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SEMANÁRIO

O imperialismo hoje: em direção a um “caos sistêmico”?

Esteban Mercatante

Imagem: Mar Ned - Enfoque Rojo

O imperialismo hoje: em direção a um “caos sistêmico”?

Esteban Mercatante

Em dois meses as eleições nos EUA definirão se Donald Trump continua por mais 4 anos, ou se os Democratas voltam à Casa Branca com Joe Biden. Os dois cenários podem marcar um certo ponto de inflexão, por diversos motivos. Um ponto chamativo durante este primeiro mandato de Trump foi a posição de ruptura – com conquistas díspares – a respeito dos dispositivos com os quais os EUA articulou seu domínio desde a Segunda Guerra Mundial, enfrentando-se com os aspectos mais “multilaterais” em favor de um unilateralismo mais exacerbado.

Em plena contagem regressiva, Trump não se privou de impor que o Banco Interamericano de Desenvolvimento seja presidido, pela primeira vez desde sua fundação, por um cidadão dos EUA, contrariando uma norma não escrita aceita desde a fundação da instituição, por parte do próprio imperialismo norte-americano.

Um ponto de coincidência da maior parte das análises é que a agressividade e o unilateralismo são mostras não de força, mas de fraqueza. A maior agressividade exibe uma tentativa de reverter, pela força, um retrocesso expresso nas mais variadas dimensões.

Continuando com os debates sobre o imperialismo hoje, neste artigo queremos discutir um marco conceitual para abordar as implicações do retrocesso norte-americano e sua resposta para manter a primazia mundial, que seguiremos aprofundando nesta série.

As contradições da internacionalização produtiva

Como apontávamos em um recente artigo, “a internacionalização produtiva beneficiou as multinacionais dos países imperialistas ainda que estes tenham ficado relegados em matéria de crescimento”.

Como observa Claudio Katz, “os lucros do setor mais globalizado das classes dominantes contrastam com as perdas do tradicional segmento americanista” [1]. O país que se pôs à cabeça da globalização e cujas empresas se colocaram entre as principais ganhadoras, sofreu um revés em sua posição relativa como resultado de alcançar seus objetivos. “O êxito inicial da primeira potência na globalização derivou no retrocesso atual” [2]. A consequência, como aponta Perry Anderson em um artigo com o qual já polemizamos, é que “a primazia norte-americana não é mais o corolário da civilização do capital” [3].

Frente a quem os EUA vem retrocedendo? Não é frente à União Europeia (UE), ou seja, Alemanha, nem frente ao Japão, os países imperialistas que algumas décadas atrás apareciam como os grandes candidatos a superar os EUA em matéria de desenvolvimento e competitividade, e capazes de disputar o domínio global. Ambos países tiveram frente à internacionalização produtiva estratégias que permitiram a seus capitais tirar proveito da mesma, mas também viram um forte retrocesso em sua posição global. Tanto em poder financeiro como em capacidade de inovação, alguns dos pilares – junto com o desenvolvimento militar em que ambos países também são limitados – da competição pela liderança mundial hoje, ambos competidores se viram relegados, aumentando sua brecha com os EUA. Em diferentes medidas e por distintas vias em cada caso, se veem também afetados pelas condições do desenvolvimento desigual internacional que viemos analisando, que beneficiou suas empresas multinacionais mas ao preço de tirar seu lugar no terreno internacional. Em detrimento deles países como a China deram passos.

Isto alimentou durante a última década as ideias de que podíamos estar rumo a um mundo mais multipolar, quando em realidade contribuiu a catalisar as tendências a uma crescente “desordem mundial”.

Controvérsias sobre capital global e estados nacionais

Em que perspectiva se inscreve o declive relativo dos EUA, apesar do qual ainda segue muito na dianteira em capacidade de mobilização de poder mundialmente?

