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Polícia matou mais de 2215 crianças e adolescentes em três anos no país

Entre 2017 e 2019, policiais mataram 2215 crianças e adolescentes. Destes, 69% eram negros. Em 2020, no Rio, mesmo com o isolamento social da pandemia, 99 crianças e adolescentes foram mortos pela polícia. O estado responde por quase 40% das mortes de crianças e adolescentes decorrentes de intervenção policial no país.

terça-feira 15 de dezembro de 2020 | Edição do dia

O levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a pedido da Folha, apontou que os números de mortes vêm crescendo. Para a pesquisa foram considerados crianças e adolescentes todos que tivessem de 0 a 19 anos. A pesquisa mostra que em 2017 era 5% o total das mortes violentas nessa faixa etária, no ano passado já eram 16%. O Rio de Janeiro é o estado que ocupa o primeiro lugar no ranking de letalidade policial nessa faixa etária, mesmo com metade dos registros sem informação de idade. Foram 700 vítimas entre 2017 e o primeiro semestre deste ano.

Foram quinze estados que deram dados consistentes (Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo), o que por si só já coloca o evidente desprezo com que muitos governos tratam seus números de mortos e a objetiva vontade do Estado em perpetuar a violenta estrutural policial ao esconder os dados reais que a comprometeria em muito.

Nem mesmo a pandemia, com o menor isolamento social possível realizado, pôde reduzir a letalidade policial no Rio. Este estado é o primeiro da lista no que se refere à morte por policiais, ele responde por quase 40% das mortes de crianças e adolescentes decorrentes de intervenção policial no país e esse percentual mais que dobrou nos últimos dois anos, de 16,5% para 37,62%. Contudo, os registros são insuficientes e em grande medida distantes da realidade, pois metade deles não têm a idade da vítima informada.

O segundo da lista é São Paulo. Segundo a pesquisa, no ano passado foram 120 crianças e adolescentes mortos pela polícia - 53 na capital e 67 em outros municípios. Como no Rio, ainda que em menor quantidade, 28% dos registros não há a idade da vítima. Em continuidade, o terceiro no ranking do número absoluto de mortes é o Pará, com 102 vítimas —o estado não registra idade em 26% dos casos. Em seguida vem o Paraná, onde foram mortas 58 crianças e adolescentes por policiais em 2019, Ceará (39) e Minas Gerais (19).

Alguns estados, propositalmente, não divulgam a idade das vítimas, enquanto outros que preenchem organizam mal as informações, dificultando que os dados venham a público e que demonstre de fato as verdadeiras atrocidades policiais, além de criar barreiras para que estudos sociológicos críticos sejam levantados. Afirma Sofia Reinach, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que:

“Cada estado tem sua própria forma de registro nas delegacias e de compilação dos dados. Não existe um sistema nacional que junte isso"

Goiás e Bahia, por exemplo, não entraram no levantamento porque insistem em enviar os dados por faixa etária e não a idade exata. No Pará, por exemplo, 98% dos casos não têm informação sobre raça/cor. No Ceará, são 77%. Retirando o déficit de dados, a pesquisa concluiu que 69% das vítimas da letalidade policial entre crianças e adolescentes no país são negras e que os casos se concentram na faixa etária que vai dos 15 aos 19 anos.

É repugnante que, no Brasil, um adolescente ou uma criança pobre e negra não tenha direito à vida, à plena infância. Aqui não se trata somente de um problema conjuntural, embora tenha se agravado no governo Bolsonaro, da extrema direita com bases policiais fascistas, mas também da estrutura da polícia enquanto uma organização armada à serviço do Estado capitalista que também é racista e assassino, por sua vez. Os policiais são inimigos da classe trabalhadora, já diria Trotsky, pois de operários passam a ser agentes diretos do Estado, da repressão deste e pela segurança da propriedade privada. Portanto, só a auto-organização dos trabalhadores é que poderá de fato trazer uma segurança efetiva e suficiente para os mais pobres e negros, definitivamente por fora dos moldes do aparato assassino que é hoje a polícia burguesa.




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