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Extrema-direita | O bolsonarismo mostra os dentes, é preciso organizar a luta dos trabalhadores de forma independente e combatê-lo

Após os resultados das eleições, o bolsonarismo está dando mostras de como pretende atuar como oposição, e para isso nem esperaram 2023.

Danilo ParisEditor de política nacional e professor de Sociologia

terça-feira 1º de novembro de 2022 | Edição do dia

Os bloqueios nas rodovias pela base mais dura da extrema-direita, promovidas com a ajuda de setores patronais e policiais, é uma primeira credencial de como esse setor pretende atuar, agora na oposição. Ainda estão chamando atos com conteúdo reacionário para amanhã, para seguir afirmando seu posto de primeiro violino na oposição de direita ao futuro governo Lula.

O silêncio de Bolsonaro em relação aos resultados eleitorais serve para incentivar esse tipo de ação, e criar um clima na sua base de que a "luta não está perdida". Querem que os militares intervenham, e mesmo não havendo nenhuma condição para isso, serve para seguir moldando uma correlação de forças cada vez mais à direita. Ao mesmo tempo, essa “não intervenção” dos militares alimenta a ideia de que eles são “democráticos”, para limpar sua imagem.

A chuva de saudações internacionais a vitória de Lula, com destaque para diversas figuras do Partido Democrata, além do próprio Biden, é mais uma das expressões de uma correlação de forças que não permite uma aventura golpista. Bolsonaro e a extrema-direita sabem que não tem condições para tanto, seus objetivos são, portanto, manter moralizada, ativa e coesa sua base para seguir atuando fortemente nos próximos anos.

Frente a isso, diversas alas do regime atuam pela estabilização pós eleitoral. O STF, passando por Zema e Eduardo Paes, além de diversos outros setores do regime, querem conter ações desse tipo, visando a estabilidade do regime. Inclusive o PT, que se soma ao coro dos que pedem intervenção policial, mas não chama qualquer medida de mobilização a partir do seus sindicatos e base social. E isso não é sem motivos.

Ainda que as ações bolsonaristas nas rodovias não sejam um preparativo para um golpe, seus efeitos políticos não podem ser minimizados. Comparativamente com as eleições de 2018, é gráfica a diferença como os dois pólos da disputa eleitoral atuaram frente aos resultados das urnas.

Nas eleições anteriores, ocorreu todo o tipo de barbaridade antidemocrática e fraudulenta. Lula foi preso e impedido de dar entrevistas. Villas Boas atuou publicamente pela manutenção de sua prisão. Milhões de eleitores, em especial do Nordeste, não puderam votar com o argumento do registro da biometria, sem contar as fake news e todo o tipo de assédio patronal que circulou de maneira indiscriminada pelo país. Frente a tamanha operação abertamente fraudulenta, em uma eleição manipulada para garantir que fosse Bolsonaro a subir a rampa da esplanada, o que fez o PT? Declarou através do seu então candidato, Fernando Haddad:

"Presidente Jair Bolsonaro. Desejo-lhe sucesso. Nosso país merece o melhor. Escrevo essa mensagem, hoje, de coração leve, com sinceridade, para que ela estimule o melhor de todos nós. Boa sorte!"

O comparativo com o cenário atual é chocante, e revelador. Agora, com denúncias de supostas fraudes que não conseguiram ser sustentadas nem por quem as divulgou, como foi com Fábio Faria que se disse arrependido por ter feito a denúncia das rádios, o bolsonarismo corre para fazer ações e mostrar que está longe do seu fim.

O comparativo 2018 e 2022 é um exemplo categórico de uma polarização assimétrica que atravesse o regime político, com efeitos nefastos para a classe trabalhadora. Enquanto o bolsonarismo atua para empurrar mais a direita à correlação de forças, o PT atua para impedir e bloquear ações de luta e organização contra a extrema-direita. Como diria Clausewitz, as forças morais são fatores que podem ser definidoras de um conflito. No contexto brasileiro, o polo de extrema-direita atua para mantê-la elevada, mesmo diante da derrota eleitoral, enquanto o PT atua para conter e desmoralizar qualquer tentativa de mobilização dos trabalhadores.