Temos um primeiro olhar que afirma que, apesar do que parece, a posição dos EUA e seu dispositivo de domínio não se alterou significativamente. É o que afirmam Leo Panitch e Sam Gindin, com quem já polemizamos em várias oportunidades. Em 2019, a três anos do governo de Trump, reafirmam sua perspectiva sobre a vitalidade do “império informal” norte-americano. Trump seria expressão de uma “crise política” na principal potência, mas as capacidades determinantes dos EUA para dominar, o Tesouro e o Departamento de Estado, não estariam desgastadas de maneira significativa [4]. A ideia de que os EUA continua sustentando com êxito uma governança global coordenada com as demais potências e outros países gravitantes pôde mostrar-se – ao menos à primeira vista – ajustada à realidade uma década atrás, mas vai ficando cada vez mais deslocada com o passar do tempo, e não pode explicar Trump.

Ainda que parte de pressupostos muito diferentes dos de Panitch e Gindin, a ideia defendida por William Robinson sobre o capitalismo globalizado como uma transformação qualitativa que deu lugar a uma classe capitalista transnacional e empurra, em paralelo, à conformação de um Estado global ou transnacional, termina tendo pontos de contato com a afirmação de Panitch e Gindin – e encontra dificuldades similares . O aparato estatal norte-americano é, de acordo com Robinson, o que é utilizado pelas elites transnacionais para estender e consolidar o sistema capitalista global. Nele se concentram todas as pressões e contradições do sistema, sobre as quais deve atuar coordenando as intervenções de outros Estados [5]. A tese da classe capitalista e o estado transnacional extrapola de maneira unilateral a crescente internacionalização de um setor da classe capitalista, que é o que em muitos aspectos foi o mais dinâmico das últimas décadas, mas está longe de expressar toda a classe capitalista. Nem sequer nestes setores do capital mais transnacionalizado pode se falar realmente de uma perda de base nacional [6], ainda que sim pode-se falar, como faz Michel Husson, de um certo “distanciamento” a respeito de seu país de origem. Isto se deve ao fato de que

as grandes empresas têm o mercado mundial como horizonte e que uma das fontes de sua rentabilidade reside na possibilidade de organizar a produção em escala mundial com objetivo de minimizar os custos. Nada lhes obriga a recorrer ao emprego doméstico e suas saídas estão em grande medida desconectadas da conjuntura nacional de seu porto de origem [7].

Leon Trótski apontava que o capitalismo “foi incapaz de desenvolver uma só de suas tendências até o fim”. Isto se expressa claramente na contradição que podemos ver entre a internacionalização das forças produtivas, que transformou a economia mundial em uma “realidade superior”, que “impera nos tempos que corremos sobre os mercados nacionais” [8], e a permanência dos Estados nacionais como o terreno onde se articulam as relações de produção.

Cada Estado, diz Husson, busca “combinar os interesses divergentes dos capitais orientados ao mercado mundial – e que organizam a produção em consequência – e os do tecido de empresas que produzem para o mercado interior” [9]. Ao mesmo tempo os Estados “tratam de garantir uma regulação nacional coerente e ao mesmo tempo as condições de uma inserção ótima em uma economia cada vez mais globalizada” [10], objetivos em muitos aspectos contraditórios. Como argumenta Spyros Sakellaropoulos, se bem o Estado nacional cedeu algumas funções de regulação a âmbitos supranacionais configurando uma relação complexa que “transcende em muito a relação unidimensional Estado-Entidade supranacional”, continua sendo o âmbito privilegiado em que se constituem as relações de classe, ou seja, o domínio sobre o proletariado e o restante das classes subalternas. Por isso, conclui que em “um contexto mais internacionalizado e mais intensamente capitalista, os estados continuam preocupando-se pela defesa de sua burguesia nacional tanto contra as classes trabalhadoras nacionais como contra outras burguesias nacionais com as quais competem” [11].

