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Opinião | Os ventos da luta de classes internacional dizem: abaixo a herança do golpe de 64!

Hoje é o dia da mentira e faz 57 anos do golpe militar brasileiro. Mas a mais pura verdade é que se tem algo que a burguesia tupiniquim treme de medo é da classe trabalhadora levantar a cabeça. Para derrotar os golpistas de hoje, os saudosos da ditadura de ontem, nos inspiremos na história da nossa classe que está sendo escrita neste exato momento com lutas memoráveis internacionalmente, como na greve geral contra o golpe militar em Mianmar, a luta por sindicalização dos trabalhadores da Amazon nos Estados Unidos, as jornadas de milhares e milhares de argentinos em repúdio aos 45 anos do golpe militar.

Rosa Linh Estudante de Relações Internacionais na UnB

quinta-feira 1º de abril de 2021 | Edição do dia

Foto: 1981. Estudantes da UnB expulsam Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA, sob uma chuva de ovos e tomates, enquanto queimavam a bandeira do país imperialista, o principal financiador do golpe e da ditadura militar brasileira.

Alguns dizem que os milicos deram o golpe de 64 no dia 1º de abril, mas depois mudaram a data oficial para não pegar mal. O fato é que hoje é o dia da mentira e faz 57 anos do golpe militar brasileiro - mas a mais pura verdade é que se tem algo que a burguesia tupiniquim treme de medo é da classe trabalhadora levantar a cabeça contra Bolsonaro, militares e todos golpistas.

Vivemos um momento reacionário no Brasil. São 3 mil mortes diárias pela COVID, 300 mil ao todo. Parece que falar de luta é algo distante. O peso das derrotas da classe operária, das traições das burocracias sindicais que abriram espaço para a direita com a conciliação de classe do PT e PCdoB, deixando passar a reforma trabalhista, da previdência, o teto de gastos - isso desmoralizou a classe trabalhadora e, com a pandemia, isso se intensificou.

Mas o fato é que a classe trabalhadora não está derrotada estrategicamente. A ditadura militar que os golpistas de hoje comemoram matou cerca de 434 pessoas. Mesmo assim, a classe trabalhadora, os estudantes, os negros, as mulheres, as LGBTs - nossa classe e os oprimidos nunca foram derrotados permanentemente. Em 1978 ela ergueu a cabeça e realizou greves históricas no ABC paulista que fizeram a ditadura tremer e cair. Para derrotar os golpistas de hoje, os saudosos da ditadura de ontem, a impunidade do passado e do presente - nos inspiramos na história da nossa classe que está sendo escrita neste exato momento com lutas memoráveis internacionalmente.

A luta contra o golpe militar em Mianmar

Um dos epicentros da luta de classes internacionais é certamente Mianmar. Após o golpe de Estado realizado pelos militares, os estudantes, as mulheres operárias da indústria têxtil, os ferroviários, as etnias oprimidas como os Rohingya resistem juntos por mais de 2 meses a ondas repressivas do exército e da polícia, com vários assassinatos. Mas mesmo assim, a classe trabalhadora do país do sudeste asiático mantém-se firme contra a Junta Militar golpista.

Com os métodos históricos de luta da classe trabalhadora, o operariado birmane está em uma potente greve geral - com bancários, portuários, caminhoneiros paralisados, com 18 centrais sindicais fazendo um chamado unitário de greve até que caia a junta militar. Isso mesmo diante de uma enorme repressão, no qual os militares não poupam brutalidade mesmo em manifestações pelos mortos nos protestos. O proletariado e o povo oprimido de Mianmar está sendo heroico, escrevendo história. É um exemplo de luta, uma demonstração que mesmo na pandemia, em pleno século XXI, a luta de classes é implacável e não importa quantas vezes a classe trabalhadora sofra derrotas - enquanto houver civilização, enquanto os patrões precisarem dos trabalhadores para tudo produzir e gerar sua riqueza, o proletariado mundial não sofrerá sua derrota final. Um suspiro de vida em meio a tantas mortes e ataques no Brasil.

Operárias têxteis reivindicando que não sejam demitidas por se juntarem aos protestos pela democracia no país. Foto do New York Times

Trabalhadores mianmarenses em solidariedade com a luta por sindicalização na Amazon nos EUA. Foto: Twitter - @AndrewTSaks

Saiba mais: O dia mais sangrento do golpe em Mianmar e os amigos do Tatmadaw

Leia também: Mianmar: repressão militar, autodefesa e o papel dos exércitos rebeldes

A luta por sindicalização dos trabalhadores da Amazon no Alabama/EUA

A classe trabalhadora dos EUA, após a maior rebelião da história do país, hoje batalha contra o maior bilionário do mundo, Jeff Bezos, e seu boicote sistemático à sindicalização dos trabalhadores da Amazon.

