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JUVENTUDE COM TRABALHADORES | Porque os trabalhadores devem estar no dia 29/05 junto com a juventude?

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

quarta-feira 26 de maio de 2021 | Edição do dia

O ódio compartilhado entre trabalhadores e estudantes contra o governo precisa se converter em unidade operária-estudantil, uma aliança que gera temores. Porque, diferente do teatro da CPI, se estes deixarem de ser meros espectadores e transformarem-se em sujeitos ativos e organizados na mobilização, Bolsonaro, Mourão, e todos os políticos e figurões deste regime golpista estão em perigo. Porque então, a CUT e CTB, grandes centrais sindicais comandadas pelo PT e PCdoB, marcaram uma manifestação para o dia 26, enquanto para o dia 29 se espera uma grande mobilização de estudantes?

Dois mundos, duas classes, uma mesma crise econômica e sanitária. No topo do Brasil, surgiram 20 novos bilionários em meio a intensa pandemia e crise econômica, ao mesmo tempo, o agronegócio espera lucrar R$ 1,142 trilhão em 2021. Lá embaixo, a classe trabalhadora está cansada de ver, todas as semanas, novos recordes de desgraças surgirem nos jornais. O desemprego segue batendo recordes em todas as pesquisas, com mais da metade da população economicamente ativa parada, enquanto que os que conseguiram se manter no trabalho são obrigados a ter jornadas extenuantes de mais de 12 horas, com salários e direitos cortados, sem a mínima proteção contra o vírus.

A extrema pobreza e a fome também batem recordes dia a dia, na mesma proporção em que a inflação dos alimentos sobe, com a carne a preço de ouro. Já Bolsonaro e os militares, se deliciam com carnes vermelhas de corte caro, leite condensado e o aumento em 69% de seus salários, ou até mesmo saem em relaxantes férias, como fez o detestável presidente, que gastou 2 milhões dos cofres públicos com seu “descanso”.

Morreram mais de 450 mil por conta do descaso de Bolsonaro, Mourão, os militares e todos os políticos e figurões desse regime político como o STF, que pretende legalizar demissões massivas nos acordos no 1 a 1 (empresa bilionária de um lado e só um trabalhador do outro, como se tivessem o mesmo poder de negociação), sem sindicato, muito melhor para os patrões. Os que dependem do próprio trabalho para sobreviver, são esmagados entre as ameaças cotidianas dos patrões de um lado e do vírus mortal do outro. Com tudo isso dito, algo fica claro: motivos não faltam para que a CUT e CTB mudem a data de sua manifestação em Brasília do dia 26 para o dia 29. Não só mude a data, como também faça assembléias de base, reuniões nos locais de trabalho, para que se debata toda esta situação e organize grande blocos de trabalhadores nos atos. O trabalhador, que vive um inferno diário nesta pandemia, precisa estar ombro a ombro dos estudantes, pois ambos sofrem do mesmo problema.

Como os cortes nas universidades federais afetam a vida dos trabalhadores?

Para além do efeito mais gritante - hospitais universitários que estão ameaçados de fechar, pesquisas para criar novas vacinas, tratamentos e até equipamentos mais baratos nas UTIs - estes cortes nas federais são parte de uma mesma obra de ataques contra a educação pública: por exemplo, a reforma do ensino médio foi imposta para diminuir os gastos e piorar o ensino básico. O que isto significa? Educação precarizada é sinônimo de mão de obra mais barata para ser explorada. Isto vale o mesmo para os cortes na CNPq e Capes (bolsas de estudos) e para os cortes nas federais que foram mantidos, só que para meses adiante.

Numa economia que um dos mercados mais dinâmicos, com mais surgimento de mão de obra, foi o dos entregadores e motoristas de aplicativo, o trabalho “autônomo” e toda a informalidade - que não garantem nenhum mísero direito sequer, apenas sugam 12 horas por dia da vida de um trabalhador, além de sua dignidade enquanto ser humano - porque gastar com ensino superior? Esta é a lógica do Ministério da Educação, Paulo Guedes e Bolsonaro.

Há coisas mais importantes para eles gastarem, como pagar a dívida pública ilegal e fraudulenta que parasita mais da metade do orçamento federal. Para proteger os lucros imensos que especuladores recebem com os títulos dessa dívida, foram capazes até de impor uma nova lei, a do Teto de Gastos. Foi essa lei, imposta pelo governo golpista de Temer junto ao Congresso, que foi usada pelo MEC como justificativa para os cortes nas universidades federais.

Contudo, é esta mesma lei que justificou e justifica os cortes na educação, na saúde e a draconiana reforma da previdência, votada conjuntamente por os que hoje se colocam como adversários na CPI da Covid. Trabalhadores e estudantes, cuja imensa maioria no Brasil, nas faculdades privadas e públicas, trabalham e estudam, estudam e trabalham, estão pagando a crise capitalista. Para que os amigos banqueiros sigam batendo seus recordes de lucro, que também bateram durante os governos do PT, é preciso que a população pobre e trabalhadora bata recordes de desemprego, fome e mortes diárias por Covid.

Os cortes na federais visam expulsar a juventude pobre e trabalhadora que furou o filtro racista do vestibular para entrar nas universidades, e mandá-la para os postos mais precários de trabalho, ou o desemprego, que nos últimos anos se manteve por volta dos 30% entre jovens brasileiros. O regime brasilero, em seu conjunto, busca avançar com o projeto que o ex-ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, caído em esquecimento, defendeu: “as universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual”.

Diante da reprimarização econômica, a reforma trabalhista e a uberização do trabalho, é preciso também a reformulação da produção da própria mão de obra, que, aos níveis decadentes da crise brasileira, é destinada aos postos de trabalho precários, se não ao desemprego crônico de jovens. Sendo o custo público com a formação de “filhos de porteiros” algo que deve ser extinto, como Paulo Guedes afirmou, pior ainda se for diretamente estatal e não servir aos lucros dos tubarões do ensino.

É necessário unificar a classe trabalhadora e a juventude no dia 29

Diante deste cenário calamitoso, era de esperar que as grandes ferramentas de organização dos trabalhadores existentes, os sindicatos e centrais sindicais, estivessem buscando articular a aliança operário-estudantil para, em um só punho, dar um golpe de força neste regime político que faz da vida de trabalhadores e estudantes um inferno, mas não, pelo contrário. Como já foi dito, as centrais sindicais comandadas pelo PT e PCdoB estão implementando uma política que divide e enfraquece, ao mesmo tempo, trabalhadores e estudantes. Essa política tem por objetivo manter a paralisia entre os trabalhadores, tendo por objetivo eleger Lula nas eleições 2022.

Existe uma chance enorme de que o trabalhador que esteja lendo este artigo, não tenha visto o sindicato em seu trabalho desde o início da pandemia, ou, até mesmo, nunca tenha visto a cara dos diretores sindicais, que nunca apareceram em seu local de trabalho. Isto porque no Brasil, as grandes centrais sindicais, como a CUT e a CTB, mesmo com 450 mil mortos, estão de “quarentena” em suas casas se subordinando à política demagógica do “fique em casa”, mesmo que a luta seja mais do que necessária.

Da mesma maneira, existe uma chance enorme de que o estudante que lê este artigo, não tenha visto sua entidade organizando ativamente, através de assembléias com direito de voz e voto, os estudantes. A UNE, que dirige uma série de entidades através da UJS, vem boicotando a auto-organização dos estudantes, fazendo lives sem direito a que os estudantes expressem suas posições ou votem, mas também a oposição como a UP fizeram o mesmo na Unifesp.

É necessário a máxima democracia entre os que lutam contra os ataques de um regime político autoritário, que foi assentado no pisoteamento do sufrágio universal com o golpe em 2016 e a prisão e retirada de Lula das eleições em 2018. A partir da democracia de base, é possível combater os ataques às universidades e institutos federais e toda a agenda de privatizações e ataques aos trabalhadores, unindo juventude e classe trabalhadora em uma só batalha. As centrais sindicais (CUT e CTB) e a UNE precisam unificar as lutas, e não dividi-las, se colocando de corpo nessa luta, para unir a nossa classe por essas demandas e, para isso, criem mecanismos de coordenação e unificação deste processo. O dia 29 não pode ser um dia de protesto datado, deveria ser o início de uma mobilização real coordenada contra todos os ataques que nossa classe está sofrendo.




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