Temos outra tese do “capitalismo globalizado”, postulada por Ernesto Screpanti, que, ao contrário da tese de Robinson, sustenta que não há um Estado que tenha se transformado no garantidor da reprodução global do capital. Pelo contrário, é o próprio capital transnacional que domina este processo. Estados não desaparecem, nem perto disso, mas “as ações políticas das grandes potências tradicionais deve ser torcida para servir aos interesses coletivos do capital multinacional”. Se configura “uma governança global sem soberano (em vez de sem Estado)” [12]. Pela “primeira vez em cinco séculos, os estados das potências imperialistas pré-existentes estão perdendo sua soberania e, com ela, sua capacidade para governar a acumulação”, afirma Screpanti [13]. Uma conclusão importante para Screpanti é que “as rivalidades interestatais seguem existindo, mas não são disruptivas na medida em que as políticas nacionais são condicionadas pelo capital multinacional e seus ‘mercados’” [14].

O capital multinacional, ao contrário do afirmado por Screpanti, não se transformou em uma fonte de poder e soberania autônoma. A internacionalização produtiva, é verdade, fortaleceu os mecanismos caraterísticos por meio dos quais a acumulação de capital molda e “disciplina” a operação dos Estados capitalistas. Mas não se trata de uma relação unidirecional. Nem tampouco se comprova uma tendência irreversível a mais globalização, como a afirmada por Screpanti. Pelo contrário, a tendência a uma maior internacionalização se encontra freada, ao ponto que há quem chegue a falar – com certa precipitação talvez – de “desglobalização”. Como resultado do enfraquecimento da acumulação de capital vinculado a consequências duradouras da Grande Recessão, mas também de Trump e seu lema “América primeiro”, e mais recentemente das “guerras comerciais”, muitas multinacionais congelaram a expansão de suas cadeias de valor internacionais. Por isso, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, por suas siglas em inglês) se refere ao período que vai desde 1990 até hoje como um no qual “a produção internacional viu duas décadas de rápido crescimento seguida de uma de estancamento”. Os “fluxos de investimento externos em ativos produtivos físicos deixaram de crescer durante a década de 2010, o crescimento do comércio se tornou mais lento e o comércio por meio das cadeias globais de valor declinou” [15].

Votando aos EUA, o pano de fundo do trumpismo, do qual abordagens como as de Robinson ou Screpanti não podem dar conta, é uma divisão profunda na burguesia norte-americana [16], que se dá sobretudo entre uma grande burguesia majoritariamente globalista e uma burguesia mediana onde primam setores mais desejosos de proteção do mercado interno, que se identificam com o “americanismo”. Estas brechas são incentivadas também pelos devastadores efeitos que a Grande Recessão deixou em setores estendidos da sociedade.

Outra abordagem, mais abarcativa e de longo alcance para a análise da ascensão e queda das potências, é a que o falecido Giovanni Arrighi desenvolveu. Esta propõe a existência de ciclos de hegemonia, de mais ou menos um século de duração, que se remontam desde as cidades-estado italianas no século XII até os EUA hoje. Arrighi analisa quase 800 anos de ciclos de hegemonia, iluminando muitos aspectos e coloca hipóteses sugestivas sobre como cada um se caracterizou por combinações específicas de expansão territorial e acumulação econômica (as duas variáveis cuja relação contraditória ordena a sucessão). Uma conclusão de seu trabalho, de grande utilidade para abordar as coordenadas do mundo que está se configurando, é que cada ciclo de hegemonia conclui com um período de “caos sistêmico”, em que o velho mundo não termina de morrer e o novo não termina de nascer. Outra grande intuição que expressou quando poucos o teriam imaginado, é a ascensão da China. Mas Arrighi uniu esta projeção a uma expectativa, com pouca sustentação, de que a China pudesse substituir a hegemonia norte-americana para estabelecer uma ordem de mercado não capitalista, ou seja, o fechamento definitivo dos ciclos de hegemonia que analisou para entrar em outra etapa diferente. O grande ausente na construção de Arrighi, como lhe apontaram os mais variados críticos, e reconheceu inclusive o próprio autor, são os sujeitos sociais.

