×

Pão e Rosas | Por um 8 de março independente do governo e do Estado capitalista: colocar de pé a força das mulheres trabalhadoras!

Estamos a poucos dias do primeiro 8M após a derrota eleitoral de Bolsonaro e diante do governo de frente ampla Lula-Alckmin, uma situação que coloca em novos marcos discussões e desafios estratégicos às mulheres e ao conjunto da classe trabalhadora na luta contra o capitalismo e o patriarcado. A partir do Pão e Rosas erguemos as bandeiras do feminismo socialista e defendemos que nossa luta contra a opressão às mulheres, negros e LGBTQIAP+ é inseparável da luta contra a exploração capitalista. Por isso, nossa batalha também passa por ligar o movimento de mulheres à luta de classes.

Pão e Rosas@Pao_e_Rosas

sexta-feira 24 de fevereiro de 2023 | Edição do dia

Hoje vivemos o aprofundamento da crise capitalista que assola o mundo com a guerra na Ucrânia, desastres ambientais de proporções históricas, fruto da super exploração e ganância capitalista, com a fome e o desemprego que afetam diretamente a vida das mulheres trabalhadoras. É o que vemos na situação da população do litoral norte de São Paulo, que sofre com as tragédias capitalistas previsíveis que matam trabalhadores e pobres todos os anos com chuvas e enchentes.

Contra a barbárie capitalista nos inspiramos na resistência do povo peruano no combate contra o golpe de estado protagonizado por Dina Boluarte. O Pão e Rosas, que é um grupo internacional de mulheres, organiza hoje em cada país onde estamos a solidariedade à luta do povo peruano que tem na linha de frente a força das mulheres indígenas se enfrentando com a brutal repressão do governo golpista. E no Brasil rechaçamos o reconhecimento de Lula ao governo golpista: exigimos a ruptura de todas as relações entre Brasil e o governo golpista do Peru e construímos junto a peruanos e peruanas residentes no Brasil manifestações de apoio a essa luta. Nos apoiamos também na força da luta de trabalhadoras e trabalhadores franceses contra a reforma da previdência de Macron, que assim como aqui, servirá para explorar ainda mais a nossa classe e fazer com que tenhamos que trabalhar até morrer para seguir garantindo os lucros de um punhado de parasitas capitalistas.

No Brasil os últimos anos com o reacionário e odioso governo Bolsonaro foram marcados por brutais ataques do governo e dos capitalistas às nossas condições de existência, com a imposição da Reforma Trabalhista, da Reforma da Previdência, da Reforma do Ensino Médio, da Lei da Terceirização Irrestrita, do Teto de Gastos, do ataque às terras indígenas e outras medidas que atingem em cheio as mulheres trabalhadoras, sobretudo as mulheres negras e racializadas. Além disso, a extrema-direita fez uma campanha permanente contra nosso direito ao próprio corpo e, com apoio do judiciário misógino, busca impedir o aborto legal até mesmo às meninas vítimas de estupro. A discussão do aborto também pautou a campanha eleitoral, com a extrema-direita reafirmando sua demagogia pró-vida, enquanto mulheres morrem por abortos clandestinos.

Como parte da herança do governo Bolsonaro, chegamos a esse 8M com os maiores índices de feminicídio de nossa história. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no primeiro semestre de 2022, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil. Todo o discurso machista e misógino da extrema-direita se concretiza em dados como esse e na redução drástica do orçamento de combate ao feminicídio, contando com o apoio do Congresso Nacional, uma medida que o governo Lula-Alckmin não sinalizou reverter.

Nós, mulheres, estivemos na linha de frente contra cada um dos ataques da extrema-direita e seguimos rechaçando qualquer ataque bolsonarista ou medidas golpistas. Porém, o atual governo, eleito através de uma frente ampla, que contou com o apoio de diversos setores da burguesia como a FIESP, a Febraban, a ala dirigente do imperialismo americano e também da direita liberal e golpista, como o próprio Geraldo Alckmin, vice de Lula, vem demonstrando que não atenderá a demandas urgentes e elementares das mulheres, como a revogação integral de todas as reformas e o direito ao aborto legal, seguro e gratuito. Ao mesmo tempo que reafirma seus compromissos com a direita e os capitalistas, o governo busca incorporar e institucionalizar organizações sindicais e movimentos sociais como forma de garantir que não expressem nenhum contraponto a essa política de conciliação com nossos inimigos.

