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Petrobrás | Petroleiros: como se enfrentar com a continuidade das privatizações e precarização?

Hoje aconteceram diversos atos e assembleias organizados pela Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT). Com adesão de muitos petroleiros nela discute-se um estado de greve contra a continuidade das privatizações na maior empresa do país. A partir da próxima semana as bases da FNP também realizarão assembleias, discutimos nesse artigo quais perspectivas políticas e de luta os petroleiros devem ter para conseguir dar um basta as privatizações e avançar em suas reivindicações.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sexta-feira 24 de março de 2023 | Edição do dia

Em diversos pontos do país os petroleiros cruzaram os braços por algumas horas hoje protestando contra a continuidade das privatizações e aprovando um “estado de greve” proposto pela FUP. As assembleias devem durar vários dias, seguindo a tradição da categoria de abranger cada grupo de turno em seu horário. As bases da Frente Nacional de Petroleiros (FNP) onde há maior peso de correntes que se reivindicam socialistas as assembleias começarão a partir da semana que vem. Queremos aqui nesse artigo debater qual perspectiva os petroleiros devem adotar para garantir suas reivindicações.

Apesar da vontade de milhões de trabalhadores, apesar de alguns discursos e ofícios de Lula e do Ministério de Minas e Energia a Petrobras segue – a todo vapor – a privatização de diversos ativos da empresa. Em questão de dias quer concluir a entrega de todos ativos do Ceará, Rio Grande do Norte e Norte do Espírito Santo. Essa vendas se somam a entrega de todos ativos de logística e refino na Bahia, todos ativos logísticos e de produção no Sergipe, e à refinaria do Amazonas. As ações na bolsa de valores das empresas ganhadoras das novas privatizações – criminosas – dispararam. É um tremendo negócio para elas. Terrível para os petroleiros e todo o país. Ao contrário dos recursos do petróleo e do refino servirem aos interesses do povo servem para enriquecimento privado.

É verdade também que esse enriquecimento privado acontece também mesmo se esses ativos estiverem nas mãos da Petrobras e ela continuar sua gestão capitalista. A empresa tem o maior capital votante em mãos do governo federal mas tem a maioria do capital social (aquele que recebe lucros) nas mãos privadas, e especialmente imperialistas. A empresa é administrada pelo estado brasileiro mas para gerar lucros e dividendos para o imperialismo. Essa política pode ser ajustada mas não será atacada pela nova gestão da Petrobras indicada por Lula. Do entreguismo neoliberal turbinado de Bolsonaro e Guedes para uma outra política capitalista mas que seguirá com entrega de recursos ao imperialismo. Prates, o novo presidente, já deixou claro que seguirá remunerando os acionistas privados, pode entrar em questão uma redução de quanto mas não a política. Hoje a Petrobras é a segunda maior remuneradora de acionistas no planeta, pode diminuir e virar a décima, a vigésima, a trigésima mas ainda será uma galinha de ovos de ouro para enriquecimento de bilionários.

Sugerimos a leitura de “O Lucro da Petrobrás é um roubo do pais. Como fazer o petróleo ser nosso” para se aprofundar nessa crítica.

Já administrada pelo petista Prates a Petrobras seguiu desenvolvendo "parcerias" com a Shell para exploração de petróleo e assinou novos contratos de plataformas eólicas junto aos imperialistas Engie (França) e Equinor (Noruega). Ou seja, sob outra forma, há privatizações que seguem em curso, para além da entrega do RN, CE, ES.

Nas mãos de Prates a empresa pode mudar sua política de preços garantindo combustíveis a preços que não sejam um assalto, pode ter maiores investimentos, mas tudo isso está condicionado em não se contrapor aos investidores privados como demonstram as parcerias com a Shell em campos de petróleo, nas plataformas eólicas com a Engie e Equinor. Ou seja ao não romper os limites de conciliação com esses acionistas, com essas empresas imperialistas, com os indicados do Centrão na empresa, com o neoliberal Alckmin e um longo etcetera, temos que aceitar essas privatizações e "parcerias" que seguem em curso?

A empresa mesmo após mudança da presidência não segue somente privatizando, como continuam as condições precárias de trabalho dos terceirizados – que inclusive tiveram que organizar greve para conseguir elementares direitos como aconteceu na REFAP – os petroleiros próprios sofrem de falta de pessoal nas refinarias e terminais, tem direitos nos embarques sendo sucateados, e até mesmo aconteceu um absurdo caso da empresa não tomar ação diante de abuso sexual como denunciou o Sindipetro-RJ e só após aparecer na TV que algo foi feito.

Para dar fim a precarização do trabalho, para se enfrentar com chefes machistas e racistas como ficou evidente no caso do abuso sexual no CENPES, para impedir as novas privatizações e para organizar a luta para retomada de todas unidades que foram privatizadas é preciso uma potente organização dos petroleiros pela base. É preciso organizar-se em cada local de trabalho, coordenar os setores, e assim coordenar uma luta independente dos trabalhadores. Essa perspectiva é muito diferente daquela que orienta a FUP que conduz o movimento para se tornar uma pressão em prol de Prates e do governo.

Prates e o governo podem tomar algumas medidas que parem uma parte da sangria criada por Bolsonaro, mas elas terão como limite a conciliação o que pode incluir até mesmo privatizações, mas com certeza incluem a continuidade da terceirização e de todo trabalho precário. Nosso objetivo pode e deve ser muito superior, deve ter como norte reafirmar bandeiras históricas da categoria, como a luta por uma Petrobras 100% estatal, do poço ao posto, e que nós do Esquerda Diário complementamos dizendo que isso só pode ser plenamente realizado se lutamos também para que a empresa seja administrada democraticamente pelos trabalhadores e não por diretores e gerentes neoliberais que mudam seus alinhamentos políticos a cada eleição mas nunca mudam seu alinhamento fundamental: organizar a empresa para o lucro e não para os interesses dos trabalhadores petroleiros e de todo o país.




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