Esta omissão de Arrighi não é uma menor. Deixa os ciclos de sucessão de potências e as dinâmicas de seus enfrentamentos como um resultado de tendências puramente objetivas. Na tradição marxista clássica, à qual Arrighi propõe dar as costas quase no início de sua análise teórica, quando escreve La geometría del imperialismo [A geometria do imperialismo, sem tradução ao português], podemos encontrar uma abordagem onde estes elementos que ele separa se unem em um mesmo marco analítico estratégico.

O equilíbrio capitalista e sua ruptura

Como discutimos em outra oportunidade, resulta de grande utilidade o método proposto por Trótski para caracterizar o equilíbrio capitalista (conceito que integra as tendências da economia, as relações entre as classes nos distintos Estados e as que se constituem entre os Estados). Se algo distingue a abordagem de Trótski é que, diferentemente da de Arrighi, a luta de classes e a geopolítica estão unidas em um mesmo esquema, determinadas – e às vezes determinando – pelas tendências econômicas. Em sua intervenção no Congresso da Internacional em 1921, Trótski aponta:

O equilíbrio capitalista é um fenômeno complicado; o regime capitalista constrói esse equilíbrio, rompe-o, reconstrói e o rompe outra vez, ampliando, de passagem, os limites de seu domínio. Na esfera econômica, estas constantes rupturas e restaurações do equilíbrio ganham a forma de crises e booms. Na esfera das relações entre as classes, a ruptura do equilíbrio consiste em greves, em lock-outs, em luta revolucionária. Na esfera das relações entre estados, a ruptura do equilíbrio é a guerra, ou ainda, mais veladamente, a guerra das tarifas alfandegárias, a guerra econômica ou o bloqueio. O capitalismo possui então um equilíbrio dinâmico, o qual está sempre em processo de ruptura ou restauração. Ao mesmo tempo, esse equilíbrio possui grande força de resistência; a maior prova que temos dela é que ainda existe um mundo capitalista [17].

Este método foi exposto aí para a análise de situações ou conjunturas. A partir destas coordenadas Trótski polemizou com os setores ultra esquerdistas que negavam, no início da década de 1920, as possibilidades de que o capitalismo alcançasse uma momentânea estabilização.

Tomando uma certa licença, podemos tomar o mesmo conceito de equilíbrio capitalista para a caracterização de períodos mais longos, ainda que neste caso estaríamos falando de uma situação menos dinâmica e variante. Seria um equilíbrio mais no sentido de condições gerais para a reprodução das relações capitalistas sob determinados equilíbrios entre as classes e os Estados. Sem utilizar explicitamente o termo, Trótski apelou ao mesmo esquema conceitual integrador para pensar as relações entre o declínio da Europa, especialmente da Grã-Bretanha, e a ascensão dos EUA. Continuando a elaboração sobre o imperialismo depois da I Guerra Mundial (as elaborações “clássicas” tinham sido escritas antes ou durante a guerra), Trótski descreveu de maneira penetrante o “caos sistêmico” que derivava do irreversível declínio hegemônico da Grã-Bretanha, e da Europa de conjunto. Em 1925, afirmava:

A porção que o conjunto da economia britânica e o conjunto da economia europeia dominam hoje do mundo está caindo – ao mesmo tempo que a estrutura econômica da Inglaterra e da Europa Centro-Ocidental surgiram da hegemonia mundial da Europa e dependiam desta hegemonia –. Esta contradição, que é tão inevitável como impossível de ignorar, está se aprofundando progressivamente, e é o pré-requisito econômico básico de uma situação revolucionária na Europa [18].

