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CRISE AMBIENTAL | Os garimpeiros em Roraima se apoiam em Bolsonaro para perseguir os Yanomamis

A escalada dos absurdos no território indígena Yanomami em Roraima é a expressão mais nefasta do projeto bolsonarista e que conta com o apoio ativo do Governador do estado, aliado do presidente. Armando os garimpeiros e fomentando uma prática miliciana pretendem expulsar os indígenas de seu território, muito cobiçado para mineração e setores do extrativismo. As incursões têm sido cada vez mais recorrentes, com tiros, bombas de gás, mortes e se coloca um cenário de barbárie e possíveis massacres que é preciso impedir urgentemente.

João SallesEstudante de História da Universidade de São Paulo - USP

terça-feira 25 de maio de 2021 | Edição do dia

VICTOR MORIYAMA / ISA

Nas últimas semanas temos visto serem noticiadas diversas declarações de figuras da comunidade indígena no país denunciando o caos social e a perseguição sistemática causada pela invasão dos garimpeiros no território Yanomami e ainda por cima Bolsonaro, buscando demonstrar seu apoio ativo a esse projeto de expulsão e expropriação das terras demarcadas foi se encontrar com garimpos e pelotões do exército que exercem suas atividades criminosas dentro do território, um verdadeiro disparate.

A luta e a perseguição do povo Yanomami em Roraima

Para que possamos entender a gravidade da situação e também o embate histórico do povo Yanomami contra o avanço do garimpo ilegal dentro de seu território é preciso ver que esse povo sofre com ações criminosas desde a década de 80 devido a presença de ouro em particular na região. São mais de 9 milhões de hectares de terra distribuídos entre os Estados do Amazonas, de Roraima e também da Venezuela que só foram demarcados em 1992 depois de anos em luta da população originária contra os interesses minerários que já somam mais de 537 requerimentos de pesquisa para exploração de minérios segundo estudo do Instituto Socioambiental (ISA) de 2019, território campeão em número no país.

São 4 massacres do final dessa década de 80 até 2013 que se tem registro, fora o período da ditadura militar no país que também tem massacres na conta. O mais emblemático deles sendo o massacre de Haximu na fronteira com a Venezuela no ano de 1993, onde 16 indígenas foram exterminados por garimpeiros de ouro, um crime julgado como genocídio. Em 2013, durante o governo Dilma (PT) a região de Alto Alegre, também em Roraima, foi palco de confronto armado que deixou 5 mortos e sete feridos.

Se somam a esse fato um aumento da repressão do Estado que se aprofunda no ano de 2016 em geral no país com 118 assassinatos registrados no país, e a intensificação das atividades ilegais de garimpo na região. Importante lembrar que ainda sob o governo golpista de Michel Temer (MDB), no ano de 2018 em meio a crise imigratória que se desatou na fronteira de Roraima com a Venezuela foi designado, pelo próprio Temer, Antonio Denarium para interventor federal no Estado. Denarium já havia participado das eleições pelo PSL poucos meses antes, tendo vencido. Naquele momento o partido de Bolsonaro também era o PSL, tiveram suas campanhas para governador e presidente completamente alinhadas. Ou seja, na prática foi empossado antecipadamente para governar o Estado defensor da política de nenhuma terra para os indígenas e de incentivo quase que irrestrito ao avanço das atividades garimpeiras no território Yanomami, um polo reacionário da política extrativista desenfreada de Ricardo Salles e Bolsonaro.

Para se ter ideia, o relatório “Cicatrizes da Floresta” publicado em Março deste ano pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) com assessoria da ISA faz um levantamento que aponta um avanço de 30% do garimpo ilegal dentro do território Yanomami no ano de 2020. Isso é o equivalente a 2.400 hectares dos 9.000 demarcados em território e mais da metade se concentra nas margens do rio Uraricoera (RR) onde indígenas relatam que a presença dos garimpeiros armados em embarcações é permanente e já deixou duas crianças mortas e diversas pessoas feridas por conta dos tiroteios, tendo havido uma troca de tiros inclusive com a Polícia Federal na região.

Essa nova onda de represálias teria sido resultado da imposição de uma barreira sanitária por parte dos Yanomamis para evitar o alastramento da Covid-19 que já acometeu mais de 1.400 indígenas, com 21 mortos de uma população de 27.000 em que boa parte se encontram doentes. Há para além desse fato um completo abandono que resulta em surtos de malária, tuberculose, desnutrição crônica e aguda e na poluição do meio ambiente fruto da devastação causada pela mineração ilegal. Há em curso um projeto sistemático de expulsão dos Yanomamis desse território por milícias armadas de garimpeiros apoiados pelo governo de Bolsonaro, pelos militares em controle da Amazônia e do governador Antonio Denarium. Esse projeto hoje chega a tal ponto que podemos estar na iminência de mais um massacre de proporções absurdas para beneficiar diversos setores capitalistas nacionais e internacionais.

Veja também: A invasão das terras Yanomami, a devastação ambiental e a geopolítica dos EUA

Lutemos contra a perseguição Yanomami do Bolsonaro, Ricardo Salles e militares

Contando com o braço do Estado de Roraima como um bastião da sua política reacionária, Bolsonaro busca dar um recado contundente ao tensionar a escalada repressiva dos garimpeiros ainda mais. Com uma queda de popularidade crescente e certo desgaste que forçam setores do Congresso Nacional e do STF tem perdido nas pesquisas de intenção de voto para Lula, que anunciou oficialmente sua candidatura para presidência nas eleições de 2022 e vem costurando suas alianças escusas com os golpistas da velha política para gerir o capitalismo em crise.

Apesar de amplos setores burgueses estarem se relocalizando no guarda chuva dessa frente ampla contra Bolsonaro nas eleições é preciso ver que Bolsonaro força um choque de sua base social contra esse setor extremamente pauperizado e uma dominação territorial de milícias garimpeiras que funcionam como sustentáculo de seu poder e também vitrine de sua ambição em projeto: Impor uma política de terra arrasada no país, retirando direitos, privatizando empresas e tudo isso com base em um nível de autoritarismo cada vez maior disputando força política nas forças armadas e setores da sociedade civil organizados em bandos armados de perseguição e extermínio. Um situação comparável talvez somente ao Rio de Janeiro, onde as chacinas das milícias nas periferias são cada vez mais recorrentes com os negros também marginalizados.

Os militares por sua vez nada tem feito para impedir a ação do garimpo ilegal ali, isso porque lucram muito com as atividades ilícitas de extrativismo na região amazônica como um todo, das madeireiras e também do agronegócio. Mourão mesmo é chefe da Comissão da Amazônia que deveria supostamente ser encarregada de “defender” a floresta, mas acaba servindo como uma via de controle e lucro dessas altas patentes corruptas e assassinas.

É absurdo que frente um cenário desse o máximo oferecido pelo PT e setores do PSOL que se dizem oposição seja apostar todas as suas fichas na CPI da Covid e na política de impeachment (que aliás diga-se de passagem colocaria Mourão, general saudosista da ditadura militar e cumplice no morticínio no poder) para desgastar Bolsonaro eleitoralmente e alavancar uma frente ampla com golpistas para conter e canalizar a revolta social nas eleições tuteladas pelos militares e pelo STF. Setores esses que foram comprados recentemente no “tratoraço” bilionário do governo e aprovaram recentemente um PL de flexibilização das licitações ambientais que visa atacar também os indígenas e quilombolas no país.

A defesa intransigente da vida e do território indígena e dos povos originários deve estar articulada a um programa anticapitalista e de independência de classe que se enfrente com o conjunto desses atores do regime, na perspectiva de garantir uma convivência harmoniosa entre o homem e a natureza que passa por derrubar esse sistema capitalista miserável que promove morte e destruição pela sede de lucro. Os atos de rua convocados para o dia 29/05 também devem ser um ponto de apoio para fortalecer a luta em defesa dos Yanomamis e pela revogação imediata desse PL aprovado, bem como de todas as leis e medidas aprovadas que atacam o meio ambiente e esse setor originário brutalmente oprimido.

Que esses novos ares de mobilização possam se inspirar na luta da Colômbia e possamos impor pela nossa luta uma nova Constituinte Livre e Soberana que garanta a revogação dessas medidas, a demarcação garantida e solene de territórios indígenas e quilombolas com uma reforma agrária radical que garanta suas autonomias e desmantele o poder latifundiário e o extrativismo desenfreado. Que essa luta possa abrir também caminho para um governo dos trabalhadores em aliança com os setores oprimidos da sociedade que busque romper com o capitalismo e construir uma nova sociedade que tenha como um de seus objetivos socialistas a defesa da vida e do meio ambiente.




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