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Chile | O triunfo de Boric e a luta pelas demandas de outubro

A vitória de Gabriel Boric sobre José Antonio Kast não deixou de surpreender pela diferença de mais de 10 pontos percentuais, superando os 55% do total de votos. O triunfo de Kast no primeiro turno, e o fortalecimento da direita no parlamento gerou uma forte resposta para frear Kast. Esta força que agora foi expressa nas urnas, deve se manifestar nas ruas para retomar as demandas de outubro que hoje todos querem enterrar, incluindo o próprio presidente eleito.

segunda-feira 20 de dezembro de 2021 | Edição do dia

A vitória de Gabriel Boric sobre José Antonio Kast não deixou de surpreender pela diferença de mais de 10 pontos, ultrapassando 55,8% do total de votos. Milhões compareceram às urnas neste segundo turno, alcançando a maior participação desde que o voto voluntário foi estabelecido. Mais de 8 milhões de pessoas compareceram para votar, cerca de 55% do cadastro. Boric é o presidente eleito que obteve o maior número de votos na história.

Manteve sua vantagem na Região Metropolitana, exceto nas "três comunas" [1] da rejeição. Embora Kast tenha vencido em La Araucanía e Bío Bío, ele perdeu nas regiões de O’Higgins e Los Lagos, não conseguindo manter a vantagem categórica que havia conquistado no sul do Chile durante o primeiro turno.

Gabriel Boric alcançou uma clara vitória na região de Antofagasta, que havia sido a capital do fenômeno parisiense. O candidato do Partido do Povo era um direitista inexpressivo, pedindo votos para Kast. Mas uma parte significativa de seus eleitores lhe deu as costas, votando contra a extrema direita.

Boric aumentou consideravelmente seu número de votos, gerando grandes expectativas de mudanças. No entanto, muitos votaram nele somente para que Kast não vencesse, sem nenhum entusiasmo pela figura de Boric, que foi um ícone do "Acordo pela Paz e a Nova Constituição" que salvou a pele de Piñera e lhe proporcionou a impunidade.

Durante a campanha, Gabriel Boric e a sua frente eleitoral, Aprovar Dignidade [2], foram se voltando sistematicamente para o centro e se afastando das demandas pelas quais milhões se mobilizaram em outubro. Boric colocou em dúvida a questão a Lei dos Indultos aos presos das revoltas populares de 2019 e que o fim das AFPs(sistema de pensões) era um ponto intratável.

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Vários dirigentes e economistas da ex-Concertación desembarcaram em seu comando com o objetivo de resguardar a demanda dos grandes empresários pela manutenção de pilares fundamentais do neoliberalismo. Assim, Boric se comprometeu a respeitar o orçamento de 2022, que incentiva um rígido ajuste fiscal com o fim do IFE(ajuda econômica aos afetados pela crise do coronavírus) e honrou a exigência de “responsabilidade” fiscal.

Todos os sinais vão no sentido de formar uma nova aliança entre a esquerda reformista e a antiga Concertación, uma espécie de Nova Maioria 2.0, com o apoio explícito de Ricardo Lagos [3], Michelle Bachelet e dos democratas-cristãos. Ainda não se sabe como seu governo e gabinete serão formados.

A vitória de Kast no primeiro turno e o fortalecimento da direita no parlamento geraram uma forte resposta para freá-lo. Essa força que hoje se expressou nas urnas, deve se manifestar nas ruas para retomar as demandas de outubro que todos querem enterrar hoje, inclusive o próprio Gabriel Boric. Começando por exigir perdão aos presos da rebelião, a desmilitarização do Wallmapu [4] e lutando por demandas sociais urgentes como o fim das AFPs, um salário mínimo de $ 600.000 com reajuste automático de acordo com a inflação, fim das listas de espera e da precariedade da saúde, cessando dispensas na saúde. Pensões, salários, saúde, moradia são as urgências populares pelas quais devemos lutar.

Apesar da derrota de Kast, a direita continua forte no parlamento. Por sua vez, os verdadeiros donos do Chile já anunciaram que seu plano para estes anos é que a desaceleração e a inflação sejam pagas pelos trabalhadores. Eles farão de tudo para limitar quaisquer mudanças que venham a favor do povo. E Boric já anunciou que ficará dentro dessas margens. Por isso, é fundamental atender às demandas de outubro, fortalecer as organizações sindicais, estudantis e sociais, a coordenação e a auto-organização para preparar o caminho para a mobilização.

Texto publicado originalmente no La Izquerida Diario Chile

Tradução: Samuel da Rosa


[1Um dos tipos de subdivisão administrativa no Chile

[2Aliança que reúne a Frente Ampla e o Partido Comunista

[3Político populista conhecido por atacar os povos Mapuche

[4Região do Chile onde habitam os povos Mapuche





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