Como afirma Paula Bach, “este método lhe permitiu identificar não só de forma muito adiantada a crescente hegemonia norte-americana desde os primeiros anos da década de 1920, senão que esta se desenvolveria como um conflitivo processo em permanente confrontação com a Europa e as restantes potências capitalistas” [19]. Podemos vê-lo em “O nacionalismo e a economia”:

A lei da produtividade do trabalho é de importância fundamental para as relações entre a América do Norte e a Europa e em geral para determinar a futura localização dos Estados Unidos no mundo […] Cedo ou tarde o capitalismo norte-americano abrirá seu caminho para cada canto de nosso planeta. Com que métodos? Com todos. Um alto coeficiente de produtividade denota também um alto coeficiente de forças destrutivas [20].

Trótski não formulou uma teoria da “sucessão hegemônica” como a de Arrighi, senão que caracterizou que a situação levava à guerra e à revolução. O resultado poderia ser a vitória do imperialismo norte-americano reafirmando sua posição como a principal força revolucionária em todo o mundo – o que levaria em sua opinião à liquidação da URSS – ou a vitória da revolução na Europa e nos EUA – o que era inseparável da revolução política na própria URSS para varrer a burocracia stalinista. Efetivamente a II Guerra Mundial deu lugar à revolução em boa parte da Europa e acelerou a luta pela descolonização nos países oprimidos, mas a própria ação do stalinismo e a intervenção contrarrevolucionária do imperialismo deram lugar a um resultado “combinado”: os EUA se impuseram como a potência hegemônica no mundo capitalista, mas a URSS sobreviveu – apesar da burocracia e graças ao heroísmo das massas – e ampliou sua esfera aos países da Europa do Leste, afiançando os traços de degeneração burocrática na URSS que também caracterizaram desde o começo o resto dos países onde a burguesia foi expropriada.

Sobre estas bases se constituiu um equilíbrio capitalista, baseado na ordem de Yalta [21]. Este equilíbrio foi golpeado pela derrota militar dos EUA na guerra do Vietnã e as tendências à confluência da revolução na periferia e no centro durante os anos 60-70. Mas o desvio ou derrota destes processos revolucionários, e a ofensiva capitalista contra a classe trabalhadora e os setores populares desde os anos 80, que esteve intimamente ligada à internacionalização produtiva e às políticas neoliberais, permitiu aos EUA recriar as condições de sua superioridade sobre o resto das potências que participaram desta busca de ampliar a expansão mundial de seus capitais.

Já faz um tempo que a “lei da produtividade” se volta claramente contra os EUA se consideramos o conjunto de sua estrutura produtiva e não olhamos somente a liderança que mantém em alguns setores de alta tecnologia [22]. Este é, como afirmamos mais acima, o resultado de como os capitais norte-americanos abraçaram a internacionalização. Mas as consequências se medem em uma deterioração social profunda que alimentou o descontentamento, cujas derivações explicam o que analistas liberais lúcidos como Martin Wolf definiram com preocupação como “fúria populista”, que ergueu Trump. A mesma bancarrota estrutural explica, além disso, as divisões entre setores da burguesia que já mencionamos. Também no plano internacional faz um tempo que, como os próprios estrategistas norte-americanos afirmam, existe uma dificuldade crescente dos EUA para impor seus interesses.

Trajetória similar de “crises orgânicas” e “fúrias” observamos durante a última década em outras latitudes. Desde a crise de 2008, além do Brexit e da corrosão pela direita e pela esquerda do “extremo centro” dos regimes políticos na UE, registramos também duas ondas de profunda luta de classes que percorreram o planeta. E a última está se reanimando agora ao calor da pandemia.

Com Trump se aceleraram todas estas tendências pré-existentes, que marcaram o início de uma ruptura de qualquer equilíbrio capitalista. Qualquer que seja o resultado de novembro, não haverá nenhuma recomposição da situação pré-existente. A “volta à normalidade” é um sonho eterno.

