuição estatizadas sob gestão operária e controle popular. Para qualquer trabalhador corretamente preocupado, qualquer organização política que se reivindique de esquerda deveria dizer que defender esse programa é o que combate de fato nossos inimigos, com o Estado, o Judiciário e a polícia, que assassinam e prendem a juventude todos os dias. Diferente do que faz os governos federal e estadual e o que alentam parlamentares como Brisa Bracchi, vereadora do PT, que está lado a lado de Fátima Bezerra para defender a Força Nacional no RN e o alto policiamento dos espaços de cultura no RN, como o caso do Beco da Lama, que impede o direito ao lazer da juventude negra e pobre.

Se você foi demitido, sofre com as metas e condições de trabalho, envie sua denúncia e seu depoimento. Garantimos anonimato.

Confira também: Ataques no RN e a urgência de uma saída dos trabalhadores contra a hipócrita "guerra às drogas"




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