Isso não é novo. Nos dois últimos anos, nas convocações reacionárias do 7 de setembro bolsonarista, o PT não chamou qualquer medida de mobilização em resposta. Ao contrário, a lógica era sempre a de "deixar a direita desfilar que nós resolvemos nas eleições". As eleições vieram, o bolsonarismo se fortaleceu nos legislativos e nos governos estaduais, e o próprio Bolsonaro conseguiu recompor seus votos, o que resultou em uma eleição apertada.

Agora novamente se pronunciaram, através da CUT e demais centrais sindicais, não chamando qualquer medida de mobilização e organização dos trabalhadores, e confiando ao STF e a ao Congresso Nacional uma resolução "republicana" para a situação. Mais um prova clara que não querem a classe trabalhadora em movimento para se enfrentar com o bolsonarismo.

Entre seus sócios menores, como Juliano Medeiros e a cada vez mais governista Resistência de Valério Arcary, além do MES de Roberto Robaina, a lógica é a mesma. Enquanto o primeiro diz que as reacionárias ações bolsonarismo devem ser ignoradas deixando que sejam tratadas como "assunto de justiça", a corrente de Arcary conclama a Polícia Rodoviária Federal a "ir pra cima deles" para liberar as rodovias. Isso mesmo, a mesma PRF que estava incentivando as ações, tentou impediu uma parte dos eleitores do Nordeste votar, além de outras ações bárbaras como o assassinato de Genivaldo, é aquela que tem que resolver a situação. Já o MES diz que parece não haver necessidade de luta e organização "já que o Estado está, finalmente, começando a agir".

Ao mesmo tempo, a Resistência não dedica nenhuma vírgula direcionada a necessidade urgente de organização da classe trabalhadora para enfrentar o bolsonarismo. E não por acaso, essa organização encampou com completo entusiasmo e euforia a política do PT, que incluía a completa paralisia de suas centrais sindicais. Arcary bradava e dissemina terror, dizendo para todos ficarem escondidos em suas casas, enquanto a tropa bolsonarista desfilava no 7 de setembro. Sua completa diluição acrítica na política da frente ampla faz com que agora essa organização confie à PRF, e não aos trabalhadores, a tarefa de combater o bolsonarismo.

Essa política só pode significar uma tragédia para os trabalhadores e as grandes maiorias populares. A "oposição bolsonarista" está só começando, e vai atuar permanentemente por seus objetivos reacionários. O PT, agora como governo, vai seguir buscando acordos com a direita e com o STF, para tentar conter a extrema-direita, enquanto governa com setores empresariais e patronais. Mas como a história recente já comprovou, a extrema-direita se fortalece com a conciliação de classes e só poderá ser combatida com a organização e a luta dos trabalhadores.

O MRT, através de suas candidaturas e do Esquerda Diário, alertou que o bolsonarismo não iria desaparecer com as eleições, e agora isso está mais uma vez se mostrando. Sempre dissemos que era fundamental que as organizações sindicais de massas não permitissem que a extrema direita fizesse seus desfiles impunemente. Os bloqueios bolsonaristas só podem ser combatidos pelos trabalhadores e pelo povo pobre, não pelas "instituições de Estado". Os trabalhadores dos estaleiros mostraram o caminho, ações que toda a esquerda deveria se apoiar para exigir das centrais sindicais que saiam da paralisia e organizem imediatamente os trabalhadores desde às bases.

Não há mais tempo a perder. Nenhuma ilusão de que o STF e as polícias bolsonaristas vão conter o bolsonarismo. É preciso que a classe trabalhadora entre com seus próprios métodos de luta, combinando o rechaço às ações da extrema direita, bem como a defesa de suas próprias demandas econômicas, como a revogação integral das reformas e todos os ataques dos últimos anos. É urgente e necessário nos organizarmos de maneira independente do governo eleito e da burocracia sindical, para que a classe trabalhadora atue com seus métodos, e lançar a extrema-direita na lata do lixo da história.




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