Temos que partir de coordenadas conceituais que permitam analisar o “caos sistêmico” como algo mais que um mero jogo de potências. Sem dúvida, o método de Trótski pode e deve ser enriquecido tomando aportes dos autores mencionados nesta nota e outros que permitam – superando seus aspectos unilaterais – compreender como o imperialismo norte-americano operou e atua desde a II Guerra Mundial, e as consequências produzidas pela maior internacionalização da produção atual. Mas é um ponto de partida inevitável para abordar uma situação mundial determinada pelo recrudescimento da luta de classes e das rivalidades entre as potências – e aspirantes a sê-lo –. Um mundo marcado pelas tendências a “crises, guerras e revoluções”.

Tradução: Francisco Marques.


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FOOTNOTES

[1Claudio Katz, “América Latina en el capitalismo contemporáneo II. Geopolítica, dominación y resistencias”, em Lahaine, consultado em 18/09/2020 em https://katz.lahaine.org/america-latina-en-el-capitalismo-contemporaneo-2/.

[2Idem.

[3New Left Review 83, setembro-outubro 2013.

[4Leo Panitch e Sam Gindin, “Trumping the empire”, The World Turned Upside Down? Socialist Register 2019.

[5William I. Robinson, “The great recession of 2008 and the continuing crisis: A Global Capitalism Perspective”, International Review of Modern Sociology, 38 (2), 2012.

[6Como argumenta Alexander Anievas, inclusive entre as 100 empresas mais transnacionalizadas que a UNCTAD identifica, somente um punhado aparece como genuinamente transnacionalizadas desde o ponto de vista de sua atividade e enfoque de suas operações (Alexander Anievas, “Theories of a Global State: A Critique’, Historical Materialism 16, 2008.

[7Michel Husson, “Notas sobre el imperialismo contemporáneo”, Viento Sur, consultado em 18/09/2020 em https://vientosur.info/wp-content/uploads/spip/pdf/Husson_Notas.pdf.

[8León Trotsky. “La revolución’ Permanente”, em La teoría de la Revolución Permanente (compilación), Buenos Aires, CEIP León Trotsky, 2000, p. 402.

[9Michel Husson, ob. cit.

[10Idem.

[11Spyros Sakellaropoulos, “The theoretical weakness of theses positing emergence of a transnational bourgeoisie and a transnational state. A critique of the views of William Robinson”, consultado em 18/09/2020 em http://spyrossakellaropoulos.com/keimenaDetails.php?nid=189.

[12Ernesto Screpanti, Global imperialism and the Great Crisis. The uncertain future of capitalism, Nova York, Monthly Review Press, 2014, p. 12.

[13Ibidem, p. 123.

[14Ibidem, p. 206.

[15UNCTAD, World Investment Report 2020. International production beyond the pandemic, Nova York, 2020, p. xii.

[16Ver a respeito Gabriel Esteban Merino e Patricio Narodowski, Geopolítica y Economía Mundial. El ascenso de China, la era Trump y América Latina, La Plata, CIG-IdIHCS-Conicet, 2019. Também Claudio Katz, ob. cit.

[17León Trotsky, Los primeros 5 anos de la Internacional Comunista, Buenos Aires, Ediciones CEIP León Trotsky, 2016, p. 203.

[18León Trotsky, “Sobre la cuestión de la estabilización de la economía mundial”, em Naturaleza y dinámica del capitalismo y la economía de transición, Buenos Aires, CEIP León Trotsky, 1999, p. 78.

[19Paula Bach, “Introducción”, em Ibidem, p. 25.

[20Ibidem, p. 143.

[21Sobre as condições da ordem mundial durante a Guerra Fria ver o Capítulo 8 de Emilio Albamonte e Matías Maiello, Estrategia Socialista y arte militar, Buenos Aires, Ediciones IPS, 2017, pp. 489-524. Há uma tradução publicada em português em 2020 pelas Edições Iskra – nota do tradutor

[22Ver o panorama escancarado pelo informe de Robert D. Atkinson, “The Case for a National Industrial Strategy to Counter China’s Technological Rise”, ITIF, 13/04/2020.
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