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Privatização dos Hospitais na USP | Quem ganha com a desvinculação do HRAC?

E se houvesse uma forma de empresas concorrerem no mercado sem correr o risco de arcar com os prejuízos. Esse é o capitalismo sem risco para as Fundações de interesse privado (OSS) que se associam com o Estado: recebem verba pública para administrar hospitais e se tiver prejuízo, quem paga é a população. Veja quem ganha com a desvinculação do HRAC.

segunda-feira 11 de abril de 2022 | Edição do dia

Os negócios e as negociatas de alguns professores da burocracia acadêmica da USP, incluindo o atual reitor, Carlos Gilberto Carlotti, estão ligados umbilicalmente a pelo menos duas Orgaizações Sociais de Saúde (OSS) interessadas em colocar as mãos na estrutura, no patrimônio e no orçamento do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), também conhecido como Centrinho.

Na ultima reunião do Conselho Universitário (CO), o reitor respondeu com uma espécie de ameaça velada, às falas dos nossos representantes que defenderam a revogação da resolução aprovada em agosto de 2014 que desvincula o HRAC da USP e o entrega para a Secretaria Estadual da Saúde.

Segundo o discurso do reitor, a revogação daquela absurda resolução, colocaria em risco os proximos reajustes salariais e a própria saúde financeira da universidade e que, por isso, o melhor seria esquecer o ocorrido em 2014 e olhar pra frente.

Antes de aprofundar sobre o que fica ameaçado, de fato, pela luta contra a desvinculação do Centrinho, vale a pena gastarmos as linhas que se façam necessárias pra desmascarar a desrespeitosa falta de seriedade com que o reitor tem tentado responder aos interlocutores da luta em defesa do Centrinho:

Primeiro o Sr. Carlote diz ao Jornalista Pitoli da Radio Jovem Pan de Bauru que, no caso de ser entregue para a Secretaria Estadual da Saúde, o Centrinho terá preservada toda sua qualidade e sua capacidade de atendimento aos seus pacientes e familiares. De tão raso, o argumento chega a ser vergonhoso. Se o reitor refletisse por um único segundo, ele provavelmente teria se lembrado que todos os equipamentos de saúde sob responsabilidade dessa secretaria foram profundamente sucateados durante os anos de gestão do PSDB de João Doria, Alckimin, Covas e Cia e que, portanto, é no mínimo leviano da parte dele afirmar que com o Centrinho seria diferente. Principalmente depois de o próprio governo ter, primeiro se recusado a receber o HRAC e, depois, declarado recentemente que não tem interesse em ficar com o hospital. O que autoriza o Sr. Carlote a “assumir compromissos” em nome do governo do estado, senão a mais absoluta falta de seriedade?

Mas, a proposta de manter a desvinculação em nome da suposta defesa da saúde financeira da universidade, vai da dissimulação ao cinismo. Ou, que outro nome poderíamos dar, ao fato do reitor propor que a universidade continue cobrindo, como deve ser, a folha de pagamento de mais de quinhentos profissionais que passariam a prestar serviços a custo zero para uma OSS, que pode vir a ser uma das duas fundações de direito privado, que tem como presidentes e/ou ex presidentes do seu conselho curador parte dos professores que integram o Conselho Universitário, que defenderam e votaram a favor da desvinculação?

Mas, deixemos a falta de seriedade contida nas declarações vazias do reitor, e voltemos aos negócios e às negociatas que são, de fato, as únicas coisas ameaçadas pela luta contra a desvinculação do HRAC.

Segundo os dados publicados em reportagem no site da Adusp, a OSS que vencer a disputa pelo espolio do Centrinho, “fará jus a um contrato que prevê verba de R$100 milhões para reformas e mais repasses de R$180 milhões” por ano, o que significa R$1 bilhão em cinco anos.

Ou seja, lá em 2014, o reitor Zago e o Prof. Carlotti, na época diretor da FMRP, ambos associados a OSS chamada Fundação Faculdade de Medicina de RP propuseram, defenderam e votaram a desvinculação do HRAC no Conselho Universitário. Agora, oito anos depois, eles e seus sócios na referida OSS estão tentando abocanhar R$1 bilhão pra assumir a gestão do espolio do HRAC, transformado em Hospital da Clínicas da recém criada Faculdade de Medicina de Bauru, incluindo na conta o valor de uma folha de pagamento de mais de 500 profissionais pagos pela USP. Tem mais. O Prof. Carlos da FOB, ex-superintendente do HRAC, que, junto com a Sra Cidinha, também defendeu a desvinculação do hospital, era, até recentemente, integrante do conselho administrativo da FAMESP, outra das cinco OSS que estão na disputa pela mamata de R$1 bilhão pra gerir o espolio do Centrinho.

A concretização de tal absurdo seria ou não um verdadeiro presente de sócios para sócios? Ou uma desavergonhada e repugnante negociata contra o patrimônio e o erário da USP, em detrimento de mais de 130 pacientes e seus familiares alem de mais de 500 funcionários?

Obviamente, o reitor e seus sócios da Fundação Faculdade de Medicina de RP, assim como seus parceiros sócios da Fundação Faculdade de Medicina da capital que também estão nessa disputa bilionária, olham para a crescente mobilização, nacional e internacional, contra a concretização da desvinculação do HRAC, e só conseguem ver o perigo de perderem a chance de abocanhar, no mínimo, R$1 bilhão.

Mas, a universidade não está constituída apenas por esses adeptos do “capitalismo sem risco”. Ela também tem a sua “banda sadia”. Essa banda sadia se manifesta muito pouco, mas ela é absolutamente majoritária em relação aos representantes das fundações e do capitalismo sem riscos, por isso, em todas as vezes que se levantou em combate a iniqüidades semelhantes, ela impôs seu objetivo.

Portanto, revogar aquela resolução do CO, de agosto de 2014, depende apenas de uma tomada de consciência e de decisão dos funcionários, dos estudantes e da maioria dos professores e das direções de suas entidades representativas. Juntos podemos mobilizar a opinião publica e, com ela, as forças políticas necessárias para impedir a concretização dessa negociata espúria e vergonhosa.




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