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Federação com a REDE | O caminho sem volta da conciliação de classes do PSOL-PE

A crise histórica do PSOL afirmando a federação com a REDE, um partido burguês que tem o apoio do banco ITAU e é contra a legalização do aborto, coloca a necessidade de que os militantes do PSOL que são contra essa federação rompam com a organização. A direção do PSOL-PE e seus parlamentares andam no caminho contrário, votando a favor da federação com a REDE e apoiando a chapa Lula-Alckmin.

Renato ShakurEstudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF

quinta-feira 14 de abril de 2022 | Edição do dia

A palavra independência de classes não se ouve (se é que algum dia foi pronunciada) pela direção do PSOL-PE, composta pela corrente Revolução Solidária. Nem seus parlamentares e pré-candidatos dizem a respeito dessa que é tão cara aos que reivindicam o socialismo. Há duas semanas atrás a caravana PSOL pelo Brasil organizada pelo presidente do partido, Juliano Medeiros, esteve em Pernambuco para dizer em alto e bom tom que o PSOL-PE vive seu melhor momento desde o surgimento dessa regional. Isso porque suas figuras públicas e tendências internas que militam no estado não falam uma palavra sequer contra a conciliação de classes materializada na chapa Lula Alckmin e contra a federação com a REDE. Pelo contrário, uma rápida olhada em suas redes sociais se mostram totalmente lulistas. Se subordinam a ala majoritária sem nenhuma crítica o giro à direita que o partido vem tomando, sobretudo, ao firmar a federação que prevê que ambas as organizações atuem conjuntamente durante 4 anos com mesmo estatuto e programa.

O pré-candidato ao governo do estado em Pernambuco pelo PSOL, João Arnaldo, nesse mesmo evento disse que nessa campanha irá “lutar para que as pessoas possam voltar a ter esperança e ser felizes". Aí se encerra a estratégia do PSOL-PE. Por trás dessa fraseologia motivacional que não mostra o caminho como os trabalhadores pernambucanos possam emergir como um sujeito político independente para enfrentar as oligarquias e os patrões no estado, se esconde a conciliação de classes.

As palavras usadas por João Arnaldo durante o evento e pronunciadas por ele algumas vezes, deixam bastante evidente que o que resta aos trabalhadores e a juventude pernambucana é depositar sua confiança na chapa Lula-Alckmin. Justamente em um estado onde a população nutre grande confiança em derrotar Bolsonaro nas urnas e o Lula tem altos índices de aprovação, a candidatura de João Arnaldo estará a serviço de eleger Lula, sem fazer nenhuma crítica a essa chapa que não irá revogar a reforma trabalhista nem a da previdência e mesmo depois de 13 anos de governo não avançou um milímetro para a legalização do aborto, ao contrário, fortaleceu a bancada evangélica que hoje abraça a extrema-direita. A vereadora Dani Portela já declarou que o objetivo do PSOL-PE é “aumentar a bancada na Alepe e eleger Lula no 1º turno”.

João Arnaldo está feliz com a federação com a REDE de Marina Silva e o Banco Itaú, chegou a declarar: “confesso que estou otimista, acho muito positiva essa federação”, como se pode ver em entrevista aqui. É um erro gravíssimo, o PSOL-PE que diz lutar contra a “velha política” não faça nenhuma crítica a atuação conjunta durante 4 anos do PSOL com um partido burguês, inimigo dos trabalhadores que se colocou a favor do golpe institucional em 2016.

O PSOL em Pernambuco se coloca como oposição aos governos do PSB que representam a oligarquia Campos. Como irão combater a hegemonia do PSB se na cerimônia de filiação de Alckmin estavam presentes no mesmo palanque Lula, Danilo Cabral, João Campos, Paulo Câmara, todos eles políticos do PSB, que o PSOL enche a boca para dizer que é oposição em Pernambuco. Pura demagogia.

Mas, apesar da catástrofe que essa federação significa para qualquer projeto político que se diga de esquerda, não é de se espantar vindo de um partido que historicamente sempre balizou sua política pelas eleições, agora, nesse vale tudo para vencer Bolsonaro nas urnas, vale até mesmo apoiar incondicionalmente que tem como vice o Alckmin do PSB. Estamos falando de um partido que aprofundou as desigualdades no estado, com a capital mais desigual do país, Recife está entre as 20 piores cidades no ranking de saneamento no Brasil, onde os pobres são os mais pobres do país, segundo pesquisas recentes, e todas as pessoas assassinadas pela polícia eram negras.

A pergunta que fazemos é: será que a federação com a REDE vai ajudar a combater esses problemas sociais tão graves no estado, sabendo que o combate às desigualdades nunca foi parte do programa da REDE? É possível combater a desigualdade sem ferir os interesses do grande capital bancário do Itaú, patrocinador da REDE? Será que conseguirá combater a extrema-direita no estado que ainda se mantém como um fator político importante em Pernambuco junto às igrejas evangélicas e políticos reacionários como Pastor Júnior Tércio e Clarissa Tércio? Ou será possível com essa federação combater as oligarquias do interior como a de Raquel Lyra (PSDB) em Caruaru, Miguel Coelho (UB) aliado de Bolsonaro ou Anderson Ferreira (PL) do partido de Bolsonaro, todos pré-candidatos ao governo de Pernambuco?

Os principais pontos do programa anunciados pelo PSOL e a REDE já indicam que combater os ataques em curso, as forças reacionárias e as oligarquias no estado não estarão em seus objetivos. Se trata de um programa burguês, sobre o qual já desenvolvemos uma crítica aqui. Para comentar apenas alguns dos pontos, neste programa se fala de uma “reforma urbana” que não trata do déficit habitacional e das milhares de famílias em ocupações ou condição de rua, um problema estrutural de Pernambuco e, como era de imaginar, o PSOL “esquece” que existe especulação imobiliária, que como sabemos é ela quem manda e desmanda em Pernambuco, especialmente na região metropolitana de Recife. Mas não se vê neste programa nenhuma vírgula sobre isso. Também trata do “enfrentamento a violência policial” com um “novo modelo de segurança pública baseado no diálogo”, justamente no estado onde uma das principais políticas de Paulo Câmara é o Pacto Pela Vida que vem aprofundando a violência policial e o racismo estrutural. Além de nem mencionar a propriedade fundiária, tão importante ao PSB e as oligarquias regionais, mas que o programa do PSOL e REDE precisam manter intactas.

Como desenvolvemos nessa carta aqui é preciso que também em Pernambuco que os militantes do PSOL rompam imediatamente frente a esse giro à direita, porque o caminho da conciliação de classes não pode combater as oligarquias, o empresários e dar uma saída aos problemas estruturais do estado. Por isso, nós do Movimento Revolucionário de Trabalhadores estamos construindo junto a outras organizações socialistas e ativistas independentes o Polo Socialista Revolucionário, contribuindo para o debate programático que seja baseado na independência de classes e no apoio às lutas de trabalhadores e trabalhadoras em curso. Convocamos a todos os militantes sinceros do PSOL em Pernambuco, que não acreditam na conciliação com a burguesia e com a REDE, a romperem com PSOL e se integrem na iniciativa do Polo Socialista Revolucionário, buscando uma reunificação da esquerda sob o princípio da independência de classe.

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