Veja também: Atualizações da situação nacional do Brasil em 2023

Por isso nossa luta deve ser independente do governo e de todas as instituições do Estado, nos organizando em cada local de trabalho e estudo e batalhando para erguer a força da unidade das mulheres com o conjunto dos trabalhadores, das LGBTQIAP+, da juventude, do povo negro e todos os oprimidos. Nesse sentido, nós mulheres do Pão e Rosas viemos intervindo nas reuniões de preparação do 8M em diversos estados discutindo a necessidade de construir blocos independentes e classistas que se enfrentem com o conjunto dos ataques impostos contra nós nos últimos anos e batalhe pela independência política das mulheres, da classe trabalhadora e todos os oprimidos, por um feminismo socialista e por um programa que faça com que os capitalistas paguem pela crise. Queremos neste 8 de março levantar com muita força: Revogação integral de todas as reformas! Direito ao aborto legal, seguro e gratuito! Todo apoio à luta no Peru!

Contra a “unidade nacional” de governos e patrões nossa luta precisa ser independente do Estado e dos governos

Nos últimos dias, a foto do vice presidente do PT, Washington Quaquá, com Pazuello, general e ex-ministro da saúde de Bolsonaro, responsável direto pelas mais de 600 mil mortes notificadas por Covid 19 no país, gerou amplo rechaço. Esse encontro não foi ao acaso e é uma expressão da mesma política de conciliação de classes do PT, apesar de parte do aparato político petista tentar tratar como caso isolado. É um retrato fiel do que significa a sustentação desse regime político podre, fruto do golpe institucional, com a demagogia de "unidade nacional contra o bolsonarismo”.

As medidas tomadas pela extrema direita depois das eleições são execráveis e contaram com a conivência da polícia e do alento das altas cúpulas das forças armadas. Essas ações foram o coroamento do reacionarismo defendido pelo bolsonarismo desde o início do governo, que vão desde o assassinato de Marielle até as milhares de mortes na pandemia, passando obviamente pela tentativa de apagamento da resistência negra e feminina. A repulsa que sentimos dessa extrema direita, não pode vir acompanhada do fortalecimento desse regime político e do autoritarismo do judiciário.

Justamente porque nossa luta em defesa dos nossos direitos, deve nesse momento estar acompanhada pelo combate à todo o legado dessa extrema direita, o que inclui os empresários que financiaram o golpe de 2016 e as ações golpistas pós eleições, assim como da exigência de que se rompa o atual pacto desse regime que garante a impunidade das cúpulas policiais e militares que abriram caminho para o bolsonarismo desde o golpe institucional.

Obviamente que a manutenção das reformas fazem parte desse pacto, onde estão o governo Lula-Alckmin e suas alianças com a velha direita e instituições como o STF, que avançou em seu autoritarismo, proibindo qualquer manifestação em Brasília e de questionamento ao governo, o que certamente irá se voltar contra o conjunto da classe trabalhadora e também do movimento de mulheres. O STF que se colocou contra o piso nacional das enfermeiras e barrou a conquista do piso salarial das professoras de Minas Gerais, conta com juízes que ganham fortunas e que tiveram seus salários aumentados já pelo novo governo, atua abertamente contra as mulheres, atacando o direito ao nosso corpo, impedindo o aborto garantido por lei e perseguindo meninas de 11 e 12 anos, vítimas de estupro.

Entre as milhares de mulheres da saúde que estão se mobilizando, ouvimos relatos de trabalhadoras com mais de 60 anos de idade, 30 de profissão que não conseguem se aposentar depois da reforma da previdência e que com um salário de fome, precisam escolher entre comer ou comprar remédios. A unidade nacional que está sendo reivindicada, segue garantindo lucros e privilégios para empresários, políticos da ordem e juízes enquanto os povos Yanomamis são atacados pelos garimpos e pelo agronegócio. Nesse regime degradado, as mulheres trans sofrem todos os dias com a transfobia e quando denunciam os ataques apanham na cara da polícia, como aconteceu em Pernambuco, e centenas de mães pobres e negras do Rio de Janeiro lutam por justiça para seus filhos, mortos pela violência policial.

Essa casta de privilegiados é o que permite que nosso país seja campeão de feminicídios e não é à toa que logo no início do ano nos indignamos frente ao brutal assassinato de Janaína numa universidade federal do Piauí. Por isso, afirmamos que não podemos ter nenhuma confiança na justiça e nas instituições desse regime: só a mobilização independente da classe trabalhadora com seus métodos pode garantir nossos direitos.

Veja também: Por uma mobilização nacional para impor Justiça por Janaína

Nós mulheres fomos as mais atacadas, com o aumento da precarização do trabalho e o aumento desenfreado dos preços. O atual governo deixa evidente seu compromisso com os patrões e afirma que não vai revogar as reformas feitas contra a maioria da população. Assim como nos 13 anos em que foi governo, conforma alianças com a direita conservadora e mais uma vez se compromete contra o direito ao aborto, uma bandeira da qual os movimentos de mulheres ligados ao PT abriram mão sob a justificativa de um “recuo tático”, que na verdade sempre significou abrir mão da luta por nossas bandeiras históricas em nome da governabilidade.

Sendo assim, é preciso ter claro que para conquistar nossas demandas teremos que lutar nas ruas e nos enfrentar com mulheres liberais como a Simone Tebet, que hoje integra o Ministério do Planejamento e Orçamento do Brasil, faz parte do MDB e apoiou mais de 80% das medidas propostas por Bolsonaro. A representatividade que o feminismo liberal defende como um fim em si mesmo significa que enquanto poucas mulheres ocupam postos de poder a maioria segue sendo super explorada.

Hoje mais que nunca é essencial batalharmos desde a base de nossos locais de trabalho e estudo para trazer os sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais a serviço das demandas das maiorias exploradas e oprimidas, unificando os movimentos de mulheres às classes trabalhadoras, mulheres e homens, cis e trans, negras, brancas e indígenas, efetivos e terceirizados nas ruas. De forma a combater as divisões geradas em nossa classe pelas direções tradicionais das organizações de trabalhadores e dos movimentos de mulheres. Divisões que tem o único interesse de manter burocracias sindicais e de movimentos sociais que separam nossas lutas democráticas das nossas lutas econômicas, desviando nossas lutas para as vias institucionais e retirando assim o potencial explosivo da unidade de trabalhadores e de movimentos sociais contra o capitalismo, o racismo e o patriarcado.

Construa o 8 de março com o Pão e Rosas e faça parte de nosso Encontro aberto!

Viemos expressando essas batalhas por um 8M independente do governo, sem nenhuma confiança nas instituições do Estado capitalista, organizado em cada local de trabalho e estudo para lutar pela revogação de todas as reformas e pelo nosso direito ao aborto legal, seguro e gratuito. Como parte da defesa deste conteúdo, viemos batalhando pela construção de blocos classistas, como em Porto Alegre, sem baixar nossas bandeiras em nome de alianças com a direita e rechaçando a presença de partidos burgueses na organização de nossas manifestações, como PDT, PSB, Rede. Chamamos todas as organizações e ativistas de esquerda que buscam um caminho independente em relação ao governo Lula-Alckmin a marchar junto neste 8M como parte de uma batalha por uma atuação em comum em torno de um programa de independência de classe.

É parte desse programa a revogação de todas as reformas, a luta pela legalização do aborto e também pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial, para enfrentar o desemprego. Contra a violência machista, é preciso lutar pela reversão imediata de todos os cortes de orçamento feitos por Bolsonaro e para impor um plano de emergência de combate à violência que garanta emprego e renda às vítimas, financiado com o não pagamento da dívida pública aos banqueiros. Contra a carestia de vida, defendemos reajuste salarial mensal igual à inflação. Esses e outros pontos são parte da luta das mulheres e de uma resposta operária à crise capitalista, que ataque os lucros capitalistas

Por tudo isso, defender um feminismo socialista hoje é batalhar pela independência política de toda a classe trabalhadora, pela organização desde a base de nossos locais de trabalho e de estudo, por cada demanda das mulheres e também pelas demandas do conjunto da nossa classe, que no Brasil é uma maioria de mulheres e negros, e é a única classe capaz de transformar as raízes dessa sociedade, abrindo caminho para um mundo livre de opressão e exploração.

Pode te interessar: Edições Iskra apresenta Mulheres, Revolução e Socialismo - textos de Marx, Luxemburgo, Kollontai, Lênin, Trótski e outros

Neste 8 de março, levaremos às ruas essas bandeiras e convidamos todas e todes que compartilham dessas batalhas a estarem no Encontro Interestadual aberto do Pão e Rosas no dia 25 de março, se organizando junto com a gente em cada cidade e estado.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias