×

Guerra | Putin assina anexação de quatro territórios ucranianos à Rússia

Se trata de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia. Juntas, essas regiões representam 15% do atual território ucraniano. Essa é parte da política do Kremlin que, após a contraofensiva ucraniana, realiza referendos nesses territórios com resultados questionáveis.

sexta-feira 30 de setembro de 2022 | Edição do dia

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, completou esta sexta-feira a anexação de quatro territórios ucranianos ocupados no leste e sul do país, que representam cerca de 15% do território da Ucrânia ou cerca de 100 mil quilómetros quadrados. São: Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia.

Na cerimônia dessa sexta-feira, Putin disse que a Rússia tem "quatro novas regiões", chamando os moradores das regiões ocupadas de "nossos cidadãos para sempre".

"Esta é a vontade de milhões de pessoas", disse ele no discurso perante centenas de dignitários no St. George Hall do Kremlin.

A assinatura dos tratados ocorreu junto com os líderes de Donetsk, Denís Pushilin; de Luhansk, Leonid Passechnik; de Kherson, Volodímir Saldo, e de Zaporizhzhia, Yevguei Balitski, e com parlamentares como testemunhas.

A sala em que Putin assinou os documentos é simbólica, não só porque é o local dos grandes atos no Kremlin, mas também porque ali o presidente russo já assinou em 18 de março de 2014 o tratado de anexação à Rússia da Ucrânia, península da Crimeia e a cidade de Sebastopol.

A anexação é consumada após os referendos naquelas regiões organizados pelo Exército russo que, segundo o Kremlin, obtiveram entre 87,05% e 99,23% dos votos favoráveis, e que não foram reconhecidos pela Ucrânia ou pelas forças da OTAN.

A celebração desses referendos, que há meses eram uma ameaça da Rússia, se acelerou após o início da contraofensiva do Exército ucraniano no início de setembro e foi confirmada pelo Kremlin em 20 de setembro.

A anexação desses territórios faz parte da política de Moscou para garantir “objetivos intermediários”, agora que ficou claro que a vitória total não é possível. Putin sinalizou que, após a anexação dos quatro territórios, ele consideraria qualquer ataque às forças russas como um ataque à própria Rússia, o que poderia justificar uma resposta que incluísse armas nucleares.

Soma-se a essa escalada, que inclui o espectro de uma conflagração nuclear, o anúncio interno do Kremlin para a mobilização parcial de cerca de 300.000 reservistas, que foi comemorado pelo setor ultranacionalista, mas também gerou protestos em várias cidades com centenas de detidos. É uma tentativa de mostrar uma força que na verdade esconde profundas fraquezas e contradições para o Kremlin.

Em suma, o objetivo do Kremlin é reivindicar uma vitória parcial, buscando minimizar os retrocessos que experimentou em território ucraniano desde o início da guerra, e desde sua primeira ofensiva em Kiev até sua virada para o leste e sul de o país.

A participação da OTAN no conflito, por meio de entregas de armas, financiamento, inteligência e treinamento militar, contribuiu muito para a escalada militar por parte da Ucrânia, que inicialmente deteve alguns dos avanços das tropas russas e depois finalizou a contraofensiva no começo de setembro.

Diante desse impasse estratégico, o crescente isolamento do país em escala internacional e o questionamento aberto de setores ultranacionalistas sobre a forma como a guerra estava sendo travada, levaram o Kremlin a essa nova posição, que não está isenta de contradições, tanto pelo descontentamento interno (como visto nas mobilizações anti-guerra), bem como pela posição em que se mantém na arena internacional.

Enquanto as potências ocidentais e a OTAN anunciavam que não reconheceriam referendos ou anexações, Zelensky aproveitou para exigir mais armas e sanções redobradas. No entanto, o mais preocupante para Putin é que seu parceiro chinês também questionou a atitude da Rússia por meio de seu embaixador na ONU, Zang Jhu, que afirmou que "a China tomou nota dos últimos desenvolvimentos da situação na Ucrânia", "Nossa posição [é] clara e consistente; isto é, a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas”.

O giro que a guerra está tomando é muito sério e marca uma virada histórica na geopolítica mundial. Ameaças do uso de armas nucleares, mesmo que sejam táticas, são um perigo mortal e novamente deixam claro o quão reacionária é a guerra em curso, tanto a invasão russa, quanto a intervenção aberta da OTAN.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias