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América Latina | Protestos contra o governo e a carestia de vida ocorrem no Panamá há mais de duas semanas

Protestos no Panamá estão ocorrendo há mais de duas semanas, protagonizados por professores, trabalhadores da construção civil, estudantes e indígenas, com greves e trancassos de diversas estradas contra o governo subordinado ao FMI, e o aumento do custo de vida. Em meio a pequenas concessões e bastante repressão, o governo tenta negociações por meio da Igreja Católica.

sábado 23 de julho de 2022 | Edição do dia

No início do mês, no dia 07 de julho, se iniciaram intensos protestos da população panamenha contra o governo do fazendeiro Laurentino Cortizo e a carestia de vida que são intensificados pelos acordos de subordinação ao FMI.

Esse processo ocorre em meio à uma crise internacional do capitalismo que teve início em 2008 e se agudizou com a pandemia e, mais recentemente, com a guerra na Ucrânia, afetando toda a cadeia global de combustíveis e alimentos como o trigo. Essa crise tem impactos diretos em todos os países, e desata em fortes processos de luta de classes que já começam a se expressar, desde países atrasados e subordinados ao imperialismo como Sri Lanka, ou países avançados e imperialistas como a Inglaterra. Entretanto, para entendermos mais profundamente o que se passa no Panamá, é necessário ter uma visão geral das condições do país.

O Panamá, um pequeno país da América Central, vive possivelmente sua maior crise desde a invasão estadunidense em seu território em 1989. Um país dependente, tendo sua base econômica na exportação de commodities de minério de cobre e banana para a Guatemala, EUA, China, Holanda e Coreia do Sul; um país que de 2019 para 2020, teve um aumento de mais de 20% na porcentagem do PIB que vai para a ilegítima dívida pública, batendo um número de quase 70% do orçamento indo direto para os bolsos de banqueiros e acionistas; o 12º país mais desigual do mundo (índice de gini de 46,10% em 2018); com uma taxa 18,5% de desemprego no final de 2020; e com uma inflação de 5,2% desde o início do ano, além de um aumento de 47% no preço dos combustíveis se comparado a janeiro, acarretando diretamente no preço da cesta básica.

Todos esses elementos nos dão um panorama maior da situação que a população atravessa, o que motivou o início dos protestos. O processo se iniciou no dia 07 de julho, com a convocatória de uma greve de 72h de professores e professoras em todo o país contra o aumento dos combustíveis, do custo de vida e por melhorias nos serviços públicos de educação e saúde, que depois se converteu em uma greve com tempo indefinido, seguindo até o presente momento. À essa luta, diversos setores foram se somando: uma massiva quantidade de estudantes, principalmente da Universidad de Panamá; diversos setores indígenas que tiveram protagonismo nos piquetes e trancassos de estradas, como a Coordinadora Nacional de los Pueblos Indígenas de Panamá e diversas outras agrupações regionais; e especialmente diversos setores operário e sindicatos, como a Confederación Nacional de Unidad Sindical Independiente (CONUSI), trabalhadores da saúde, e a histórica categoria de luta dos trabalhadores da construção civil, do sindicato Suntracs, que em 2018 realizaram uma gigantesca greve, e que agora chegaram a fazer uma paralisação de 24h; além de setores populares no geral.

As manifestações contam com uma forte expressão de radicalidade, contando com diversas barricadas e piquetes nas principais estradas do país, paralisando a entrada de transportes em cidades como Santiago, La Villa de Los Santos, Aguadulce, Penonomé, la capital, La Chorrera, Changuinola, Chiriquí, San Juan, Tolé, Viguí, San Félix, Ojo de Agua e Escudo, além de fortes marchas na capital Ciudad de Panamá. Uma das principais vias cortadas é a via Panamericana, que conecta o Panamá com a Costa Rica, sendo uma das principais vias para o transporte de mercadorias. Essas paralisações, segundo empresários da agroindústria, só nos 10 primeiros dias já causou um prejuízo de cerca de meio bilhão de dólares para os capitalistas. Além disso, vídeos de carros e viaturas policiais sendo incendiados e destruídos pela população circulam pelas redes!

Os setores que se mobilizam estão aglutinados principalmente nas coalizões políticas da Alianza Pueblo Unido por la Vida e da Alianza Nacional por los Derechos del Pueblo Organizado (Anadepo), que apresentaram uma lista de 32 reivindicações ao governo, dentre elas a diminuição e congelamento dos preços do combustível e dos alimentos da cesta básica para enfrentar a inflação, e o investimento de 6% do PIB nacional para a educação.

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Frente aos protestos, a posição do governo foi de, a pedido de câmaras empresariais como a Asociación Panameña de Ejecutivo de Empresas (Apede), por um lado, desatar uma forte repressão contra os protestantes, com uma série de detidos e feridos, e, por outro, dar pequenas concessões como a diminuição do preço do combustível de U$5,17 para U$3,95 o galão de gasolina (3,78 litros), medida que foi rechaçada nas negociações com o governo e pelos manifestantes que seguem pedindo a diminuição dos preços; no momento o preço está em U$3,25, com os protestos seguindo. Além disso, o governo anunciou que cortaria 10% da folha de pagamento estatal, o que, ao invés de acalmar os protestos, o atiçou, principalmente no setor dos servidores públicos que correm o risco de ficarem desempregados.

Uma medida também conhecida para tentar desviar processos de mobilização, que foi utilizada recentemente no Equador para desmobilizar a rebelião contra Lasso e com um papel central da burocracia sindical da CONAIE, é a negociação entre o governo e os sindicatos por mediação da Igreja, como suposta “facilitadora” de acordos, substituindo a Ministra da Educação, Maruja Gorday, que antes estava sendo mediadora das negociações. A Alianza Pueblo Unido por la Vida e a Anadepo, junto a outras organizações e líderes menores, aceitaram estar numa mesa única de negociação com o governo por mediação de arcebispos da Igreja Católica. A negociação provavelmente ocorrerá nos próximos dias, enquanto isso, os protestos seguem.

Um elemento que também vem sendo uma bandeira das manifestações é a bandeira anticorrupção e de rechaço aos altos privilégios dos políticos da camarilha estatal, por conta do histórico de corrupção dos partidos e políticos burgueses do Panamá de vários anos. Nesta bandeira, entretanto, existem setores da direita que estão tentando se ligar às manifestações como uma oposição burguesa ao governo, como alguns setores de empresários e a presidenta da Câmara de Comércio, Indústrias e Agricultura do Panamá, Marcela Galindo, afirmando que "É urgente que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário ataquem sem cerimônia todos os atos de corrupção, acabam com privilégios e falta de transparência".

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Para que os trabalhadores e a população panamenha consiga arrancar até o final suas reivindicações, para que enfrentem toda a crise descarregada em suas costas pelo imperialismo, pelo FMI, pelos fazendeiros latifundiários, banqueiros e pelo governo de Cortizo, é necessário que levantem um programa capaz de responder a essas demandas. Para isso, este programa tem de ser um programa dos trabalhadores independente de qualquer variante burguesa, seja de oposição ao governo ou não. É fundamental se apoiar nesses protestos para ir em direção à construção de uma grande greve geral nacional que coloque o governo e os capitalistas contra a parede, com a classe trabalhadora levantando as bandeiras de todos os setores oprimidos, como os indígenas, camponeses pobres, mulheres, negros e LGBTQIA+, consolidando essa aliança rumo a um governo de trabalhadores em ruptura com o capitalismo, colocando nas mãos da classe trabalhadora a produção e a distribuição dos recursos para os interesses da população, e não de um punhado de empresários.

Todo apoio à luta do povo panamenho!




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