Enfrentando jornadas de trabalho massacrante durante a pandemia, os trabalhadores dessa multibilionária companhia estão sendo dia após dia pressionados pela polícia, com ameaças de demissão da empresa. Mesmo assim, muitos deles entenderam que a rebelião contra a polícia e o racismo era a mesma luta contra a burguesia imperialista representada por Bezos e a precrarização do trabalho, que tem cara de homens e mulheres negras. No Brasil, o país com a maior população negra fora da África, onde são os trabalhadores e o povo pobre negro que mais sofre com os ataques dos capitalistas e da pandemia, esse exemplo é fundamental e inspirador.

Foto: Jay Reeves/AP

Foto: Bob Miller/The New York Times

Leia mais: Direto do Alabama: é assim que se vive a luta pelo sindicato na Amazon

Jornadas por Memória, Verdade e Justiça aos 45 anos da ditadura militar na Argentina

Na semana passada, uma imensa marcha varreu inúmeras cidades na Argentina em repúdio aos 45 anos do golpe militar no país. Eram milhares de jovens e trabalhadores marchando em repúdio ao sanguinário golpe militar que, como no Brasil, foi patrocinado diretamente pelo imperialismo estadunidense. Foram 30 mil mortos e desaparecidos - “30 mil motivos para lutar’’, diziam os manifestantes. Em Buenos Aires, Rosário, Mendonza, Neuquén, Córdoba: as ruas estavam lotadas de trabalhadores terceirizados da LATAM, Madygraf, estudantes, lutadores de Guernica, professores, trabalhadores da saúde, todos juntos contra o entulho da ditadura.

O Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS), membro da Frente de Izquierda y de los Trabajadores (FIT-U) e parte da Fração Trotskista (FT-QI) junto do MRT, no Brasil, foi um dos principais impulsionadores desse dia de luta. É um exemplo de como se repudia a herança da ditadura: organizando a classe trabalhadora e os oprimidos nas ruas, um exercício necessário para moralizar a vanguarda, reforçando o potencial que tem as forças da própria classe trabalhadora para as lutas por vacina para todos e a imposição de um plano emergencial de combate à pandemia. Bem diferente do que vemos com a separação dos atos da CUT e CTB (dia 24) e da UNE (dia 30), todas burocracias sindicais dirigidas pelo PT e PCdoB, e que não foram massivamente convocadas pela base.

Manifestantes em Córdoba

Manifestantes em Buenos Aires

Leia mais : Marcha na Argentina é exemplo de luta contra a LSN

O golpe militar de 64 no Brasil poderia ter sido evitado se não fosse a direção stalinista do PCB que se colocou por detrás de Jango, assim como Brizola, tentando separar as lutas camponesas, estudantis e operárias que se insurgiram e poderiam ter levado o país à superação do capitalismo. E no momento decisivo, quando os marinheiros rebelados contra os próprios superiores colocaram sua vida à prova oferecendo armas aos operários, nada fizeram. Diante de tantos exemplos da história, temos a vantagem de poder fazer diferente, de aprender com a história. E mesmo com várias derrotas, a classe trabalhadora é a única que pode aprender com seus erros e superá-los no futuro.

O regime militar brasileiro foi mesmo um regime de mentiras, fazendo jus ao 1º de abril. Para trazer a verdade e impor justiça, tomemos esses exemplos vivos de trabalhadoras e trabalhadores, jovens estudantes, tantas e tantos explorados e oprimidos por todo o mundo, para impor pela luta uma Assembleia Constituinte livre e soberana! Que varra todo o entulho da ditadura como a Lei de Segurança Nacional, para revogar todas as reformas! Para isso, as centrais sindicais como a CUT e a CTB, a direção da UNE dirigidas pelo PT e PCdoB devem romper com sua paralisia e espera passiva de 2022 para organizar a nossa classe imediatamente, por um plano emergencial de combate à pandemia, contra todos os resquícios da ditadura, contra Bolsonaro, Mourão, militares e todos os golpistas.

Saiba mais : Abaixo a Lei de Segurança Nacional da ditadura! Fora Bolsonaro, Mourão e os golpistas




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